segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Vendo filmes (X)



Refeição Cultural

Reflexões a partir do contato com filmes e documentários.


Dois filmes vistos por mim nestes dias me impactaram bastante. Fiquei muito pensativo ao mergulhar nas histórias e nas reflexões geradas a partir deles.

Um filme de curta-metragem acompanha a fase final de vida de uma pessoa de grande religiosidade, um líder espiritual. Pensei sobre o período de minha vida no qual acreditava nesta forma de concepção existencial.

Outro filme de forte impacto sobre mim foi O leitor, que aborda a questão do Holocausto, as discussões a respeito da culpa e a forma como pessoas e sociedades lidam com isso. 

Muito atual para nós, que estivemos sob o poder de um governo genocida no Brasil. 

E tem ainda o genocídio dos palestinos há semanas... 

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Ram Dass - A caminho de casa (2017) - Direção: Derek Peck. Documentário acompanha o dia a dia do pesquisador, autor e professor espiritual Ram Dass (1931-2019) em sua casa no Havaí, no que parece ser uma espécie de despedida e passagem para outro plano existencial (Home). De fato, ele viria a falecer pouco tempo depois.

COMENTÁRIO: Assisti a esse curta-metragem (30') meio que por acaso. Entrei um dia na plataforma da Netflix e fui pescado pelo fundo musical e pela voz debilitada do personagem real Ram Dass falando sobre a vida e a morte. Acabei vendo até o fim e à medida que o guia espiritual ia desenvolvendo suas teorias sobre espiritualidade, sobre outras formas de existência para além da existência material etc fui relembrando a pessoa que era nas primeiras décadas de minha própria existência. 

Se eu tivesse pertencido às estatísticas de mortes de homens jovens entre os dez e os trinta anos de idade, eu teria morrido acreditando em tudo o que Ram Dass afirmou em suas reflexões e ensinamentos. 

Porém, quanto mais estudo e reflito sobre o mundo e as formas de vida no planeta, mais tenho consciência dos porquês e necessidades do homo sapiens criar teorias que deem algum conforto e organização para a existência, só o ser humano desenvolveu um cérebro como o nosso, e explicações para tudo passou a ser uma necessidade de nossa espécie. 

Enfim, hoje tenho clareza que não existe mistério algum para a morte. A morte não é um mistério. A morte é a morte, é o fim da vida de um organismo que vivia antes de morrer. Lógico que essa é a minha visão e respeito todas as outras. 

E o mistério? Seria a vida um mistério? Essa dúvida é mais real que a dúvida sobre a morte. Sim, porque tem vidas que sobrevivem de forma inacreditável! Às vezes, é um mistério como determinadas vidas seguem...

Sigamos em busca das respostas para os questionamentos que fazemos sobre as coisas. Os elefantes e as lesmas do mar não estão refletindo sobre isso, eles não têm o cérebro que nós temos.

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O leitor (2008) - Direção: Stephen Daldry. Com Kate Winslet, David Kross, Ralph Fiennes, Bruno Gans e elenco. 

Sinopse da Wikipedia com adaptações: O filme conta a história de Michael Berg (Kross e Fiennes), um estudante alemão que, no ano de 1958, mantém um caso com uma mulher mais velha, Hanna Schmitz (Winslet), até que ela subitamente desaparece de sua vida para ressurgir oito anos mais tarde, no banco dos réus de um tribunal alemão, acusada de ter trabalhado para a SS durante a 2ª GM e de ser uma das responsáveis pela morte de prisioneiras judias. Michael percebe que Hanna guarda um segredo que acredita ser pior que seu passado nazista, um segredo que pode ser crucial para a decisão da corte. O filme é baseado no livro de Bernhard Schlink.

COMENTÁRIO: Quando vi esse filme pela primeira vez, fiquei muito impactado, incomodado. Pensativo. Anos depois, ao rever a história, fiquei do mesmo jeito. Outros contextos, outra época, e a temática do filme segue muito atual. 

A complexidade da personagem Hanna Schmitz (Winslet) é uma metáfora do ser humano atual. O segredo que Hanna guarda consigo é mais importante para ela do que se livrar de uma condenação por crimes de guerra. É uma imagem bem atual do mundo do faz de conta, das aparências que escondem a verdadeira pessoa por trás da apresentação "maquiada" na vida virtual.

O que nos envergonha e nos constrange mais? É uma característica pessoal? É uma habilidade humana que quase todas as pessoas adquiriram e a gente não? É difícil não se sensibilizar com a vergonha de Hanna.

E a temática do Holocausto, então? Minha nossa! Neste momento, o mundo assiste sem saber como parar ao genocídio de um povo por um governo de extrema-direita. O regime sionista de Israel já assassinou desde o dia 7 de outubro de 2023 quase 20 mil mulheres e crianças na Faixa de Gaza, Palestina, e os apoiadores do regime de Netanyahu como os EUA seguem fazendo vista grossa ao genocídio como se ele não estivesse ocorrendo em pleno século 21, ao vivo e televisionado para todos.

A cena do diálogo do aluno de direito revoltado com a hipocrisia daquele julgamento de algumas mulheres que trabalharam para o regime nazista, 6 acusadas sendo julgadas entre 18 mil que trabalharam em Auschwitz como disse o professor de direito interpretado por Bruno Ganz. O aluno aponta a hipocrisia ao dizer que todo o povo alemão e o mundo sabia o que Hitler e os nazistas estavam fazendo nos campos de concentração e não fizeram nada... agora julgavam meia dúzia de mulheres.

Foi inevitável a lembrança do recente regime de lesa-humanidade que tivemos no Brasil, o genocida que ocupou a cadeira de presidente da república foi o responsável direto pela morte de centenas de milhares de pessoas sem atendimento e medidas de governo adequadas ao combate da maior pandemia mundial após um século da peste negra. A Covid-19 matou mais no Brasil que na maioria dos países do mundo por causa do governo do clã miliciano, é o que apontou a CPI instalada para investigar os crimes do governo.

O que estou dizendo é que tem certo sentido a acusação que o aluno de direito faz aos seus concidadãos duas décadas depois do Holocausto - pais, professores, adultos mais velhos - de que eles não reagiram ao que estava acontecendo, foram colaboradores ou no mínimo cúmplices por inação e por fazerem de conta que não sabiam o que estava ocorrendo com as vítimas dos nazistas.

A história do filme vai e volta no tempo, no presente e no passado. A história se passa em 1995, volta a 1958, depois 1966, depois 1976, 1988 e volta ao presente. Enquanto vemos a relação amorosa entre o garoto ("kid") e a mulher mais velha, vamos nos encantando com a temática de o leitor, de alguém que lê para alguém a Odisseia de Homero e outros clássicos da literatura mundial. E no decorrer do filme, a questão da culpa é o que nos toca, é a grande temática na vida dos personagens e da gente.

Como não refletir sobre os bolsonaristas do passado recente, apoiadores incondicionais dos crimes comuns e contra a humanidade praticados pelo governo entre 2019 e 2022? Como lidar com esses mesmos apoiadores que seguem apoiando os malfeitos e as ideias malditas desse regime mesmo após serem descobertas diversas suspeitas de crimes, agora investigadas pela lei? 

Enfim, o filme faz a gente pensar em muita coisa! Muita!


(Post Scriptum na manhã seguinte à postagem: pesquisa Datafolha aponta que 90% dos eleitores de Lula e de Bolsonaro não se arrependeram dos seus votos um ano antes... 90% apoiam o monstro! É sobre isso que estou falando!)

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É isso! Sigamos refletindo e experimentando novas histórias e emoções a partir de filmes e documentários.

O texto anterior sobre filmes que vi pode ser lido clicando aqui.

Abraços amigas e amigos leitores.

William


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