terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Palavras de Marx no prefácio a O Capital, em 1867





Refeição Cultural

"Nesta obra, o que tenho de pesquisar é o modo de produção capitalista e as correspondentes relações de produção e de circulação".

Marx afirma ser mais fácil analisar processos químicos, físicos e biológicos do que processos econômicos, pois aqueles se verificam com microscópios, reagentes químicos e demais meios científicos, estes precisam da capacidade de abstração humana.

"Porque é mais fácil estudar o organismo, como um todo, do que suas células. Além disso, na análise das formas econômicas, não se pode utilizar nem microscópio nem reagentes químicos. A capacidade de abstração substitui esses meios". 

Então Marx nos apresenta a célula "mercadoria":

"A célula econômica da sociedade burguesa é a forma mercadoria, que reveste o produto do trabalho, ou a forma de valor assumida pela mercadoria".

Os estudos de Marx terão por base o modo de produção capitalista inglês e ele faz um alerta aos alemães em relação a isso, dizendo que se eles acham que seus trabalhadores estão melhores que os trabalhadores ingleses, estão enganados, porque no modelo inglês daquele momento (1867), há minimamente o contrapeso das leis fabris, com algum tipo de fiscalização das péssimas condições de trabalho.

"Estremeceríamos diante de nossa própria situação, se nossos governos e parlamentos, como ocorre na Inglaterra, constituíssem comissões de inquérito periódicas sobre as condições econômicas, dando-lhes plenos poderes para apurar a verdade, e se se conseguissem, para esse fim, homens competentes, imparciais, rigorosos, como os inspetores de fábrica da Inglaterra, seus médicos informantes sobre saúde pública, seus comissários incumbidos de investigar a exploração das mulheres e das crianças, as condições de habitação e de alimentação etc".

O filósofo e estudioso Marx escreve isso em 1867 e no Brasil de 2019 o governo do momento extingue o Ministério do Trabalho, os direitos mínimos dos trabalhadores são extintos ou reduzidos e, o que impressiona, vem coisa pior na pauta do Estado brasileiro - a extinção da previdência social. Além, é claro, do ataque aos movimentos sindicais e populares que, historicamente, organizam e mobilizam a classe trabalhadora para resistir aos excessos da super exploração daqueles que vendem sua força de trabalho para sobreviver.

O objetivo da obra "O Capital" segundo seu autor é: "(...) o objetivo final desta obra é descobrir a lei econômica do movimento da sociedade moderna...".

Por fim, é muito interessante a crítica que Marx faz às instituições religiosas de sua época, dizendo que elas pegam leve ou fazem vistas grossas com os mais diversos pecados e desrespeitos aos seus mandamentos e dogmas, contanto que não se mexa na propriedade privada (delas, inclusive) e na renda das igrejas. 

"(..) A Igreja Anglicana, por exemplo, prefere absolver uma investida contra 38 dos seus 39 artigos de fé a perdoar um ataque contra 1/39 de suas rendas. Hoje em dia, o próprio ateísmo não passa de um pecadilho, em confronto com a blasfêmia de criticar as relações consagradas de propriedade...".

Alguma semelhança com as discussões e questões colocadas em 2019 em relação às igrejas evangélicas, católicas etc, consideradas por muitos como empresas e não igrejas?

Muito interessante ler o prefácio a "O Capital", lançado em 1867, na Inglaterra, berço do capitalismo do século XIX.

William
Um leitor

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