domingo, 24 de fevereiro de 2019

O Capital, de Marx, apresentado por Engels




Refeição Cultural

"'O que fazer com os desempregados?' Enquanto se avoluma, a cada ano, o número deles, não há ninguém para responder a essa pergunta; e quase podemos prever o momento em que os desempregados perderão a paciência e encarregar-se-ão de decidir seu destino, com suas próprias forças'." (Engels, no prefácio à edição inglesa de O Capital, 1886)


Os prefácios e posfácios das edições de O Capital (publicado em 1867), nas palavras de Karl Marx enquanto estava vivo, e depois de sua morte nas apresentações de Friedrich Engels, nos dizem muita coisa a respeito do próprio filósofo e autor e da obra que o leitor vai ler e estudar.

Marx justifica na 1ª edição de O Capital um grande intervalo entre a obra anterior e esta, que diz ser continuação daquela, por ter sido acometido por enfermidade por um longo período.

"Entrego hoje ao público o primeiro volume da obra que continua meu livro 'Contribuição à crítica da economia política', editado em 1859. Houve este grande intervalo entre as duas publicações em virtude de enfermidade que me acometeu durante muitos anos, interrompendo frequentemente meu trabalho." (Prefácio à 1ª edição em 1867)

Temos aqui um estudioso obstinado da história das sociedades e dos sistemas econômicos e de produção humana, mas um ser de carne e osso. Como um leitor que vai encarar a leitura desta obra que influenciou a história humana, eu não encaro Marx como um deus, um mito, alguém acima de qualquer suspeita. Pretendo fazer uma leitura como leitor crítico.

Depois da publicação em alemão - uma edição em 1867 e outra em 1873 -, Marx edita a obra em francês, e diz no prefácio de 1872 que a fará em fascículos, respondendo a um cidadão: "Concordo com sua ideia de publicar a tradução de O Capital por fascículos. Desta forma, a obra será mais acessível à classe trabalhadora, e para mim importa mais este motivo que qualquer outro". 

E no posfácio da edição francesa diz que fez acréscimos importantes na revisão da tradução. Vale dizer que Marx e Engels têm muita preocupação com a manutenção dos conceitos desenvolvidos nos estudos da economia política por causa das dificuldades de tradução dos conceitos em alemão para outras línguas: "Deste modo, esta edição francesa, quaisquer que sejam seus defeitos literários, possui valor científico próprio, independente do original, e interessa mesmo aos leitores que dominam a língua alemã." (Posfácio da edição francesa, 28 de abril de 1875)

Na 3ª edição alemã, em 1883, uma década depois da 2ª edição, Engels anuncia a morte de Marx e fala a respeito da obra: "Marx não logrou a satisfação de preparar, para ser impressa, esta terceira edição. O estupendo pensador, diante de cuja grandeza até os adversários agora se inclinam, morreu no dia 14 de março de 1883".

PREFÁCIO DA EDIÇÃO INGLESA

Engels inicia o prefácio justificando a demora em sair uma versão da obra O Capital em inglês, lembrando que a primeira edição em alemão é de 1867 e a edição inglesa só aparece em novembro de 1886, quase vinte anos depois. As questões de tradução imperam, novamente. Foram necessários mais de um tradutor para o inglês e coube a Engels a responsabilidade de alinhavar tudo.

Conceitos novos na ciência econômica: "Persiste uma dificuldade, e dela não podemos livrar o leitor: o emprego de certas expressões em sentido diferente do usual na vida quotidiana e do consagrado no domínio da economia política. Isto era inevitável. Cada concepção nova de uma ciência acarreta uma revolução nos termos especializados dessa ciência".

A questão da mais-valia não existia dentro da lógica da economia política:

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"Assim, a economia política clássica - embora tivesse consciência plena de o lucro e a renda serem apenas subdivisões, frações da parte não paga, saída do produto que o trabalhador tem de fornecer ao patrão (o primeiro que dela se apropria, ainda que não seja seu último e exclusivo dono) -, apesar disso, nunca chegou a ultrapassar as ideias usuais de lucro e renda, nunca examinou esta parte não paga do produto (chamada, por Marx, de mais-valia), em seu conjunto, como um todo, e, por isso, nunca atingiu uma compreensão clara, nem de sua origem e natureza, nem das leis que regem a posterior distribuição de seu valor."
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MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA: "ESTÁGIO TRANSITÓRIO"

Outro conceito importante que Engels destaca no prefácio à edição inglesa é que a obra O Capital entende o modo de produção capitalista como mais uma etapa da história econômica da humanidade e não o modo de produção final, definitivo das sociedades humanas.

"Uma teoria que considera a moderna produção capitalista mero estágio transitório da história econômica da humanidade tem, naturalmente, de utilizar expressões diferentes daquelas empregadas por autores que encaram esse modo de produção como imperecível e final."

A NECESSIDADE DE SEMPRE AUMENTAR A PRODUÇÃO E CONSEGUIR MAIS MERCADOS CONSUMIDORES

"(...) O funcionamento do sistema industrial da Inglaterra - impossível sem permanente e rápida expansão da produção e, portanto, dos mercados - está emperrado (...) Enquanto a produtividade cresce em progressão geométrica, a expansão dos mercados, na melhor das hipóteses, se realiza numa progressão aritmética..."

E então, Engels faz a pergunta que é mais atual que nunca, apesar de ter sido feita em 1886, há 133 anos: "O que fazer com os desempregados?"

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Amig@s leitores e leitoras, neste momento da história humana, vamos tentar ler O Capital com parcimônia, com olhar crítico, e sobretudo, atento à necessidade de entender porque as coisas estão como estão nesta quadra da história da humanidade.

Abraços e se gostarem das postagens e dos comentários de minha leitura, compartilhem com aquel@s que tiverem a mesma curiosidade e necessidade de compreensão de nossa realidade.

William
Um leitor


Post Scriptum:

Já fiz duas postagens sobre os prefácios feitos pelo próprio Marx nas edições alemãs. Ler AQUI sobre a 1ª edição e AQUI sobre a 2ª edição.

Um comentário:

  1. O problema pricipal da leitura de Engels, quando ele fala a respeito da transitoriedade do regime capitalista, e que ele nao considera a sede de poder histórica desde a monarquia, e a ganância daqueles que tem um pouco mais que outros!!!

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