Refeição Cultural
Osasco, 19 de novembro de 2023. Domingo.
Sistematização
Dia desses, avaliando materiais antigos de formação, me chamou a atenção uma apostila da CUT sobre Sistematização. Se esse tema mereceu um curso é porque o tema é importante.
Ao trabalhar na revisão do blog, me deparei com uma postagem de março de 2009, a respeito de leitura que havia feito em um dos livros de escola de meu filho, à época na 8ª série. É um livro de Geografia e por ter pego o livro pra ler, fiz uma postagem. Interessante: eu era um jovem de 40 anos que não havia perdido a curiosidade filosófica em busca de conhecimentos gerais, queria ser um "homem cultivado" como explica Mircea Eliade.
Minha esposa achou o livro em casa e reli o começo dele como havia feito quatorze anos antes (ler postagem aqui). Que texto interessante! Da releitura, me veio à ideia uma percepção que não havia tido antes a respeito do trabalho gigantesco que fiz com os blogs por quase duas décadas: sistematização.
Desse trabalho atual de sistematização dos textos nos blogs, achei um pequeno livro de formação dedicado aos dirigentes sindicais bancários da época, 2009, quando fiz no blog 5 textos resgatando a história das lutas bancárias no Banco do Brasil antes da eleição de Lula e as estratégias que definimos de campanha unificada nos anos dois mil. Modéstia à parte, o texto é um resumo muito bem-feito. Dou até a minha opinião sobre a famosa greve de 30 dias de 2004.
Aí, após ler essa minha produção de campanhas bancárias dos primeiros anos do século, fui sugerir ao amigo e companheiro Carlindo Oliveira que lesse o texto quando tivesse à toa. Carlindo é economista e educador do Dieese e recentemente defendeu tese de doutorado com um estudo profundo das histórias das greves e negociações coletivas no Brasil. São dois livros fantásticos, e ele me deu de presente a obra com uma dedicatória linda!
Então, o Carlindo me devolveu na hora a brincadeira sugestiva: "Beleza, eu leio seu texto e você lê o capítulo 4 e 5 do primeiro volume do meu livro...". Eu estava com outras leituras em andamento, mas quem começou a brincadeira fui eu...
Ao ler o capítulo 4 do livro do Carlindo, vi que o ideal era ir lá na primeira página e seguir dali até o fim. Estou na empreitada. Aí se pensar na palavra "sistematização", não tem como não associá-la ao trabalho hercúleo que Carlindo fez sobre as nossas lutas seculares. Ele sistematizou pra nós, tá lá!, é só pegar e adquirir o conhecimento de um século de greves e negociações coletivas no Brasil.
Voltando aos blogs e minha produção de mais de 5 mil postagens, no momento em que lia de manhã o livro de Geografia, percebi que a questão da sistematização está na base de meu esforço antigo de escrever, de organizar as ideias e as coisas que procurei fazer ao longo de anos de vida dedicada aos estudos e à militância sindical e representação da classe trabalhadora. Meus blogs são uma espécie de sistematização de minhas ideias e de minha vida.
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Cadernos dos blogs |
CASSI - As mais de 500 postagens no blog A Categoria Bancária, do primeiro ao último dia do mandato eletivo que os associados e associadas da Caixa de Assistência nos confiaram, e com o apoio das entidades representativas, é uma sistematização profunda e extraordinária em vários sentidos, muitos deles que só vão sendo percebidos à medida que o tempo passa, e eu reflito a respeito daquela produção intelectual e comunicativa. Acho difícil encontrar similar na história do movimento sindical ao qual pertenci.
À época, o ideal e o desejo de nosso grupo político - a Articulação Sindical da CUT - era que o mandato tivesse alguma forma de comunicação de prestação de contas do que fazíamos na Caixa de Assistência. Já havíamos conseguido eleger algumas companheiras e companheiros em entidades de saúde e previdência dos bancos públicos antes e a comunicação era uma preocupação constante da gente, e eu era da coordenação nacional do movimento ao ser eleito diretor de saúde na Cassi. Eu diria que fiquei numa posição de quem planeja o que deve ser feito e passei a ser o que deveria executar o que planejamos.
Por ser complicado à época ter uma equipe de assessoria em comunicação, mesmo com o apoio das entidades sindicais - por uma questão de celeridade -, e por eu ter adquirido o hábito de escrever desde meu primeiro mandato sindical, decidi que o blog sindical passaria a ser o veículo de comunicação do mandato de diretor de saúde na Cassi. Isso teria que ser pensado de forma estratégica, e a disciplina seria uma das principais obrigações ao definir o blog como meio de divulgação das ideias do mandato e prestação de contas ao mesmo tempo.
Por quatro anos, divulguei através do blog o modelo de Estratégia de Saúde da Família (ESF), combati a desinformação sobre a Cassi nas principais mentiras que diziam sobre a autogestão - custo das unidades de saúde, que solidariedade e mutualismo eram ruins para o custeio do Plano de Associados, que a gestão era ruim por causa dos associados e era o inverso, era ruim por causa das indicações do patrocinador, os motivos do déficit estrutural e os porquês dos eternos problemas de rede de atendimento, a importância da participação social por ser uma autogestão de trabalhadores e a presença física do diretor em todas as bases durante o mandato.
Amig@s leitores, o que posso dizer é que o blog se tornou um dos principais registros de um mandato de representação que se tem notícias. Eu criei um público leitor ao longo dos 4 anos. Depois que os envolvidos de alguma forma com a Cassi entenderam isso, cada postagem minha, em qualquer horário, tinha de mil a milhares de acessos. Eu passei a comunicar com os sindicatos e entidades de aposentados, com os interessados em saúde, conselhos de usuários e Cassi, com a direção do banco patrocinador, com o mercado de saúde, com os profissionais do modelo de saúde da Cassi. Sem dúvidas, devo ter incomodado os adversários, tanto o patrão quanto outras forças políticas de direita.
Enfim, olhando para trás, estudando ainda, percebo claramente que o blog de cultura e o blog de trabalho político são ferramentas de sistematização, não só da minha pessoa, mas do que eu vivi enquanto sujeito histórico no movimento sindical e cultural das últimas décadas.
É isso!
William
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