sábado, 4 de novembro de 2023

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 4 de novembro de 2023. Sábado.


Leio sobre o massacre em Canudos enquanto ouço e leio sobre o massacre de palestinos em Gaza... Ontem e hoje, parece que não aprendemos nunca!

Achei que fosse acabar a leitura do livro de Euclides da Cunha, Os Sertões, e não consegui, mesmo lendo bastante nos últimos dois dias. Ô livro difícil da porra pra ler! 

A começar pela linguagem usada pelo escritor. Em uma frase com dez palavras, muitas são impronunciáveis e de semântica desconhecida para a maioria dos leitores, tanto os de hoje quanto os contemporâneos ao lançamento da obra. Que foda escrever assim!

Querem um exemplo, já da terceira parte "A luta"? Nem estou falando daquelas partes um e dois - "A terra" e "O homem" -, de linguagens pseudotécnicas e indecifráveis.

"Porque a ação se delongava. Delongava-se anormal, sem o intermitir das descargas intervaladas, o tiroteio cerrado e vivo, crepitando num estrepitar estrídulo de tabocas estourando nos taquarais em fogo... " (p. 463, edição Publifolha, 2000)

Aliás, ao falar de linguagem, de escolha de palavras e semântica etc, temos a questão do nome do escritor de Os Sertões: seria Euclydes ou Euclides? A polêmica já se arrasta há décadas entre nós das áreas das Letras. 

Em uma reportagem especial sobre os cem anos de Os Sertões, publicada no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo, de 7 de dezembro de 2002, explica-se que a grafia antiga e original era com "y" e que regras da Língua Portuguesa posteriores a 1943 (Reforma Ortográfica) sugerem que palavras com o antigo "y" passem a ser escritas com "i". Na matéria, tem intelectuais que defendem se manter Euclydes e outros que defendem Euclides...

Eu não faço cavalo de batalha nisso não. A vida toda escreveram meu nome do jeito que sempre quiseram, e mesmo com o documento em mãos! Escrevem meu nome errado com a porra do documento em mãos. Com "n" no fim, com "m", mas com um "l" só, com "i" ou com "y", com "w" ou com "u"... Enfim, Euclydes ou Euclides dá na mesma para este blogueiro. Eu tenho edições da obra escritas dos dois jeitos, e aí, qual adoto? Escolhi Euclides de forma aleatória, não foi baseado em nenhum tratado ortográfico.

Enquanto tento acabar a leitura de Os Sertões, leitura que comecei em 2007... juro pra vocês, eu li as duas primeiras partes naquela época, depois me deu uma má vontade do caramba pra acabar o livro, pois eu já sabia do genocídio que a história iria mostrar. 

Francamente, ter lido quase 170 páginas daquela descrição preconceituosa das partes um e dois já foi uma façanha e tanto! Me martirizar lendo quase 300 páginas de genocídio era muito pra mim à época. Parei a leitura. Só fui retomar agora por causa do curso "13 livros para compreender o Brasil", do ICL.

E não é que o livro nos ajuda mesmo a compreender o Brasil! Enquanto leio sobre o genocídio dos favelados em Canudos, leio na imprensa o genocídio do povo palestino na ex-terra deles, a Palestina. Em 1947, os impérios vencedores da 2ª Guerra Mundial decidiram dar a metade da Palestina para os povos judeus e o que era para ser um espaço geográfico com dois povos convivendo juntos se transformou no que vemos hoje. 

Ler sobre o massacre dos miseráveis que viveram no Arraial de Belo Monte em 1896/97 pelo governo brasileiro é entender como governos e donos do poder massacram e eliminam grupos inteiros de pessoas dos espaços geográficos no mundo.

O exército brasileiro usou canhões apelidados de "matadeiras" e um canhão maior, um Withworth 32, para mandar bombas sobre um arraial com mais de 5 mil casebres e com cerca de 20 mil pessoas vivendo de forma comunitária, coletivista, sob a liderança de um beato, Antônio Conselheiro. 

Nestes dias do século 21, um governo despeja bombas em abrigos de refugiados, ambulâncias, hospitais, e demais áreas onde vivem milhões de civis palestinos, na Faixa de Gaza. E hoje, o governo de Israel bombardeou uma universidade... quase 100% dos milhares de mortos na Faixa de Gaza são crianças e mulheres e idosos...

Aff...

Vou me juntar aos povos do mundo que hoje vão se manifestar pelo fim do genocídio, pelo cessar-fogo e por um processo de paz e respeito ao povo palestino. Aqui em São Paulo o ato será na região da Paulista.

Eu estou tão triste, com uma tristeza tão profunda... mas fui triste a vida inteira e isso não me impediu de fazer grandes coisas e coisas importantes coletivamente.

A tristeza não pode ser desculpa para o marasmo e para o conformismo.

William


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