domingo, 10 de setembro de 2017

Diário e reflexões - 100917 (autogestões de trabalhadores)



Instante crepuscular na
Capital do Brasil.

Refeição Cultural

Domingo de muito calor em Brasília, Capital do Brasil.

Senti um cansaço físico intenso neste feriado nacional de 7 de setembro. Meu corpo acaba reagindo às vezes às tristezas d'alma ao ver o que fizeram com o meu País, com o nosso povo trabalhador. Nem atividades físicas tive ânimo para fazer nestes dias.

Pensei em ler várias coisas, e acabei me direcionando para outras. Quando quero descansar de minhas lutas, de minhas tarefas como dirigente político, me pego estudando mais ainda a respeito do que fazemos, do que somos. É nossa natureza.

Estou lendo dois livros que têm relação com o meu trabalho político de defesa e fortalecimento da autogestão em saúde que administro como eleito pelos trabalhadores associados, a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, a Cassi, que já tem 73 anos de história de auto-organização em saúde e assistência social. 

Um dos livros é sobre a história de constituição e sucesso da Caixa de Assistência dos Servidores do Estado do Mato Grosso do Sul, a Cassems, que completou 15 anos em 2016, e nasceu sob a administração do Governador Zeca do PT, inspirada na experiência de nossa Cassi, que já era no início dos anos dois mil uma das experiências mais exitosas de autogestão em saúde do País. 

Os debates com os servidores foram muito intensos e difíceis porque parte deles, os que tinham alta remuneração salarial - "primos ricos" -, não queriam criar a autogestão, e graças ao empenho das maiorias e o desejo político da época, a Cassems se constituiu e o trabalho de pertencimento feito por ela ganhou a confiança dos servidores do Estado.

O livro tem umas 200 páginas e estou focado na leitura porque todo conhecimento que eu puder acumular na área em que atuo será importante para contribuir na luta árdua que teremos no contexto atual em salvar o sistema de autogestão em saúde, sistema que congrega cerca de 5 milhões de participantes em nosso querido Brasil e que não concorre com o SUS, porque se auto-financia com alguns incentivos fiscais e não visa lucro. Sobre a nossa autogestão, a Cassi, já venho estudando a sua história nesses últimos três anos em que sou gestor eleito.

O outro livro que peguei para ler, quase que por acaso, ao ver as minhas pilhas de livros em Osasco dias atrás, foi o Perestroika (1987), de Mikhail Gorbachev. Eu sou desconhecedor de muita coisa e não tenho vergonha em reconhecer isso. O que conheci de obras clássicas de várias áreas do conhecimento e de história estudando e lendo na última década, ou seja, quase dos quarenta anos adiante, já me mudou completamente. Por mais que goste de história, acho que conheço muito pouco sobre a maior experiência socialista que o mundo conheceu, a União Soviética.


Dois livros, 500 páginas, retratando histórias de
auto-gestões dos próprios trabalhadores.

Já li 100 páginas do livro de Gorbachev e o mais interessante é que o tempo de enunciação da narrativa é o ano de 1987. Ou seja, ele, o Secretário Geral do PCUS, a partir de 1985, fala ao seu povo e ao mundo, e percebe-se que fala aos Estados Unidos, fala sobre os projetos de reestruturação do socialismo soviético, e fala de mais democracia, transparência e participação popular nas decisões, após o Partido Comunista concluir que medidas precisavam ser tomadas para corrigir os problemas que eles identificavam em seu sistema.

Percebo nas palavras de Gorbachev uma sinceridade nas intenções do alto comando soviético em realizar mudanças que atendessem aos anseios do povo, porque os problemas identificados pelo Governo abordavam a carência de coisas básicas do dia a dia, uma atenção maior nas pessoas (além dos objetivos coletivos do Estado), uma necessidade premente de maior participação popular nas decisões dos rumos do país, e problemas sérios na economia dos anos setenta e oitenta. 

Como dirigente político que sou há mais de duas décadas, estou reconhecendo perfeitamente o diagnóstico feito pelo alto comando do Partido Comunista naquilo que a Perestroika (Reestruturação) gostaria de corrigir para ampliar o pertencimento do povo russo ao seu sistema de auto-administração e auto-determinação na gestão de um país. Vimos que a experiência soviética acabou pouco tempo depois.

O modelo de exploração capitalista vem se impondo ao mundo mesmo com suas crises, como a mais recente em 2008. Algumas corporações e poucas famílias (menos de 1%) dominam tudo no mundo, independente de país, língua, cultura, região do globo. O que parte de nós temos claro é que esse sistema não é o mais adequado para melhorar as condições de vida de todos no planeta e está destruindo as possibilidades de vida neste único ponto em nosso sistema solar capaz de abrigar vida como a nossa.

Enfim, acaba que tudo que leio e releio e reflito tem relação com o que faço, que é organizar trabalhadores para lutarem eles próprios por seus destinos, se auto-organizarem. A experiência de minha tarefa atual, defender a autogestão em saúde dos trabalhadores do maior banco público do Brasil, já me trouxe um acúmulo de conhecimento que nunca imaginei ter. E tenho a convicção que eu e nossa equipe demos contribuições vitais para superar uma das fases mais difíceis da história da autogestão Cassi e da saúde suplementar brasileira.

Abraços aos amig@s leitores,

William

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