sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Ulysses - Gado ao sol (O Hospital)



Refeição Cultural

Nesta quinta-feira fiz a leitura do capítulo 14 de Ulysses. Cara, que leitura difícil! Foi trabalhoso ler as 63 páginas do capítulo. Tive que ler a metade de manhã e a outra metade à noite.

No capítulo anterior, Leopold Bloom estava na praia durante o entardecer. Foi um momento surpreendente na narrativa porque conhecemos o lado obsceno do personagem. Fiz uma postagem com alguns comentários, mas ela tem spoiler do capítulo: ler aqui a postagem.

O capítulo 14 é muito doido. Tem uma linguagem complicada em vários momentos. Tem que ter uma concentração absoluta pra avançar no texto.

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BLOOM NO HOSPITAL APÓS A SEM-VERGONHICE DA PRAIA

"E o viandante Leopold Bloom entrou no castelo por se repousar entrementes mal podendo já aturar o peso dos membros depois de muitas marchas em torno de terras várias e algum goivo venério." (p. 607)

LEMBRANÇAS DA MORTE DO FILHO

"Mas dom Leopoldo era mui mal andante apesar de seu dito porque ainda era teúdo de sentir mercê pela grita formidável das mulheres que davam altas vozes durante o parto e porque lembrava de sua boa senhora dele que tinha nome Marion que lhe dera um único filho homem que no seu dia décimo primeiro na vida havia morrido e nenhum homem de arte podido salvar, tão tristos são os fados." (p. 612)

E ENTÃO CHOVEU EM DUBLIN

"Mas dentro em breve, conforme ficou dito, hoje à noite depois do sol poente, havendo vento estável de Oeste, nuvens plenas de considerável tamanho se fizeram à vista no que a noite escurecia e aqueles versados no clima minuciosamente as estudaram e de início alguns relâmpagos e, depois, passadas as dez horas da noite, uma grande rajada com um longo trovão e num piscar de olhos correm todos em grande confusão para dentro das casas fugindo da tromba dágua enfurecida, os homens fabricando cobertas para seus chapéus de palha com um trapo ou um lenço, as filhas de Eva saltitando com vestidos arrepanhados no momento em que caiu o aguaceiro." (p. 620)

JOYCE TAMBÉM FALA COM LEITORES (sublinhado meu)

"Jamais ele esquecerá o nome, para sempre recordará a noite, primeira noite, a noite nupcial. Estão enroscados na mais funda escuridão, cobiçador e cobiçada, e em um instante (fiat!) a luz inundará o mundo. Saltou um coração para o outro? Não, cara leitora. Em um átimo estava feito mas - calma! Para trás! Não pode ser! Aterrorizada a pobre moça foge através do nevoeiro. Ela é a noiva das trevas, uma filha da noite. Não ousa portar o solar bebê dourado do dia. Não, Leopoldo. Nome e memória te não trazem solaz. A juvenil ilusão de tua força de ti foi tirada e em vão. Filho algum de tuas entranhas é contigo. Não há ninguém que agora seja para Leopoldo o que Leopoldo foi para Rodolfo." (p. 644)

MORREMOS DE DIVERSAS MORTES SEVERINAS

"É interessante porque, como ele pertinentemente observa, nascemos todos da mesma maneira mas todos morremos de maneiras diferentes. O senhor M. Mulligan (Hyg. et Eug. Doc.) culpa as condições sanitárias em que nossos cidadãos de alento gris contraem adenoides, males pulmonares etc. ao inalar as bactérias que se emboscam na poeira..." (p. 651)

POR QUE ALGUMAS CRIANÇAS MORREM?

"Contudo a simples e direta questão de por que uma criança de pais com saúde normal e aparentemente saudável ela também e adequadamente tratada sucumbe incompreensivelmente na tenra infância (conquanto outros filhos do mesmo casamento não sucumbam) deve certamente, nas palavras do poeta, dar o que pensar." (p. 652)

DARWINISMO?

"A natureza, com isso podemos contar, tem suas próprias razões boas e relevantes para o que quer que faça e com toda probabilidade tais mortes são devidas a alguma lei de antecipação pela qual organismos (...) tendem a desaparecer em um estágio cada vez mais precoce do desenvolvimento, uma disposição que, embora produza dores para alguns de nossos sentimentos (destacadamente o maternal), é não obstante, acreditam alguns de nós, a longo prazo benéfica à raça em geral ao garantir de tal maneira a sobrevivência do mais forte." (p. 652)

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ENFIM, vencido mais um capítulo de Ulysses. Ainda faltam quase 500 páginas... sério mesmo! É uma senhora tarefa a leitura desse clássico que dizem que revolucionou a literatura no século vinte.

Leiam, leitoras e leitores. Por mais difícil que seja a leitura de alguns livros clássicos, saímos melhores e diferentes após a aventura.

William


Bibliografia:


JOYCE, James. Ulysses. Tradução de Caetano W. Galindo. 1ª ed. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012.

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