sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

44. Razão e sensibilidade - Jane Austen



Refeição Cultural - Cem clássicos

Terminei a leitura do 4º livro do ano. Após ler um autor afegão, um autor russo, um autor indiano, agora li uma autora inglesa, Jane Austen, escritora que viveu entre o final do século XVIII e o início do XIX, falecendo relativamente jovem, aos 41 anos de idade.

Peguei o romance Razão e sensibilidade para ler no início de 2019 e após ler mais da metade do livro parti para outras leituras sem finalizar a obra. O romance é dividido em três partes e eu estava terminando a parte dois. Neste início de ano decidi pegar alguns livros de leitura inacabada e finalizá-los. O livro de Austen foi um deles.

Achei uma anotação interessante nas páginas do livro. Disse que era importante ler Jane Austen dentro de meus objetivos de ler os clássicos, mas que sentia uma necessidade grande de ler Moby Dick, Gulliver e Robinson Crusoé. Não larguei Austen no meio para lê-los em 2019, mas ano passado li dois deles. Agora falta Gulliver.

RAZÃO E SENSIBILIDADE

O romance narra a estória da família Dashwood, mãe e três filhas, tendo como protagonistas Elinor e Marianne. Além da sra. Dashwood e da filha Margaret, as irmãs têm um meio irmão, John Dashwood, do primeiro casamento do pai delas. Quando o pai das meninas morre, a propriedade e as rendas dele ficam para o filho homem e as quatro mulheres têm que deixar a casa da família e mudar o estilo de vida.

Austen, que assina seus romances com o pseudônimo de "By a Lady", descreve como é a vida das mulheres naquela sociedade inglesa. As mulheres são coisas, são mercadorias para arranjos entre famílias para manutenção e ampliação de propriedades e rendas através de casamentos. 

Pela literatura podemos conhecer um pouco das características das sociedades. Foi essa a impressão que tive através deste clássico inglês e das leituras anteriores, quando mergulhei no Afeganistão da 2ª metade do século XX (Khaled Hosseini), na Rússia do final do século XIX (Anton Tchekhov) e na Índia atual (Aravind Adiga).

A Razão

"Elinor, a filha mais velha cujo conselho fora tão acertado, tinha um poder de compreensão e uma firmeza de julgamento que a haviam tornado, apesar de ter apenas dezenove anos, conselheira da mãe e a qualificavam para contrabalançar, em proveito das quatro, a ligeireza de raciocínio da sra. Dashwood, que comumente a levava a cometer imprudências. A srta. Dashwood tinha excelente coração - era afetuosa e de sentimentos fortes, mas sabia como controlá-los. Esta era uma sabedoria que a mãe dela ainda estava por adquirir e que nenhuma de suas duas irmãs se mostrava interessada em aprender." (p. 12)

A Sensibilidade

"As habilidades de Marianne eram, em alguns aspectos, quase iguais às de Elinor. Era sensível e inteligente, mas descontrolada: suas tristezas e suas alegrias eram intensas e sem a menor moderação; generosa, amável e atenciosa, ela era tudo, menos prudente. A semelhança física entre Marianne e a irmã impressionava.

Elinor via com grande consternação o excesso de sensibilidade da irmã, porém a sra. Dashwood valorizava e estimulava esse traço de caráter..." (p. 12/13)

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Curiosidades e costumes

PALITEIRO DE DENTES

"No entanto, a correção dos olhos e a delicadeza do gosto desse senhor situavam-se muito aquém do cavalheirismo. Ele queria adquirir alguns estojos para palitos de dentes com determinados tamanhos, formas e ornamentos...

(...)

Afinal, a decisão foi tomada. O marfim, o ouro, e a madrepérola foram os escolhidos e o cavalheiro informou qual seria o dia máximo até o qual sua existência poderia continuar sem os estojos de palitos de dentes." (p. 210/211)

Perceberam a ironia de Austen?

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MULHER MERCADORIA

"(...) Acredito que ele deve encontrar-se indeciso até o presente momento; a pequena fortuna que você tem como dote deve estar fazendo com que ele hesite; os amigos devem tê-lo advertido a respeito. Mas algumas daquelas simples atenções e encorajamento em que as mulheres são tão hábeis irão fisgá-lo, apesar de ele mesmo." (p. 213/14)

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UMA SOCIEDADE DE GENTE DESQUALIFICADA

"(...) Contudo, não existia uma desgraça particular nisso, uma vez que era esse o caso da maioria dos convidados; quase todos deixavam de ser agradáveis por apresentar uma dessas desqualificações: falta de razão, natural ou adquirida, falta de elegância, falta de espírito e falta de caráter." (p. 223)

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FAMÍLIA, PROPRIEDADE E ESTADO (COMO JÁ DIZIA ENGELS)

"(...) A mãe explicou-lhe suas generosas intenções, se ele se casasse com lady Morton; disse-lhe que, quando casados, se instalarão na propriedade de Norfolk que, livre de impostos territoriais, rende bem umas mil libras por ano; quando o caso tornou-se desesperado, ofereceu-lhe uma pensão de mil e duzentas libras. Em oposição a tanta generosidade, caso ele persistir naquele relacionamento inferior, a penúria irá esperar pelo casal. Suas próprias duas mil libras é tudo que ele terá; a mãe nunca mais quererá vê-lo e, além de não lhe oferecer a menor assistência, caso ele venha a dedicar-se a qualquer profissão, a sra. Ferrars fará o que puder para impedir que ele progrida no trabalho." (p. 257)

Entenderam como vive essa burguesia nojenta, ontem e hoje? De rendas, de propriedades, do Estado e da exploração daqueles que produzem essas riquezas todas.

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BIBLIOTECAS, LEITORAS E LEITURAS

"(...) e Marianne, que sempre tinha o dom de descobrir a biblioteca em qualquer casa que se encontrasse, mesmo que não costumasse ser utilizada pela família, não demorou a estar com um livro nas mãos." (p. 293)

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VOU SEGUIR LENDO OS CLÁSSICOS

Enfim, mais uma lacuna cultural preenchida. Agora já conheço pelo menos uma obra de Jane Austen. Espero conhecer ao menos uns 20 autores e autoras e obras clássicas neste ano de leituras.

William


Bibliografia:

AUSTEN, Jane. Razão e sensibilidade. Tradução: Therezinha Monteiro Deutsch. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2002.


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