domingo, 4 de setembro de 2022

Mãezinha, parabéns pelo seu aniversário! Te amo!



Querida mãezinha, te desejo saúde, felicidades e resiliência!

Hoje é aniversário de minha querida e amada mãe, Dirce Mendes. Após adquirir mais consciência na vida adulta e refletir um pouco a respeito de minha vida, tive a clara certeza de que só cheguei vivo até aqui por causa de minha mãe, pelo que passamos juntos e pelo que ela me passou interiormente, a essência do que sou.

Quando olho para trás, nas diferentes fases de meu viver, lá está ela, minha mãe, como colo para o choro, como porto para ancorar, como saco de pancada... até isso as mães aguentam... minha nossa! 

Mundo mundo vasto mundo, proteja as mães do mundo porque se não fossem elas, nossa espécie já teria sucumbido em guerras multitudinárias de extermínio uns dos outros. Só as mães para acolherem meninos meninas homens e bichos-feras como usamos ser algumas vezes na vida.


EDUCAR SEM VIOLÊNCIA - A lembrança que tenho de meus momentos com minha mãe na infância e início da adolescência de meu viver é uma lembrança de acolhimento na dor e no medo e firmeza no educar, mas uma firmeza sem violência: fui uma criança que não apanhou. Ficar de castigo era uma receita muito mais eficaz que a violência física. Juro pra vocês que vi muita criança ser espancada nos anos setenta e oitenta...

EDUCAR PARA A LIBERDADE - Se minha mãe não me batia e me colocava de castigo, posso me lembrar um pouco da liberdade que eu tinha de estar por aí... até hoje é difícil acreditar que eu passava horas pelas ruas próximas de casa antes dos 10 anos de idade no Rio Pequeno (SP)... me lembro das vezes que voltei pra casa cheio de sangue das feridas que arrumava - latada, pedrada, dentada na cabeça (3 cicatrizes), tombos de bicicleta, de quando fazia merda soltando pipa com cerol...

Depois dos 10 anos, já morando em Uberlândia, vivia pregando sustos na minha mãe também, sair sem dizer aonde iria e a hora que voltaria, voltar ralado por cair de carrinho de rolimã... ir nadar na mina d'água onde gente morria afogada... brigar com moleques de rolar no chão aos socos e pontapés... o Marta Helena era um lugar mais hostil que o lugar de minha primeira infância. O sentimento é que minha mãe me educou para a liberdade.

EDUCAR PARA O LIVRE ARBÍTRIO - E nos anos mais duros de minha vida, lá estava minha mãe ao meu lado, até ouvindo as merdas que eu falava quando estava nervoso, revoltado, querendo quebrar tudo e todos, querendo morrer, matar e se deixar matar... lá estava a mãezinha pra acolher, ouvir, dar seus conselhos de mãe, silenciar ao lado, chorar junto... chorar junto... como choramos juntos por anos a fio... cumplicidade acolhedora de mãe.

(só uma mãe sabe o que é estar ao lado e dando colo a um filho em crise de depressão, pensando as piores merdas, ou mesmo fazendo merdas... minha mãe sofreu as suas dores de mãe quando eu era adolescente em Uberlândia, depois quando era adulto em Osasco e São Paulo... né não, mãe? A senhora se lembra do que sofremos juntos naquela casa alugada da dona Ivone em Osasco... sobrevivemos mãe e estamos aqui!)

---


HERDEI UMA ESPÉCIE DE ESSÊNCIA DE MINHA MÃE: O PERDÃO, A NÃO VIOLÊNCIA E O NÃO BUSCAR A VINGANÇA, A REVANCHE

Como disse no início, quando olho para trás, avalio que alguns traços do que sou, a essência que me fez chegar até aqui vivo e com consciência política, tem uma herança que carrego comigo herdada de minha mãe.

Todos nós nascemos e crescemos no Brasil. Só esse fato nu e cru já nos faz pessoas de difícil natureza, é o que penso sinceramente após décadas de estudos e de relacionamentos humanos. Não se sai ileso ao viver num dos países mais machistas, racistas, preconceituosos, desiguais e violentos do mundo. Não há espaço para inocência nesse meio no qual vivemos. (não quero dizer com isso que as pessoas não sejam inocentes... mas a inocência lhes sai muito cara: a manipulação)

Nunca foi fácil ser mulher pobre no Brasil (como as mulheres de minha família)... nunca foi fácil ser menina negra no Brasil, ainda mais em família de brancos (como minha irmã)... nunca foi fácil ter acesso à educação libertadora sendo pobre no Brasil... nunca foi fácil ser diferente dos padrões da casa-grande no Brasil, nunca! Ontem e ainda hoje é difícil viver no Brasil sem ser um privilegiado!

Dos homens de minha família herdei o que o ambiente nos deu. Mesmo sem sermos ruins ou duros, tínhamos que tentar ser duros, talvez até maus, porque os fracos sucumbem pelo caminho. Os milhões de brasileiros não privilegiados lidam com esse viver do pobre há séculos. Poucos personagens da literatura espelham tão bem esse brasileiro que descrevo: Riobaldo Tatarana, de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.

De minha mãe herdei a bondade, o acolhimento, a cumplicidade e a compreensão do afeto de mãe, a disponibilidade de sempre, o fazer-de-exemplo que educa mesmo sem palavras. A religiosidade que me freou de fazer merdas por umas duas décadas. A ética religiosa dos mandamentos cristãos que me tornou mais "caxias" que muito religioso mesmo sem eu ser religioso... coisa do tipo "não roubarás", "não faça aos outros o que não quer que façam a você...". Enfim, foi a herança de minha mãe que me fez não ser tão mau quando eu quis ser mau no mundo duro que vivemos... até que tivesse a oportunidade de me politizar e ter consciência política após os 30 anos de idade.


Mãe, feliz aniversário e obrigado por tudo que a senhora significa pra mim, pra nós, nessa vida. Te amo e desejo tudo de bom pra senhora, que a senhora siga buscando alguns momentos de paz em seus dias cotidianos tão difíceis quanto ao fato de ser uma mulher no Brasil, que cuida de tudo na casa, que faz tudo pra todos na casa, que mal sobra tempo pra si mesma nos afazeres do lar... mãe, siga firme, ouça suas músicas, tire seu tempo pra fazer suas lições de francês (minha mãe sempre amou todas as formas de cultura, inclusive é uma artista no desenho, na pintura etc).

Mãe, te amo! Um beijo e um abraço virtual, já que estamos longe fisicamente!

William


Nenhum comentário:

Postar um comentário