sábado, 31 de julho de 2021

310721 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

31 de julho, Osasco. Noite fria de sábado (12º).

Mais um mês se passou. Sobrevivemos. A vida é uma sobrevivência diária para todos os seres vivos, mas a sobrevivência é mais incerta em alguns lugares do mundo e em algumas épocas. 

Neste momento, a vida no Brasil é um pouco mais incerta para os seres humanos do que em outras regiões do mundo e em outras épocas, mesmo aqui. Parte do povo brasileiro decidiu o suicídio coletivo nas eleições de 2018 e, então, o povo está sendo chacinado pelas diversas mortes severinas e o país está sendo destruído diariamente desde 01 de janeiro de 2019 sob o comando da máfia, do crime organizado, de um bando de corruptos e genocidas. O país está sequestrado. Temos um interventor do imperialismo americano no poder aqui. Pois é.

Qualquer indicador econômico, político, social, cultural etc demonstra que a sobrevivência humana era menos incerta durante os governos do Partido dos Trabalhadores, do presidente Lula (2003 a 2010) e da presidenta Dilma Rousseff (2011 a 2016). Como eu disse, o povo decidiu o suicídio coletivo... 

PANDEMIA BRASILEIRA DE COVID-19

Após um ano e meio de pandemia mundial do Sars-Cov-2, o Brasil já perdeu 556.370 cidadãos e cidadãs vítimas do novo coronavírus. Já se contaminaram com o Covid-19 o impressionante número de 19.917.855 brasileir@s. Como os fatos revelados pela CPI da Covid demonstram, o projeto do genocida no poder era matar o povo infectando os mais de duzentos milhões de brasileir@s. A ideia era não gastar dinheiro com vacinação (a não ser com propina, claro). O esquema era uma tal imunidade de rebanho, quem não morresse, ficaria pra contar a história. O bolsonarismo-nazismo está tendo relativo sucesso, pois os números oficiais não são confiáveis e o número de mortos pode ser bem maior. Detalhe: a amplíssima maioria, quase a totalidade dos mortos, são os pobres (e a maioria dos pobres são pretos e pardos). Sem contar que estudos mostram que parte dos contaminados que sobreviveram serão pessoas com sequelas da doença. Imaginem 1/3 dos 19,9 milhões de infectados com doenças crônicas para o resto de suas vidas severinas. As mortes de brasileir@s praticamente dobraram nesse ano e meio de pandemia porque outro monte de gente morreu por falta de atendimento médico. Uma tragédia! Uma delas, porque essa das mortes é só uma das dimensões e efeitos do suicídio do povo brasileiro ao colocar aquele celerado na presidência e uma corja da mesma laia nas instituições de poder.

(Informações sobre Covid-19: Johns Hopkins University)

PAULO LEMINSKI ME FEZ PENSAR

Após uma semana tensa, de uma tristeza meio-que continuada, queria ler algo diferente hoje e pensei em ler Leminski, um dos gênios brasileiros, gênio que teve uma vida breve, intensa e que nos deixou um legado para nos alimentarmos culturalmente e sentirmos o breve instante da vida.

Não deu certo. As interrupções o dia todo não me permitiram ler quase nada. Li alguns poemas do Distraídos venceremos (1987) e comecei a ler uma das quatro biografias que Leminski escreveu, sobre Trótski (1986). 

O começo da leitura sobre a vida de um dos líderes da Revolução Russa me deixou muito pensativo. Cada frase que li continha ouro, pensamentos que me faziam parar e pensar e reler a frase. Nossa! O cara é muito bom na prosa. Eu só tinha lido até agora os poemas dele, já li Poesia Completa (2013), do grande Leminski.

Ele vai começar a falar da Rússia citando Os irmãos Karamázov (1880), de Dostoiévski, que felizmente é um dos clássicos russos que já li. Ele diz que esse clássico é um retrato da Rússia do passado e daquele presente e apontava o que ocorreria quatro décadas depois, a Revolução Russa.

Ele começa a descrever a história da Rússia a partir de 1236, e vamos vendo um filme, com o neto de Gengis Khan, o Khan mongol Batu, conquistando e arrasando tudo que tinha pela frente:

"Unificados pelo gênio político e militar de Gengis Khan, os nômades mongóis saíram aos milhares de suas planícies ao norte da China e caíram sobre a Europa como praga de gafanhotos, matando, queimando, saqueando e destruindo tudo à sua passagem" (p. 248)

Aí eu parei pra pensar. Me lembrei das chamas destruindo a Cinemateca nesta semana. Me lembrei das chamas destruindo centenas de anos de história acumulada no Museu Nacional. Me lembrei das chamas destruindo o Pantanal e a Amazônia. Me lembrei do suicídio proposital do povo brasileiro em colocar o pior ser humano do planeta na presidência do país.

Fiquei com um sentimento esquisito. Fiquei pensando nas extinções das espécies em nosso planeta. Nos povos que já foram dizimados com as invasões de outros povos. Fiquei pensando em outra frase que Leminski disse:

"Não só a história traz a marca dos indivíduos que a fazem. Mas, também, é interiorizada pelos indivíduos que a vivem." (p. 246)

Cara! Donald Trump, Jair Messias Bolsonaro, Adolf Hitler e outros seres humanos, não só os piores do mundo como esses aí, os melhores também, são isso que o Leminski disse. Essa massa ignara, bárbara, ignorante e violenta, chula, que apoia Trump e Bolsonaro está contida no pensamento do Leminski, Bolsonaro está interiorizado nesses milhões de animais humanos brasileiros que o apoiam. 

Ao estudar a história do mundo e ter tentado ser menos ignorante nos últimos trinta e poucos anos de adulto, e ver que o capitalismo venceu nos últimos séculos a disputa de organização da vida humana no mundo, bateu um desânimo profundo em mim, não que me faça desistir de viver ou de tentar fazer a minha parte contra essa merda toda, mas um desânimo da razão, eu sei que as coisas não vão mudar, a vida vai perder. Já está perdendo. Os oceanos estão morrendo. A diversidade na natureza está morrendo. A tecnologia fruto da inteligência humana está sendo usada para acelerar a destruição, e até para manipular e idiotizar os bilhões de humanos que habitam esse único mundo. Poucos caras dominam tudo e eles são as piores espécies de humanos que poderiam decidir o futuro da vida humana e da vida no planeta. Eles só pensam neles e na vida breve deles. Estamos fodidos. Fodidos.

A razão e a consciência que uma minoria politizada tem, minoria que poderia utilizar o conhecimento humano para nos perpetuarmos no planeta, inclusive com sustentabilidade e preservando a diversidade da vida animal e vegetal, não vai nem convencer aqueles poucos que falei acima nem vai chegar ao poder que determina o destino de tudo neste único mundo. O final do livro do neurocientista Miguel Nicolelis, livro que mudou minha forma de ver o mundo e a vida - O Verdadeiro Criador de Tudo - me deixou em prantos porque ele explica sobre isso que escrevi acima. Ele não crava como eu que nosso destino está traçado, que a destruição do planeta está dada, ele diz que temos duas opções, ou interrompemos a destruição do mundo e da vida e nos perpetuamos ou tudo vai se acabar. 

É isso, já chega por hoje. Já chega por esse mês de julho do planeta se acabando, mais rápido em alguns lugares como no Brasil de Bolsonaro.

Como não desisto da vida porque não posso ser egoísta e deixar na mão as pessoas que me amam nem acomodado e só me deixar morrer, corri meus 10 Km hoje. Estou tentando viver e fazer alguma coisa contra o fim de tudo. Pode ser pouco o que faço, mas ao menos registro um pouco dessas coisas.

William


Bibliografia:

LEMINSKI, Paulo. Vida: Cruz e Sousa, Bashô, Jesus e Trótski - 4 Biografias. 1ª ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2013.


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