segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

42. As aventuras de Robinson Crusoé - Daniel Defoe



Refeição Cultural - Cem clássicos

Concluída a leitura de Robinson Crusoé. Mais um clássico da literatura mundial lido e incluído em meus conhecimentos literários.

Encerro este ano de leituras literárias com algumas realizações importantes em meu percurso de leitor. Agora conheço dois clássicos que por muito tempo me incomodou muito o desconhecimento de ambos: Moby Dick e Robinson Crusoé. Dois livrões enormes!

Uma postagem como essa contém algum tipo de spoiler. Então, caso alguém não queira saber sobre a obra porque vá ler o romance, é melhor não ler a postagem.

ROBINSON CRUSOÉ

Li o clássico de Daniel Defoe entre os dias 11 de novembro e hoje, 27 de dezembro. O livro foi publicado em 1719. Achei que a estória não acabaria nunca mais depois da metade do livro. Aquilo que imaginava a respeito do romance - um náufrago perdido numa ilha deserta - foi até a metade da história do personagem. Agora sei o quanto foram longas as aventuras de Crusoé.

Antes de mais nada, é necessário registrar sempre minha admiração por alguém conseguir escrever um romance e publicá-lo séculos atrás. As dificuldades de sobrevivência do próprio escritor, de confecção de textos literários ou filosóficos, de publicação dos textos e ideias do escritor são coisas quase inimagináveis para um cidadão do mundo no século XXI. E não quero dizer com isso que não existam dificuldades hoje para se produzir e publicar um livro.

O livro é dividido em 36 capítulos. A técnica narrativa é no formato de diários e memórias do personagem principal, Robinson Crusoé, um cidadão inglês dos séculos XVII e XVIII. Ao longo das narrativas, Crusoé fala com o leitor, antecipa que vai contar tal coisa mais pra frente e deixa claro que narra de forma cronológica as aventuras.

Entre os capítulos I e XVIII conhecemos as desventuras de Crusoé, que deixa a casa de seus pais de classe média para se aventurar pelos mares do mundo. Crusoé atribui à Providência tudo que lhe ocorre, tanto de bom quanto de ruim. Naufraga algumas vezes, até que se vê sozinho numa ilha na região do Caribe. 

Depois de muitos anos sozinho, passa a conviver com um nativo local, ao qual lhe dá o nome de Sexta-Feira. Aos poucos vão aparecendo mais personagens em "sua" ilha.

Na outra metade do livro, do capítulo XIX ao XXXVI, Crusoé nos conta sobre suas aventuras ao redor do mundo. O inglês foi para Madagascar, para o Oriente e para a Ásia. Visitou a China, a Rússia, Camboja e vários lugares do mundo até os 72 anos de idade.

A obra toda foi marcada por um ponto de vista religioso, o olhar de um protestante. Uma visão cultural de superioridade de determinada crença religiosa, o cristianismo, em relação às demais formas de mitos e crenças de diversos povos do mundo.

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"Imaginava eu durante a viagem que ao passo que nos avizinhássemos da Europa, encontraríamos povos mais civilizados e regiões mais povoadas. Não sucedeu como eu julgava. Passamos ainda pela região dos tártaros tongues, onde vimos os mesmos vestígios de paganismo grosseiro, em algumas partes talvez mais pronunciado do que o outro que nos causou tanta náusea. Diferenciam-se apenas dos mongóis em ser menos insolentes e perigosos; mas em compensação não cedem a nenhum outro povo bárbaro do mundo na grosseria das maneiras, na idolatria e no número das suas divindades, que é prodigioso..." (p. 507)

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LUGAR DE FALA - Uma característica marcante no romance e no personagem é o lugar de fala deles: Crusoé (e eu diria seu autor) é um homem branco inglês, protestante, oriundo de um país colonizador na época das grandes navegações e descobrimentos de novas terras no mundo por parte dos europeus. 

Sim, é uma obra de ficção, mas quem disse que obras ficcionais não têm lugar de fala, ou do autor, ou da personagem, ou da época, do contexto, do lugar de origem etc. Robinson Crusoé é um romance inglês do início do século XVIII.

O leitor vai lendo o romance e conforme sua formação intelectual e política vai tomando birra do personagem, o náufrago inglês. Robinson Crusoé se acha representante do melhor e mais evoluído povo do mundo. São melhores que tudo e que todos, o mundo para além da Inglaterra é lixo pra ele (eles).

Sexta-Feira, o nativo, nunca foi mais que um mero serviçal, escravo de Crusoé. As aventuras vão ocorrendo e o cara se vê na China falando mal dos chineses e falando que as muralhas da China são uma merda. Depois ele vai falar a mesma coisa do povo russo, tudo gente bárbara pra ele. Durante seus acessos de arrogância e intolerância, destrói ídolos religiosos de outros povos, e a justificativa é que a abstração religiosa do povo dele - a fé cristã - é a verdadeira (!?).

Em termos de construção narrativa e de conteúdo histórico gostei bem mais de Moby Dick, do norte-americano Melville. Ele traz mais curiosidades históricas do que o romance de Defoe. 

Os dois romances são enormes, envolvem aventuras pelos mares do mundo e são bem diretos ao demonstrarem como nós humanos lidávamos (e lidamos) com a natureza (nós, os bárbaros): somos uns destruidores de tudo. Nesse sentido, a leitura vale muito a pena.

As aventuras de Robinson Crusoé não foi uma leitura prazerosa. Mesmo assim, valeu a leitura do romance. Vamos adiante lendo e conhecendo os clássicos.

William


Bibliografia:

DEFOE, Daniel. As aventuras de Robinson Crusoé. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005.

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