quarta-feira, 18 de março de 2009

Era dos Extremos - Eric Hobsbawm



Refeição Cultural

A ERA DA GUERRA TOTAL

Lendo este capítulo, percebe-se, antes de mais nada, como sabemos pouco de história. Creio que eu e todos quase nada sabemos.

Vemos também o quanto a história explica o mundo em que vivemos hoje. É impressionante como se encaixam as pedras do tabuleiro-mundo em todos os seus eixos políticos, econômicos, culturais e sociais.

"Ler para viver" como dizia Flaubert. E ler para compreender a vida e buscar melhorá-la.

AS POTÊNCIAS DA ÉPOCA

"Em 1914 não havia grande guerra fazia um século, quer dizer, uma guerra que envolvesse todas as grandes potências, ou mesmo a maioria delas, sendo que os grandes participantes do jogo internacional da época eram as 6 'grandes potências' europeias (Grã-Bretanha, França, Rússia, Áustria-Hungria, Prússia - após 1871 ampliada para Alemanha - e, depois de unificada, a Itália), os EUA e o Japão."

AS ORIGENS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

"Ela começou como uma guerra essencialmente europeia, entre a tríplice aliança de França, Grã-Bretanha e Rússia, de um lado, e as chamadas 'Potências Centrais', Alemanha e Áustria-Hungria, do outro, com a Sérvia e a Bélgica sendo imediatamente arrastadas para um dos lados devido ao ataque austríaco (que na verdade detonou a guerra) à primeira e o ataque alemão à segunda (como parte da estratégia de guerra da Alemanha). A Turquia e a Bulgária logo se juntaram às Potências Centrais, enquanto do outro lado a Tríplice Aliança se avolumava numa coalizão bastante grande."

FASCISMO: CONSEQUÊNCIA DA 1ª GUERRA MUNDIAL

"Os soldados que haviam passado por aquele tipo de guerra (1ª GM) sem se voltarem contra ela às vezes extraíam da experiência partilhada de viver com a morte e a coragem um sentimento de incomunicável e bárbara superioridade - inclusive em relação a mulheres e não combatentes - que viria a formar as primeiras fileiras da ultradireita do pós-guerra. Adolf Hitler era apenas um desses homens para quem o fato de ter sido frontsoldat era a experiência formativa da vida."

NOVOS ALVOS DE GUERRA: OS CIVIS

No confronto da 1ª guerra, em um determinado momento de igualdade de forças (e mortes) na fronteira ocidental entre França e Alemanha, os lados inventaram uma nova forma de avançar na guerra: matar de fome os civis. A Alemanha, via água, com ataques submarinos, impedindo a chegada de suprimentos à Grã-Bretanha; depois os aliados, bloqueando os suprimentos da Alemanha.

Hobsbawm afirma que a superioridade da máquina de guerra alemã foi sempre visível em relação à dos aliados, tanto na 1ª quanto na 2ª guerra mundial, em termos de eficiência na arte da guerra.

QUESTÕES SEMPRE POLÍTICAS E ECONÔMICAS

A Alemanha seria superior mais cedo ou mais tarde, em relação à Grã-Bretanha e à França, que já apresentavam quedas em seus desenvolvimentos econômicos e sociais no início do século XX.

Pra se ter uma ideia, depois de perder duas grandes guerras, no final dos anos 90 a Alemanha já se apresentava como um dos países mais desenvolvidos do mundo novamente.

TRATADO DE VERSALHES: UM DOS FATORES DA 2ª GUERRA MUNDIAL

"A vitória total, ratificada por uma paz punitiva, imposta, arruinou as escassas possibilidades existentes de restaurar alguma coisa que guardasse mesmo fraca semelhança com uma Europa estável, liberal, burguesa, como reconheceu de imediato o economista John Maynard Keynes. Se a Alemanha não fosse reintegrada na economia europeia, isto é, se não se reconhecesse e aceitasse o peso econômico do país dentro dessa economia, não poderia haver estabilidade. Mas essa era a última consideração na mente dos que tinham lutado para eliminar a Alemanha."

e

"O acordo de paz imposto pelas grandes potências vitoriosas sobreviventes (EUA, Grã-Bretanha, França, Itália) e em geral, embora imprecisamente, conhecido como Tratado de Versalhes, era dominado por 5 considerações". Aqui Hobsbawm faz observações sobre o quanto foi arbitrária a divisão ou fatiamento político do mapa europeu pós-guerra. (ler p. 38 e 39)

Só para dar um exemplo de gestação de problemas da época, o governo americano, na figura de Wilson, incentivou a criação de diversos Estados-nação étnico-linguísticos para substituir impérios fatiados - russo, habsburgo, otomano - que ainda nos anos 90 trariam guerras e massacres divisionistas:

"O mapa da Europa tinha de ser redividido e retraçado, tanto para enfraquecer a Alemanha quanto para preencher os grandes espaços vazios deixados na Europa e no Oriente Médio pela derrota e colapsos simultâneos dos impérios russo, habsburgo e otomano. Os muitos pretendentes à sucessão, pelo menos na Europa, eram vários movimentos nacionalistas que os vitoriosos tendiam a estimular, contanto que fossem antibolcheviques como convinha (...) A tentativa foi um desastre, como ainda se pode ver na Europa da década de 1990. Os conflitos nacionais que despedaçam o continente na década de 1990 são as galinhas velhas do Tratado de Versalhes voltando mais uma vez para o choco*" p.39

(*) A guerra civil iugoslava, a agitação secessionista na Eslováquia, a secessão dos Estados Bálticos da antiga URSS, os conflitos entre húngaros e romenos pela Transilvânia, o separatismo da Moldova (Moldávia, ex-Bessarábia) e, na realidade, o nacionalismo transcaucasiano, são alguns dos problemas explosivos que não existiam ou não teriam como existir antes de 1914.

LIGA DAS NAÇÕES: IDEIA QUE NÃO VINGOU

"A Liga das Nações foi de fato estabelecida como parte do acordo de paz e revelou-se um quase total fracasso, a não ser como uma instituição para coleta de estatísticas."


e

"Nenhum acordo não endossado pelo que era agora uma grande potência mundial (EUA) podia se sustentar."

E também:

"Duas grandes potências europeias, e na verdade mundiais, estavam temporariamente não apenas eliminadas do jogo internacional, mas tidas como não existindo como jogadores independentes - a Alemanha e a Rússia soviética."

Esses foram fatores fundamentais para o curto período de paz - com graves crises econômicas nos países envolvidos - até a eclosão da 2ª Guerra Mundial.


Bibliografia:


HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos - O breve século XX, 1914-1991. Companhia das Letras. Tradução de Marcos Santarrita, 2ª edição, 33ª reimpressão

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