quinta-feira, 23 de junho de 2022

Formação Econômica do Brasil - Celso Furtado (XIII)

Terceira parte

Economia escravista mineira (século XVIII)

XIII. Povoamento e articulação das regiões meridionais

Vimos com Celso Furtado o cenário da colônia portuguesa durante os primeiros duzentos anos. Sem encontrarem ouro e prata como os espanhóis na meseta mexicana e na região andina, os portugueses desenvolveram a atividade da monocultura da cana-de-açúcar em larga escala. Além dessa atividade econômica, outras duas foram centrais nos dois primeiros séculos: a venda de seres humanos capturados no Brasil - povos originários - e a criação de gado, tanto para movimentar moendas e cargas quanto para subsistência.

No século seguinte, o XVIII, se desenvolve a atividade de mineração e ela tem características bem distintas em relação às outras. Na produção de açúcar era necessário muito recurso financeiro porque a produção era em larga escala, então havia pouca migração de europeus pra cá. Na mineração, sem a necessidade de altos investimentos, ocorreu uma grande migração de europeus pra cá, principalmente de portugueses.

"Com efeito, tudo indica que a população colonial de origem europeia decuplicou no correr do século da mineração. Cabe admitir, demais, que o financiamento dessa transferência de população em boa medida foi feito pelos próprios imigrantes, os quais eram pessoas de pequenas posses que liquidavam seus bens, na ilusão de alcançar rapidamente uma fortuna no novo eldorado." (p. 78)

A nota 69 dá conta dos números da população no Brasil em 1600 (100 mil), em 1700 (300 mil) e em 1800 (3,25 milhões). Nos primeiros dois séculos, 1/3 era de europeus. Furtado estima que cerca de 300 mil a meio milhão de europeus (maioria portugueses) migraram pra cá no século da mineração. 

Furtado explica que na mineração eram maiores as chances de colonos brancos sem grandes propriedades obterem êxito e se darem bem. Inclusive escravos conseguiam comprar sua liberdade quando trabalhavam na lavra para um senhor de escravos.

"Ao estagnar-se a economia açucareira, as possibilidades de um homem livre para elevar-se socialmente se reduziram ainda mais. Em consequência, começou a avolumar-se uma subclasse de homens livres sem possibilidade de ascensão social, a qual em certas épocas chegou a constituir um problema. Na economia mineira, as possibilidades que tinha um homem livre com iniciativa eram muito maiores." (p. 79)

COMENTÁRIO MEU: alguns "empreendedores" se deram bem e viraram proprietários e comerciantes (tipo Paulo Honório, do romance São Bernardo, de G. Ramos), as maiorias não. Esses homens livres e sem posses seriam os futuros jagunços e capitães do mato, seriam agregados das casas-grandes, seriam os macunaímas nos séculos seguintes... Seriam brancos pobres tipo Cândido Neves, do conto machadiano "Pai contra Mãe". 

Características da economia mineira: "A combinação desses dois fatores - incerteza e correspondente mobilidade da empresa, alta lucratividade e correspondente especialização - marcam a organização de toda a economia mineira." (p. 79)

Furtado fecha o capítulo destacando que a economia mineira deu grande contribuição para aquele período integrando as diversas regiões e atividades econômicas de criação de gado, de mulas e burros para transporte e de subsistência.

"A economia mineira abriu um novo ciclo de desenvolvimento para todas elas. Por um lado, elevou substancialmente a rentabilidade da atividade pecuária, induzindo a uma utilização mais ampla das terras e do rebanho. Por outro, fez interdependentes as diferentes regiões, especializadas umas na criação, outras na engorda e distribuição e outras constituindo os principais mercados consumidores. É um equívoco supor que foi a criação que uniu essas regiões. Quem as uniu foi a procura de gado que se irradiava do centro dinâmico constituído pela economia mineira." (p. 81)

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Comentário final

Repito comigo mesmo ao final de cada capítulo: como fica fácil compreender o Brasil do bolsonarismo ao estudar nossa história e nossas origens...

A base da dominação aqui é a violência e a ignorância crassa do povo...

Alguém acha que os dominadores vão aceitar mudanças sem violência pra tomar o poder deles? Eu não acredito nisso!

Somos nós o povão ou eles... não existe a menor chance de conciliação...

William


Leiam aqui os comentários do próximo capítulo.


Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Grandes nomes do pensamento brasileiro. 27ª ed. - São Paulo. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000.


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