sábado, 9 de novembro de 2024

Enem 2024: provas eliminatórias não deveriam ter questões com respostas dúbias



Refeição Cultural


Opinião

Fiquei incomodado tanto com o artigo do colunista e escritor Julián Fuks, colunista da página do UOL, quanto com a questão do Enem 2024 mal formulada e com mais de uma alternativa viável para a questão feita.

A Questão 29 do Caderno Verde da Prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação citou um trecho de um livro de Julián Fuks, "A Resistência", e formulou uma pergunta que até o autor alegou em artigo ter tido dificuldade de responder. E o problema não é esse, deixo claro.

Ao ler o artigo do autor comentando a questão, eu esperava que ele apontasse o cerne do problema, que é o fato que uma questão de vestibular, Enem ou concurso público não pode ser dúbia ao ponto de haver mais que uma alternativa correta. Isso acontece quando a questão exagera no quesito interpretativo. Não se faz isso com os participantes de um certame.

No artigo, Julián Fuks explica com toda a sua competência as características essenciais da literatura e dos textos ficcionais, que podem ter interpretações imprecisas e conter incertezas. Até aí, tudo bem. 

Num certo momento do artigo, ele diz:

"O receio se agravou quando enfim bati os olhos naquela questão 29 e me vi perdido entre suas opções de resposta, quase todas razoavelmente exatas, quase todas à sua maneira próximas do que eu desejara dizer naquela passagem."

O problema do artigo, na minha opinião, é quando o escritor começa a dar um jeito de ficar bem com todo mundo, incluindo críticos, examinadores e organizadores da prova etc.

Se fosse necessário discorrer sobre cada uma das 5 alternativas, não seria difícil justificar porque cada uma delas poderia estar correta de acordo com o texto. Estão interpretativas demais!

Pesquisando sobre a questão e a alternativa certa definida pelos produtores da prova, aliás, fiquei sem entender o próprio artigo de Fuks porque ele disse que a resposta não era a que ele achou que era, a "D" e no gabarito do Caderno Verde, Questão 29, a questão com o texto em análise, a resposta do gabarito é "D".

Mas repito, as outras alternativas não estão erradas! Nenhuma das outras.

Ele termina com uma reflexão que seria mais uma justificativa para que questões como essa, de leituras dúbias, não constassem em certames nos quais milhares ou milhões de pessoas estão participando para eliminarem uns aos outros.

"Estávamos apenas diante de mais uma manifestação da literatura em sua complexidade, em sua infinita nuance, em sua natureza insondável. Não se espera da literatura, nem das mensagens dos escritores, nem das interpretações dos críticos, nem das deduções dos examinadores, nenhum tipo de exatidão."

Ué, se fosse verdade essa afirmação, não haveria questões sobre textos literários e interpretativos em provas e concursos. Não é por aí. O problema é que a questão 29 foi mal formulada. 

Já vi questões com menos problemas serem anuladas em certames. Essa está muito ruim, de verdade!

Quando se faz uma questão de vestibular e concurso, é necessário que as alternativas sejam claras: uma tem que estar de acordo com o texto e as outras, não. Se as outras alternativas também têm relação possível com o texto, a questão está mal formulada e deve ser anulada.

Por fim, acreditem, até o nome do autor citado na questão está grafado errado... francamente! Pelo que podemos ver nas colunas do autor, ele se chama FUKS e o Caderno disse que o texto em questão é de um tal FUCKS. E o escritor sequer falou a respeito em seu artigo.

É uma opinião. Eu gosto dos artigos de Julián Fuks, leio sempre. E sou grande defensor de concursos públicos e provas de conhecimentos para o preenchimento de vagas. E defendo políticas afirmativas por entender que as pessoas não estão na mesma condição de igualdade de oportunidades.

William Mendes

09/11/24


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