quarta-feira, 27 de abril de 2016

Diário - 270416


Final de dia de fortes emoções e pressão alta na Cassi.

Medi minha pressão arterial ao chegar em casa agora à noite. O aparelho acusou 141 x 101 mm/Hg. É uma pressão bastante alta. E eu já estou tomando remédio diariamente faz mais de 45 dias. É uma tristeza saber que você virou um hipertenso.

Fui ler novamente a respeito de possíveis causas e as graves consequências da pressão alta. É foda! Eu não sou gordo, aliás, emagreci quase 4 kg nos últimos meses. Não exagero no sal. Estou comendo comidas mais apropriadas. E o principal: estou correndo feito um louco para combater o estresse e a hipertensão. Nada está adiantando.

Acredito que a causa da pressão alta seja meu trabalho; é o que faço, como faço e o significado de tudo que insisto em fazer. Ou seja, difícil será alcançar a cura ou a estabilidade para esse mal que me acometeu de certo tempo pra cá. Se parar para pensar nos meus rins, cérebro, visão, coração e artérias, vou deprimir.

Saí para correr imediatamente na noite candanga fria (17º) e corri 5k em 31'. Não adianta aumentar o percurso e o esforço porque já estou correndo umas dez vezes por mês, estou batendo no limite do meu sistema muscular atual. Mas se não corresse poderia ser bem pior.


Reflexões nesta corrida e durante a tarde de hoje na Cassi

Não consegui parar de pensar nos acontecimentos do dia nem durante a corrida noturna. Acontecimentos atuais, conjunturais, dos meus espaços sociais e do meu mundo.

O que me move é minha ética, meus compromissos, meus valores. Eu cago pra dinheiro. Eu cago pra poder. Cago pra bem material. Não ligo pra carro, roupa, aparência de moda. Fiz ao longo da vida algumas vítimas por isso, porque as pessoas de nossa vivência não são obrigadas a pensar como nós e nem sofrer as consequências de nossa forma de viver.

Mesmo sem me oferecer, me peguei sendo pessoa pública e já sou há um bom tempo representante de pessoas. Por meus princípios, acabei definindo um estilo de representação por entender ser o correto: ser transparente, estar sempre na base que represento e pensar os projetos coletivos em que estou inserido ao invés de pensar em mim mesmo.

A mesma ética que tive nos movimentos estudantis que participei e liderei, trouxe para o movimento sindical quando cheguei eleito em 2002 no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. Eu tinha acabado de participar e ser um dos organizadores da maior greve que a FFLCH/USP tinha vivido (2002): foram 104 dias de greve com a conquista de 99 professores novos para os onze cursos. Eu era da Faculdade de Letras.

Quando cheguei ao movimento sindical bancário, entrei num mundo gigante, importante, com tudo que há de bom e ruim nos seres humanos. Um movimento que enfrenta os patrões, no nosso caso, os banqueiros, os poderosos banqueiros. Um movimento que contrata direitos e interfere na vida real de milhares de trabalhadores.

Eu tenho uma característica que algumas pessoas próximas sempre me disseram. Eu sou oito ou oitenta. Quando entro em alguma coisa, uma tarefa, uma missão, entre de cabeça. Foi assim no movimento dos bancários. Com poucos meses de liberado do Banco do Brasil para a atividade sindical (05/08/2002), eu já passava o dia todo em função dos bancários e do Sindicato. Faço com paixão o que tenho que fazer.

Uma coisa que defini para mim logo que comecei como sindicalista, ao ver os grandes oradores das correntes políticas, foi que eu queria ser um bom orador. Mas defini outra coisa naquele momento de início de movimento sindical. Vi bons oradores que me encantaram e vi bons oradores que me enojaram.

Passei a estudar na Letras ao mesmo tempo que virei sindicalista e fui entender as várias técnicas do discurso, da oratória, da retórica, fui ler os sofistas etc. Eu via companheiros novos de movimento que "pagavam pau" para oradores de outras correntes além da qual participávamos. Mas esses oradores mentiam para os bancários. Omitiam informações totais e usavam fragmentos para inflamar a massa. Manipulavam meus colegas bancários.

Eu jurei pra mim desde 2002 que jamais seria como aqueles oradores manipuladores. Me esforcei para ser um orador que dialogasse com meus colegas, mas passei uma vida sindical não dizendo só aquilo que os colegas queriam ouvir, as facilidades e modismos ou tendências da época. Os lugares-comuns. Aliás, comprei muita briga interna no movimento bancário e na tendência em que militei porque não fui de falar amém e não pactuei com discursos fáceis ou centralistas.

Eu acho que vou falar e escrever muito neste espaço que criei de blogs nos próximos dois anos. Eu estou vivendo num mundo em crise, sem lideranças com capacidade de construir pontes ou que tenha grande representação. Estamos no momento da super fragmentação. Na incomunicabilidade. As crises trazem isso. Estamos num mundo sem interlocução entre os lados.

Hoje foi o primeiro dia de muitos que virão (provavelmente), em que o lado dos indicados do Banco do Brasil aprovou deliberações em disputa com eleitos por 5 x 3 no órgão máximo de decisão interna da entidade de saúde que participo como um dos gestores eleitos pelos associados. Os próximos dois anos prometem... mas eu vou definir uma forma de atuar em relação a isso. Vou definir a forma de falar aos 31.545 associados que votaram em mim para representá-los na gestão da entidade de saúde deles/nossa.

Eu consegui resistir fisicamente à 12 anos de representação no movimento sindical. Quase todo mundo do movimento sabe o quanto minha dedicação foi grande e de longas jornadas. Mas havia durante os meses os chamados picos e vales, ou seja, alguns dias mais amenos nas tarefas e outros mais estressantes. Na Cassi, desde o dia que cheguei em junho de 2014 não tive picos e vales no mandato, cheguei em meio a crises, estou em meio a crises. Eu juro pros poucos que me leram aqui. E continuo não tendo picos e vales. E sei que não terei picos e vales até o final de minha missão.

Eu sei disso. E tenho que aceitar isso.

Aceito. É minha missão.

Mas eu carrego hoje todos aqueles valores e princípios que citei aqui. Estamos vivendo a época da mentira, da manipulação, do fim da ética e caráter. Eu não vou vergar a favor desse modismo.

William

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