Refeição Cultural
Filmes que me fizeram refletir sobre o comportamento humano e que me deixaram em alerta sobre o presente e o futuro da sociedade humana e do planeta Terra.
Um dos filmes está em cartaz e assisti no cinema, dirigido por Martin Scorsese, sobre a história de assassinatos e manipulações do povo indígena Osage na região de Oklahoma, EUA, no início do século vinte.
O outro filme é do final da primeira década dos anos dois mil, dirigido por Clint Eastwood, e retrata um dos momentos da vida de Nelson Mandela, já liberto e eleito presidente da África do Sul.
Por fim, um filme do início do século, dirigido por Steven Spielberg, sobre um jovem norte-americano que acabou virando um dos maiores falsários e estelionatários dos Estados Unidos, e sua perseguição pelo FBI.
Os três filmes são baseados em fatos reais. Eu gostei de todos eles.
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FILMES
Assassinos da Lua das Flores (2023) - Direção: Martin Scorsese. Com Robert De Niro (interpreta o poderoso "político" William Hale), Leonardo DiCaprio (interpreta Ernest Burkhart, sobrinho de Hale) e Lily Gladstone (no papel da osage Mollie Kile). O filme é baseado numa história real dos anos 1920, em Oklahoma, história relatada em um livro de David Grann. Os indígenas da etnia Osage descobrem petróleo em suas terras e a partir daí os brancos farão de tudo para se apropriarem do ouro negro e das terras indígenas.
COMENTÁRIO: Assistimos ao filme no cinema e a história é tão envolvente que nem percebemos as mais de 3 horas de duração da sessão. A cada novo filme sobre a história dos norte-americanos e a essência do que seria a "América", mais me convenço do quanto os Estados Unidos não são referência alguma para a sociedade humana que vislumbro no planeta Terra. Senti a mesma coisa ao assistir ao filme de Scorsese O irlandês (comentário aqui).
A violência no trato com o outro e a xenofobia, o desprezo pela vida humana e o foco absoluto na acumulação de propriedades ao invés de valorização dos seres humanos são bases sólidas da cultura norte-americana. Para aquele povo ou a maioria dele, tudo tem seu preço, tudo. Fiquei pensando na violência dramática que nós brancos invasores praticamos ao contatar povos originários em qualquer lugar do mundo. Triste demais o enredo do filme, principalmente porque sabemos que o genocídio de indígenas se deu ao longo de séculos de invasões. A direção de Scorsese é sensacional e as interpretações de DiCaprio, De Niro e Gladstone estão excelentes, dignas de premiação.
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Invictus (2009) - Direção: Clint Eastwood. Com Morgan Freeman no papel de Nelson Mandela e Matt Damon no papel do jogador de Rúgbi François Pienaar. Com o fim do regime racial do Apartheid, com eleições nacionais incluindo a participação de todos - brancos e negros -, a África do Sul elege Nelson Mandela presidente da república. O líder sul-africano enfrenta uma situação de crise em todas as áreas do país, incluídas as áreas econômica, política e social, e o racismo segue alimentando o ódio entre brancos e negros. Mandela vê no Rúgbi, um esporte nacional, uma oportunidade para unificar o país e quebrar a barreira racial do povo sul-africano.
COMENTÁRIO: Demorei para ver esse filme. Confesso que assistir em 2023 a esse filme que nos apresenta uma história real de Mandela me fez sentir um aperto no coração, me deixou emocionado e chorei algumas vezes. Por que? Além de ter lido a autobiografia de Mandela e passar a conhecer com mais detalhes a vida e a luta de Madiba e do povo negro sul-africano reunido através do Congresso Nacional Africano (CNA), avalio que homens pacifistas como Mandela, Gandhi e Lula, ainda vivo e maior estadista global, não teriam ou têm, no caso de Lula, espaço num mundo de humanos surdos e robotizados pela mudança de comportamento mental ocorrida nas últimas duas décadas pelas máquinas de redes sociais e suas parafernálias algorítmicas usadas em escala global para alterar o comportamento da espécie humana.
Com a mudança de comportamento humano, o diálogo e a política que fizemos por milênios, ou pelo menos por séculos - que só ocorrem com humanos que ouvem, que se toleram, que estão abertos ao convencimento -, vão se esgotando. As relações humanas tendem a acabar, as amizades, o amor, a solidariedade, os sentimentos nobres.
Ao não sabermos mais conviver com a divergência, voltamos a ser como os animais selvagens na natureza. Os tempos de destruição do cérebro humano são os tempos de canalhas e sofistas manipuladores de gentes ignorantes e abobalhadas, são tempos de trumps, bolsonaros e outros vigaristas como aquele que está disputando as eleições na Argentina neste fim de semana... muito triste tudo isso, vermos o fim de figuras como Mandela e Lula (algum tempo adiante) e não termos reposição de humanos como esses.
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Prenda-me se for capaz (2002) - Direção: Steven Spielberg. Com Leonardo DiCaprio, Tom Hanks, Christopher Walken e demais elenco. O agente do FBI Carl Hanratty (Hanks) persegue de forma obsessiva o vigarista Frank Abagnale Jr (DiCaprio) para colocá-lo atrás das grades. O rapaz é muito esperto e sempre passa a perna no agente do FBI.
COMENTÁRIO: É mais um filme baseado em fatos reais ocorridos nos anos sessenta nos EUA. Achei interessante relembrar como funcionavam os bancos e as formas de pagamento naquela época. O rapaz estelionatário, além de se passar por profissões complexas sem saber nada sobre elas - copiloto de avião, médico pediatra e advogado -, falsificava cheques como ninguém.
Me lembrei do trabalho de bancário nos anos oitenta e noventa. Nós fazíamos cursos para conhecer sobre assinaturas, sobre formas de falsificar cheques e dinheiro etc. No filme, Frank passava cheques em tudo quanto é lugar sabendo até quanto tempo se demorava para compensar o cheque e descobrir que ele era falso. Nós caixas dos anos noventa tínhamos que saber até se o local de emissão do cheque (a praça) era feriado ou não porque isso influenciava em quantos dias o cheque seria pago ao recebedor daquela ordem de pagamento.
Gostei do filme. O jovem DiCaprio interpreta muito bem os papéis que representa desde quando era garoto.
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As sugestões anteriores sobre filmes podem ser lidas aqui.
É isso! Reflexões culturais compartilhadas.
Abraços aos leitores e leitoras!
William Mendes
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