segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Leitura de poesia (50) - Gerontion, T. S. Eliot



GERONTION - T. S. ELIOT


     Thou hast nor youth nor age

But as it were an after dinner sleep

Dreaming of both


Eis-me aqui, um velho num mês seco,

Um menino lê em voz alta, espero a chuva.

(...)


Depois de tal saber, qual perdão? Pense agora

Que a história abunda em passagens ardilosas, corredores engenhosos

E saídas, ilude em sussurrantes ambições,

Nos guia por vaidades. Pense agora

Que ela dá quando nos vemos distraídos

E o que dá, dá com tão amplas confusões

Que dar mata de fome o desejo. Dá tarde demais

O em que não se crê mais, ou caso ainda,

Somente na memória, paixão repensada. Dá cedo demais

A mãos fracas, o que se pensa ser supérfluo

Até que recusar propaga um medo. Pense

Que medo nem coragem salvam. Perversos vícios

São cria de nosso heroísmo. Virtudes

Nos são impostas por nossos impudentes crimes.

Tais lágrimas colhem-se da árvore que dá fúria.

(...)


Versos do Poema "Gerontion" de 1920

Tradução de Caetano W. Galindo.

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COMENTÁRIO:

Ao ler este poema, fiquei pensando no acontecimento no dia de hoje nos Estados Unidos: a posse de Trump e aquela corja de gente no evento, com direito a saudação nazista e tudo.

É interessante reproduzir a nota de Galindo sobre este poema:

"Thou hast nor youth nor age: O título grego do poema significa 'velhinho'. A epígrafe shakespeariana vem de Medida por medida (ato III, cena I). Na cena um personagem diz a outro que a morte é consequência natural de uma vida que é por definição passageira. 'Tu não tens juventude nem idade,/ Mas como se fosse mera sesta depois da refeição/ Sonhando com essas duas coisas.'" (p. 370)

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"Depois de tal saber, qual perdão? Pense agora

Que a história abunda em passagens ardilosas, corredores engenhosos"


Pois é, a história abunda de passagens ardilosas...

Estamos vendo o repeteco da história e suas passagens ardilosas com o que vem se passando com os Estados Unidos e com o mundo prestes a conhecer o resultado por sermos guiados por vaidades... E sabendo como foi a história, como perdoar?


"Guides us by vanities."

Aquele ajuntamento de feras humanas no evento de hoje me parece ter relação com a epígrafe shakespeariana do poema:

"Tu não tens juventude nem idade,/ Mas como se fosse mera sesta depois da refeição/ Sonhando com essas duas coisas."


Guiados por vaidades... Que cena dantesca: o velho irado, os donos das big techs, o manipulador nazista...

Estejamos preparados...

William


Bibliografia:

ELIOT, T. S. Poemas. Org. tradução e posfácio Caetano W. Galindo. - 1a ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2018.


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