sábado, 25 de dezembro de 2021

Lugar de fala (e Feliz Natal)



Refeição Cultural

Osasco, 25 de dezembro de 2021.


Nunca é tarde para aprendermos alguma coisa. Ouvi uma entrevista de Guilherme Terreri, mais conhecido por Rita Von Hunty, do canal Tempero Drag, entrevista ao portal Phenno, falando a respeito do conceito de "lugar de fala" e percebi que eu não sabia o que significava corretamente o conceito. Sugiro que as pessoas que queiram ouvir as explicações a respeito do tema ouçam o vídeo na internet. É fácil localizar.

Sou um homem branco, tenho mais de cinquenta anos, tenho remuneração mensal certa e moradia própria. Avalio que sou heterossexual e sou ateu. Será que poderia ou deveria falar sobre racismo, pessoas LGBTQIA+, feminismo, xenofobia, religião e fé, movimento das pessoas sem teto ou sem terra ou qualquer outra questão que envolva grupos e segmentos humanos?

Pelo que Rita Von Hunty (Guilherme Terreri) explicou aos ouvintes da entrevista, posso e devo me manifestar sim sobre essas questões e todas as demais questões, até porque todas as pessoas são livres para se manifestarem sobre o que bem entenderem. 

Ficar atento ao lugar de fala é algo importante para os ouvintes de determinado discurso para saberem identificar de onde vem aquele discurso. É uma lupa que ajuda e ver o lugar daquela fala. A fala não é neutra, nenhuma fala é neutra, ela tem "sexo, gênero, raça, cor, classe social...". Essa explicação de Rita Von Hunty é fundamental.

E seria danoso avaliarmos que só mulheres podem falar sobre questões das mulheres, que só negros podem falar sobre as questões das pessoas negras etc. Uma das justificativas para se deixar essas temáticas em bolhas é dizer que só quem vive a questão pode falar sobre ela... Já pensou se só suicidas pudessem falar sobre a questão do suicídio?

Não vou tentar resumir o que Rita Von Hunty nos explica com toda aquela didática e conhecimento que já conhecemos. Na entrevista, nos é explicado de forma simples que o importante no lugar de fala é sabermos se o lugar do discurso da pessoa traz estudo e conhecimento também, além de costumes, preconceitos, mitos, crenças etc. 

Os exemplos que Rita nos dá são excelentes para esclarecer o conceito. O falecido Clodovil, conservador de direita, seria nossa referência para falar sobre LGBTQIA+? Aquele sujeito bolsonarista inominável na Fundação Palmares seria nossa referência para falar das causas dos negros e negras do Brasil? 

Profissionais de saúde que estudam e trabalham com a questão do suicídio podem e devem falar sobre o tema, por exemplo. Um homem branco que estuda e milita nas causas contra a discriminação e o racismo pode e deve falar sobre o tema. O mesmo serve para qualquer questão de orientação sexual, gênero, raça, religião, xenofobia, desigualdade social etc. Aliás, uma das discussões atuais é que não basta não ser racista, é necessário ser antirracista.

Como eu não poderia falar e ou me engajar em qualquer das grandes causas que os movimentos sociais e de esquerda defendem no cotidiano das lutas se eu passei boa parte da minha vida nessas lutas?

E mais: como eu não poderia falar e opinar sobre religião e fé sendo que passei décadas de minha vida estudando a religião católica, o cristianismo, frequentei ativamente umbanda e candomblé, estudei livros sobre espiritismo, li sobre budismo etc? Posso e devo sim, se eu achar conveniente, me expressar a respeito das religiões e das crenças e fé das pessoas e da não crença em deus algum.

Enfim, obrigado Rita Von Hunty pelo esclarecimento e por compartilhar conosco esses conhecimentos que você nos traz porque estuda, porque milita nas causas, porque atua na educação e na construção de uma sociedade mais justa, igualitária, inclusiva e diversa.

Presente de Natal (rsrs) ganhei da Rita com um novo conhecimento. Natal que significa para o cristianismo o nascimento de Cristo, mas que nas culturas diversas dos últimos vinte séculos significa momentos de confraternização com pessoas que amamos, momento de reflexão sobre a vida, as vidas, solidariedade etc. Viva o Natal! Feliz Natal a todas as pessoas!

(Não é porque sou ateu que não posso desejar feliz Natal para as pessoas que conhecemos e gostamos e até para aquelas que não conhecemos. Eu desejo amor, fraternidade, paz, igualdade, distribuição de renda, tolerância à alteridade, o perdão, oportunidades para todos etc todos os dias de minha breve existência como ser humano)

Feliz Natal!

William


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