quarta-feira, 9 de março de 2022

Leituras sobre Karl Marx



Refeição Cultural

Devagarinho, bem devagarinho, vou lendo um pouquinho sobre Karl Marx. O material de estudo escolhido é o livro de José Paulo Netto - Karl Marx: uma biografia (2020), da Editora Boitempo. 

Após ler intensamente no ano que passou - li 57 obras -, decidi focar nos afazeres domésticos adiados por longo tempo e tratar da questão até o fim e, com isso, 2022 não será para mim um ano de leituras de livros. Lerei obras assim só de forma esporádica, de vez em quando.

Assim sendo, fico bem ao saber que sei um pouco mais de Marx a cada pedaço de leitura que faço.

Do livro de José Paulo Netto, já li a "Apresentação", feita por João Antonio de Paula, a "Nota do autor", muito importante porque ali ocorre o contrato entre nós leitores e ele, e estou seguindo as orientações dadas ali, estou lendo nota por nota e ao fim serão 200 páginas de notas explicativas ou que agregam informações ao conteúdo principal.

Já terminei o capítulo I - "Adeus à miséria alemã (1818-1843) e estou indo para a parte final do capítulo II - "Paris: a descoberta do grande mundo (1843-1844)".

Esta semana li "Os Cadernos de Paris". E a cada trecho ou capítulo mais aumenta minha admiração por Karl Marx. Que figura notável, mesmo aos 26 anos de idade!

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Os Cadernos de Paris

O professor Netto nos diz que Marx escreveu de forma concomitante os Cadernos e os Manuscritos no primeiro semestre de 1844 (p. 88). Esta parte que li tratou dos Cadernos

O que seriam os Cadernos?

"os Cadernos certamente devem ser vistos como parte daquele 'laboratório teórico' a que já aludimos: são anotações e extratos de leituras, glosas, pistas críticas e alguns desdobramentos analíticos, tudo sob uma forma que indica não ser material para publicação, mas para utilização futura;" (p. 88)

Marx vai tratar mais densamente da questão da alienação nos Manuscritos, mas já adianta algumas reflexões nos Cadernos.

Em uma das notas [195], Marx diz que "A humanidade se situa fora da economia política e a inumanidade dentro dela" (p. 91). Anotei no livro que a nota 38 de Netto seria boa para citar. Aqui vai ela:

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O TRABALHADOR COMO UMA RÊS, UM CAVALO (subtítulo meu)

"Leia-se: 'A Economia Nacional conhece o trabalhador apenas como animal de trabalho, como uma rês reduzida às mais estritas necessidades corporais' [255]. Para Ricardo, diz Marx, 'as nações são apenas oficinas da produção, o homem é uma máquina de consumir e produzir; a vida humana um capital; as leis econômicas regem cegamente o mundo'; e, citando Eugène Buret: 'Para Ricardo, os homens não são nada, o produto tudo' [279]. Leia-se mais: aquela economia estabeleceu 'o princípio de que ele [o trabalhador], tal como qualquer cavalo, tem de ganhar o bastante para poder trabalhar. Ela não o considera como homem' [253]; para ela, 'as necessidades do trabalhador são apenas a necessidade de o manter durante o trabalho e na perspectiva de que a raça dos trabalhadores não se extinga' [324]" (p. 551)

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Forte isso, heim!

Marx cita as teses de David Ricardo, mesmo sendo de uma crueza incrível, porque reconhece que o economista foi sincero na descrição de como a economia política vê a classe trabalhadora: "o trabalhador é mero instrumento de produção de lucros" (p. 92).

A maior parte das notas (12 delas) dos Cadernos vão tratar de alienação dos homens.

NETTO: "Em todas as outras doze notas, as reflexões de Marx estão conectadas a uma problemática de fundo: a alienação dos homens quando as suas relações sociais se desenvolvem sob o regime da propriedade privada. Tal problemática - que marcará visceralmente os Manuscritos - vincula o conteúdo dessas doze notas." (p. 93)

Depois Marx aborda a questão do dinheiro e a relação com a propriedade privada.

Por fim, vem a questão de o homem como ser genérico em contraponto ao homem egoísta da economia política.

"Marx deixa claro que é ao ser genérico do homem que corresponde a verdadeira comunidade dos homens, comunidade que é impensável numa 'sociedade de atividades comerciais'." (p. 96)

Termino esse registro de leituras citando uma fala de Marx à página 98 do livro, citada por Netto, avaliando como seriam ou serão as coisas quando os homens produzirem "como homens", ou seja, quando a propriedade privada for suprimida:

MARX: "Suponhamos que produzíssemos como seres humanos - cada um de nós haveria se afirmado duplamente na sua produção: a si mesmo e ao outro. 1º) Na minha produção, eu realizaria a minha individualidade, a minha particularidade; experimentaria, trabalhando, o gozo de uma manifestação individual da minha personalidade como um poder real, concretamente sensível e indubitável. 2º) No teu gozo ou na tua utilização do meu produto, eu desfrutaria da alegria espiritual imediata, através do meu trabalho, de satisfazer a uma necessidade humana, de realizar a essência humana e de oferecer à necessidade de outro o seu objeto. 3º) Eu teria a consciência de servir como mediador entre ti e o gênero humano, de ser reconhecido por ti como um complemento do teu próprio ser e como uma parte necessária de ti mesmo, de ser aceito em teu espírito e em teu amor. 4º) Eu teria, em minhas manifestações individuais, a alegria de criar a manifestação da tua vida, ou seja, de realizar e afirmar, na minha atividade individual, a minha verdadeira essência humana, a minha sociabilidade humana [Gemeimwesen]. [221-2]" (p. 98)

Por conceitos e objetivos assim vale a pena lutar e viver...

William


Bibliografia:

NETTO, José Paulo. Karl Marx: uma biografia. 1ª ed. - São Paulo: Boitempo, 2020.

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