quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Fulano, conto de Machado de Assis (1884)



Refeição Cultural

"Trinta contos para quê? Para servir de começo a uma subscrição pública destinada a erigir uma estátua a Pedro Álvares Cabral. 'Cabral, diz ali o testamento, não pode ser olvidado dos brasileiros, foi o precursor do nosso império.' Recomenda que a estátua seja de bronze, com quatro medalhões no pedestal, a saber..." (p. 270)


Em meu contato diário com Machado de Assis, hoje li o conto "Fulano", um dos 50 contos escolhidos por John Gledson para o livro 50 contos de Machado de Assis (2007).

O conto foi publicado em 1884, na Gazeta de Notícias do dia 4 de janeiro. Depois ele saiu no livro Histórias sem data

A estória se passa no tempo presente da publicação, o personagem Fulano Beltrão faleceu no dia 2 de janeiro de 1884, com pouco mais de 60 anos de idade, e um narrador vai falar a respeito do falecido enquanto aguarda a abertura do testamento pelas autoridades competentes. 

Machado já é um escritor conceituado e muito conhecido no Brasil e já publicou obras de grande sucesso como Memórias póstumas de Brás Cubas, primeiro em folhetins (1880) e depois em livro (1881).

AMOR DA GLÓRIA, DESEJO DE NOMEADA

Machado explora magistralmente no conto a questão da vaidade e do orgulho. Na postagem que fiz anteriormente sobre os primeiros capítulos do Brás Cubas, citei o "desejo de nomeada" por trás da invenção do emplasto milagroso (ler aqui).

Outra questão em destaque são as referências em eventos ou datas históricas do Brasil. Machado cita personagens da política do Segundo Reinado, dos gabinetes liberal e conservador dos anos de 1860. Cita a Guerra do Paraguai. As notas de John Gledson são importantes para nós leitores nos situarmos no contexto da estória, do enredo.

ESTÁTUA DE PEDRO ÁLVARES CABRAL

A coincidência com os dias atuais ficou por conta da estátua em homenagem ao navegador Pedro Álvares Cabral, incendiada nesta semana no Rio de Janeiro. A estátua está no Largo da Glória e foi inaugurada em 13 de maio de 1900, em referência aos quatrocentos anos da chegada dos portugueses ao Brasil.

Por uma coincidência na leitura de Machado no dia de hoje, 26/8/2021, o conto cita um projeto para a confecção de uma estátua em homenagem a Cabral. Essas coincidências na vida dos leitores de livros são coisas pra lá de interessantes!

O projeto da estátua foi um dos desejos do personagem falecido, Fulano Beltrão, que deixou para isso trinta contos de réis.

A estátua queimada no Rio de Janeiro pode não ser a mesma da discussão interna do conto de Machado, mas o Rio inaugurou uma estátua de Cabral 16 anos depois do conto "Fulano".

Ler é isso! Ler Machado de Assis é assim, um novo conhecimento a cada leitura.

Leiam os clássicos, amigas e amigos leitores! É melhor ler do que não ler os clássicos.

William


Bibliografia:

ASSIS, Machado de. 50 contos de Machado de Assis. Seleção, introdução e notas John Gledson. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 14ª reimpressão, 2015.


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