Refeição Cultural
"Meu método dialético, por seu fundamento, difere do método hegeliano, sendo a ele inteiramente oposto. Para Hegel, o processo do pensamento - que ele transforma em sujeito autônomo sob o nome de ideia - é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material transposto para a cabeça do ser humano e por ela interpretado." (Prefácio à 2ª edição de O Capital, em janeiro de 1873)
No primeiro prefácio a "O Capital", em 1867, Marx afirma o objetivo capital de sua obra - "descobrir a lei econômica do movimento da sociedade moderna". Neste prefácio de 1873, ele avalia as repercussões de sua obra e fala um pouco sobre seus métodos de pesquisa e trabalho, bem como a reorganização de partes da obra.
"A melhor recompensa para o meu trabalho é a compreensão que O Capital rapidamente encontrou em amplos círculos da classe trabalhadora alemã", diz Marx.
Diz que inexiste na Alemanha estudos sobre economia política, que o tema é estrangeiro e que só a partir da segunda metade do século XIX vai haver no país o modo de produção capitalista e a consequente formação da sociedade burguesa.
"Faltava, portanto, o material vivo da economia política. Ela foi importada da Inglaterra e da França como produto acabado; seus professores alemães não passavam de discípulos".
A LUTA DE CLASSES
"Quando o modo de produção capitalista atingiu a maturidade na Alemanha, já tinha rumorosamente revelado antes, na França e na Inglaterra, através de lutas históricas, seu caráter antagônico, e o proletariado alemão já possuía uma consciência de classe mais pronunciada que a burguesia alemã...".
O proletariado, segundo Marx: "a classe cuja missão histórica é derrubar o modo de produção capitalista e abolir, finalmente, todas as classes".
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"A exposição, excetuadas algumas partes demasiadamente especializadas, distingue-se por estar ao alcance de todas as inteligências, pela clareza e, apesar da altitude científica da matéria, pela vivacidade acima do comum" (sobre O Capital. In: Jornal de São Petersburgo, 20/4/1872)
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REPERCUSSÕES DE 'O CAPITAL'
A obra de Marx obteve avaliações positivas. Sieber diz que ao invés de "metafísico" o método de Marx é "dedutivo". Block afirma ser o método "analítico". Marx seria "realista" e não "idealista", segundo artigo no periódico de São Petersburgo "Mensageiro europeu".
Marx cita neste prefácio de 1873 trecho do próprio periódico que faz referência a sua obra para dizer que seu método tem "fundamento materialista":
"(...) todo o esforço de Marx visa demonstrar, através de escrupulosa investigação científica, a necessidade de determinadas ordens de relações sociais e, tanto quanto possível, verificar, de maneira irrepreensível, os fatos que lhes servem de base e de ponto de partida...".
E segue o artigo do periódico russo:
"Marx observa o movimento social como um processo histórico-natural, governado por leis independentes da vontade, da consciência e das intenções dos seres humanos, e que, ao contrário, determinam a vontade, a consciência e as intenções...".
O artigo diz que para Marx são os fatos que importam, mais que as ideias: "O que lhe pode servir de ponto de partida, portanto, não é a ideia, mas, exclusivamente, o fenômeno externo. A inquirição crítica limitar-se-á a comparar, a confrontar um fato, não com uma ideia, mas com outro fato".
AS LEIS ECONÔMICAS NÃO SÃO SEMPRE AS MESMAS
Segue o artigo sobre Marx e O Capital: "(...) É isto que Marx contesta. Não existem, segundo ele, essas leis abstratas. Ao contrário, cada período histórico, na sua opinião, possui suas próprias leis. Outras leis começam a reger a vida quando ela passa de um estágio para outro, depois de ter vencido determinada etapa do desenvolvimento..."
A pesquisa de Marx: "(...) esclarece as leis especiais que regem o nascimento, a existência, o desenvolvimento, a morte de determinado organismo social, e sua substituição por outro de mais alto nível. E esse é o mérito do livro de Marx", finaliza o artigo do periódico russo em 1872.
O MÉTODO DIALÉTICO
Marx explica seu método: "Meu método dialético, por seu fundamento, difere do método hegeliano, sendo a ele inteiramente oposto. Para Hegel, o processo do pensamento - que ele transforma em sujeito autônomo sob o nome de ideia - é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material transposto para a cabeça do ser humano e por ela interpretado".
O filósofo termina o prefácio alertando para a diferença da "dialética mistificada" de Hegel em relação a sua forma racional, que "causa escândalo e horror à burguesia e aos porta-vozes de sua doutrina, porque sua concepção do existente, afirmando-o, encerra, ao mesmo tempo, o reconhecimento da negação e da necessária destruição dele; porque apreende, de acordo com seu caráter transitório, as formas em que se configura o devir; porque, enfim, por nada se deixa impor; e é, na sua essência, crítica e revolucionária".
Concluindo a leitura do prefácio à 2ª edição de "O Capital", ainda em 1873, é possível perceber o quanto se aprende e apreende só com a leitura atenta nas palavras do próprio Marx.
É isso. Abraços aos leitores amig@s!
William
Um leitor
Post Scriptum:
Sobre o prefácio à 1ª edição, de 1867, ler AQUI.
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