Este blog é para reflexões literárias, filosóficas e do mundo do saber. É também para postar minhas aulas da USP. Quero partilhar tudo que aprendi com os mestres de meu curso de letras.
terça-feira, 31 de março de 2020
310320 (d.C.) - Diário e reflexões
O mundo mudou! Nada será como antes. O mundo era um antes do Covid-19 (a.C.) e será outro depois do Covid-19 (d.C.). Ele será como nós o fizermos...
O mundo que conhecíamos não existe mais. O mundo mudou para sempre e vamos ter dificuldades em aceitar isso e compreender a extensão disso a partir de agora.
Ao assistir ontem a mais uma explanação do biólogo Atila Iamarino no programa Roda Viva sobre o que é e quais as consequências da pandemia do novo coronavírus, o Covid-19, fiquei refletindo a respeito dessa nova realidade. É tudo chocante!
Como disse em outra postagem: - Respire e sinta o quanto é bom respirar, inspirar o oxigênio do ar e seus pulmões realizarem as trocas gasosas necessárias, retirando de si o CO2 e enviando para o seu corpo o O2. Uma coisa tão simples e involuntária que a gente nem percebe o quanto é bom respirar e viver.
O Covid-19 afeta os pulmões e os biólogos, médicos e cientistas explicam que o novo coronavírus é diferente de resfriados e dos tipos de gripes que já conhecemos.
O corpo humano realiza dois tipos de respiração, a celular e a pulmonar. A primeira utiliza oxigênio para sintetizar energia vital e a segunda, nos brônquios e alvéolos pulmonares, troca o gás carbono produzido nas células pelo oxigênio que respiramos. Sem a respiração pulmonar não temos a respiração celular e morremos.
O mundo mudou para sempre. Nós fomos dormir dias atrás e acordamos para uma nova realidade mundial. Os países do mundo já foram afetados independentemente do tipo de economia e sistema político que tenham.
A rapidez com que o vírus se espalha de um vetor ao outro, uma vítima a outra, é muito grande e como nosso sistema imunológico não conhece esse vírus, não temos defesa para ele e parte das pessoas afetadas tem necessidade de auxílios médicos e respiração artificial por duas ou três semanas para tentar reagir ao vírus e sobreviver.
Não é uma "gripezinha". É o que a ciência explica. O Covid-19 se espalha muito rápido e colapsa os sistemas de saúde de qualquer local do mundo, sem ideologia alguma. Ele lota e interrompe a capacidade de atendimento de sistemas de saúde na China, nos EUA, na Rússia, em qualquer cidade grande ou pequena, capitalista, socialista, ou qualquer nomenclatura que queiram usar.
A letalidade é maior ou menor de acordo com as características de determinados grupos de pessoas. Pessoas com mais idade, pessoas com baixa imunidade física, pessoas com certas doenças crônicas são exemplos de grupos que têm letalidade maior. Não é uma doença que só mata pessoas idosas. E lembro aqui que ao colapsar os sistemas de saúde pela demanda altíssima, a pandemia faz vítimas fatais diversas por não ter como atender as outras demandas agudas como AVC, infarto, acidentes etc.
Uma das formas de retardar a expansão do vírus e a rapidez com que ele contagia as pessoas é fazendo isolamento social, é isolando as pessoas que estão com o vírus (quarentenas). Só que em geral não sabemos quem está com o vírus. Como não há sintomas durante muitos dias, a pessoa contaminada vai transmitindo o vírus para um monte de gente. Dali a semanas, uma quantidade enorme de gente vai precisar de auxílio médico para sobreviver: então o sistema de saúde colapsa.
O mundo mudou nesses três meses do aparecimento do novo coronavírus. E ouvindo o biólogo Atila explicar os efeitos desse vírus e de outros que possam aparecer semelhantes a este (que já marcou a gente em seu começo), ficou mais fácil entender que o mundo como o conhecemos morreu, era um mundo antes do Covid-19 (a.C.), em que viajávamos pra lá e pra cá, em que nos aglomerávamos em todo local, em que não temos saneamento básico e, por outro lado, temos hábitos culturais de pouca higiene. Nada será como antes em nosso cotidiano dos comuns.
O mundo agora é desconhecido, é mais arriscado do que já era. É verdade que provavelmente virá alguma vacina contra o Covid-19 como temos vacinas para as gripes comuns, a exemplo do que ocorre com a vacina trivalente, que contém antígenos de dois subtipos de Influenzavírus A e um subtipo de Influenzavírus B, mas uma vacina produzida em um ano pode não ser eficaz para o ano seguinte, porque o vírus evolui substituindo estirpes antigas por novas (fonte: Wikipedia).
Enfim, avalia-se que nada será como antes. E não sabemos como serão os próximos dias, nem onde vivemos, nem no resto do mundo.
Posso estar com esse vírus em mim há dias e não saber ainda. Posso não estar e pegar do contato que vou fazer com outros para continuar vivendo, comendo, realizando as coisas básicas da vida. Posso pegar o vírus e meu organismo dar conta dele, ou não.
A gente tem receio até quando a garganta arranha, como acontece normalmente: uma gripe ou um resfriado nesta época de outono. Mas pode não ser uma gripe ou resfriado. Pode ser a peste, o Covid-19. Mas não há testes para todos, sequer para aqueles que apresentam os sintomas conjugados de febre, tosse e dificuldades para respirar.
O mundo mudou. As viagens e contatos humanos não serão mais os mesmos que antes do isolamento social, das quarentenas. Agora vivemos os dias e semanas depois do aparecimento do Covid-19 (d.C.).
Após assistir a entrevista com o Atila eu já peguei o telefone e liguei para meus pais e sobrinhos; fiz ligação com imagem para vê-los. Não sei quando vou abraçar e beijar mais as pessoas queridas.
Respiremos e façamos o dia mais proveitoso, refletindo sobre o que realmente importa no instante de vida que temos. Será que esse evento fará as pessoas mudarem alguma coisa?
Adianta tanto egoísmo e egocentrismo, não ligando para as pessoas ao nosso redor? Sabendo que todos respiramos o mesmo ar, tocamos as mesmas coisas, que um ser humano não faz nada sem o outro?
William
sábado, 28 de março de 2020
280320 - Diário e reflexões
Hoje é sábado. Tivemos um dia ensolarado em nossa querida Osasco, São Paulo.
O mundo enfrenta uma pandemia do novo coronavírus (Covid-19) desde o início do ano. Até o momento, os números oficiais apontam que já foram contaminados mais de meio milhão de pessoas e já morreram mais de 23 mil. Após a pandemia atingir fortemente países como Itália e Espanha em número de mortos (mais de 10 mil italianos perderam suas vidas), agora é a vez do número de infectados crescer exponencialmente nos Estados Unidos e demais países das Américas.
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ATENÇÃO - Você que neste momento está lendo esta postagem, faça o seguinte: pare um instante. Inspire o ar profundamente... devagar... e expire. Faça mais uma ou duas vezes. E então?
Eu me arrepiei. Me emocionei... O simples fato de respirar! Essa é uma função biológica básica da vida. E às vezes nem ligamos para isso, já que é algo involuntário à consciência do ser vivente.
Esse vírus invisível, que atravessa vidros de lotéricas à prova de balas (eu juro que o imbecil na presidência do Brasil citou que os trabalhadores das lotéricas estão protegidos pelo vidro... vejam na internet), enfim, esse vírus ataca os pulmões e as pessoas não conseguem respirar, dizem que é como morrer afogado no seco. Que terrível deve ser isso.
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Neste sábado, os números oficiais do Ministério da Saúde (fonte: Carta Capital) apontam para 114 mortos e 3904 casos no país (devem ser muitos mais, só que estão destruindo as instituições de pesquisa de dados); a ampla maioria dos casos é no Estado de SP, e um dos epicentros é onde eu moro, região Oeste da grande São Paulo. (respirei profundamente... como é bom respirar!)
A gente nunca imagina o quanto a vida pessoal e coletiva, social, pode mudar de uma hora para outra por causa das decisões humanas e por eventos considerados naturais, vindos da natureza (vejam o que 57 milhões de eleitores fizeram conosco em 2018!).
Neste momento, meus entes queridos mais próximos, minha família de uma forma geral, meus amigos, estão respirando. Conhecidos meus já começam a apontar a perda de conhecidos vitimados pelo Covid-19. O amanhã num mundo de pandemia ninguém sabe.
Boa parte dos países fortemente atingidos pela pandemia tem em seus governos líderes e partidos de diferentes matizes ideológicas, mas todos caminham na mesma direção no combate à pandemia; são países com culturas seculares ou milenares e as populações têm civilidade. No Brasil nós temos Bolsonaro, bolsonaros...
O golpe de Estado em nosso país em 2016 foi o divisor de águas para a sociedade brasileira. Para se interromper os governos do PT, os avanços para o povo pobre e trabalhador por mais de uma década, apostou-se na destruição do país. Gente lesa-pátria da elite canalha e seus lacaios instalados no aparelho estrutural e ideológico do Estado dizimou não só o país como também aprisionou as mentes de parte do povo brasileiro.
Desculpem, amig@s leitores, a gente começa a pensar sobre a situação dramática em que nos encontramos e começamos a nos alongar. Estou sem ânimo para isso.
O que registro nestas reflexões de hoje é que o dia lá fora foi bonito. Eu fui ao mercado para comprar algumas coisas para casa. Quis comprar máscaras cirúrgicas para usar nas saídas de casa e não as encontrei em três farmácias. O mercado local em que fui estava lotado, corredores cheios, impossível não trocar o mesmo ar com as pessoas.
A questão de tentar limpar tudo com álcool e produtos de limpeza, a gente faz o que pode, mas como diz a minha mãezinha de 74 anos, é muito difícil porque se o vírus estiver em alguma coisa que entrou na casa, vai ser uma questão de sorte ou azar; ela diz que só Deus para proteger mesmo...
Outro dia ajudei a Rosângela no farol perto de casa. Conversei com ela alguns minutos. Ela pede ajuda naquele ponto já faz um tempo. É dramática a condição dela. Hoje conversei com o Henrique, que também é uma pessoa em situação de rua aqui da região. Com as ruas vazias, tá bem difícil pra eles.
Quando penso nas pessoas que estão nesta condição, Rosângela, Henrique, os moradores das favelas e periferias, minha família que é muito simples e sempre contou com ajudas diversas uns dos outros, me sinto um privilegiado, e isso porque tive trabalho, tive salário, tive teto pra morar, tive o que comer. Todo ser humano deveria ter esses direitos básicos porque o mundo tem riqueza para isso (só que está na mão de alguns humanos, menos de 1% deles).
Termino essa postagem respirando... respirando. Estou vivo! Estamos vivos. Mas pessoas estão morrendo por causa da miséria, por causa da pandemia, por causa do egoísmo. E tem uns bilionários que querem fazer de mim e de você uma porcaria de número. Dizem que tudo bem morrer "uns 7 mil". Não é possível que o mundo siga assim!
William
sexta-feira, 27 de março de 2020
Eleições Cassi em tempos de pandemia
Opinião
"Creio que não seria má ideia telefonar ao ministério a pedir informações sobre como está a decorrer o acto eleitoral aqui e no resto do país, ficaríamos a saber se este corte de energia cívica é geral, ou se somos os únicos a quem os eleitores não vieram iluminar com os seus votos..." (SARAMAGO, Ensaio sobre a lucidez, 2004)
A literatura mundial tem muita matéria disponível para ilustrarmos o cenário que vivemos nesses tempos disruptivos ou quase distópicos. Os "Ensaios" de Saramago são obras que poderiam se encaixar como uma luva no caso brasileiro para explicar no que nos transformamos em tão pouco tempo com as consequências da Lava Jato, a negativa do PSDB em reconhecer o resultado das eleições presidenciais de 2014 e o golpe de Estado em 2016. Vejamos um diálogo de personagens de Saramago:
"- Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem." (SARAMAGO, Ensaio sobre a cegueira, 1995)
Uma década antes da visão dantesca de destruição total do país sob a égide de Temer e do clã Bolsonaro e apoiadores babando ódio de tudo e todos, nosso país caminhava para ser a quinta economia do mundo, nossas empresas cresciam e vendiam serviços no mundo todo e o crescimento interno ia muito bem; o país era respeitado pela diplomacia mundial; havia oportunidades para todos e as pessoas eram felizes independente de suas posições pessoais de mundo; o desemprego era baixo e havia ascensão nos direitos em geral; havia liberdade e democracia e melhor distribuição da riqueza produzida no país. Pois é, essa era a realidade há poucos anos.
Mas não vou falar do Brasil agora. Quero falar é sobre o processo eleitoral da nossa querida Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, a Cassi, a mais antiga autogestão do país e que até pouco tempo era e poderia continuar sendo a maior autogestão em saúde dos trabalhadores do Brasil. Uma associação que era inclusiva e solidária em seu modelo de custeio mutualista intergeracional, no qual todo associado principal, a matrícula funcional, pagava a mesma porcentagem de seus rendimentos para participar do sistema de saúde com os mesmos direitos de acesso.
Hoje se encerram as eleições para parte da direção da entidade. É a primeira eleição regida pelas regras do novo estatuto social, que foi levado à consulta do corpo social faz poucos meses. Aliás, o resultado da consulta ao corpo social que gerou o novo estatuto está sendo questionado na justiça por divergências de entendimento por parte de segmentos de associados.
Antes do processo eleitoral, o país já vivia o cenário de destruição política, econômica e social que todos sabemos. A própria autogestão também vinha de processos desgastantes de embates entre capital e trabalho - patrocinador e associados -, desgastes oriundos de divergências normais entre os grupos políticos da comunidade BB por causa dos recorrentes desequilíbrios econômico-financeiros da operadora, e não vamos entrar aqui no mérito dos motivos diversos dos déficits dos planos de saúde da autogestão.
Ao olhar o painel de votação no site da Cassi do dia de ontem, 26 de março, uma certeza podemos ter ao analisarmos os números até às 17h: é uma das piores participações sociais em processos eleitorais na história recente da Cassi.
Será que isso é consequência da falta de "energia cívica" como diz a personagem de um dos "Ensaios" de Saramago?
A Cassi tem desafios difíceis pela frente. Os associados e futuros não associados - mas que seguirão sendo da comunidade BB e que deveriam estar associados à Cassi - têm desafios maiores ainda, caso queiram resgatar seus direitos na Caixa de Assistência. E uma das formas de organizar boas lutas por direitos é termos democracia na associação, termos boa participação social (pertencimento) e, consequentemente, boa representatividade dos dirigentes eleitos (estarem empoderados politicamente).
O processo eleitoral da Cassi deveria ter sido interrompido, suspenso, refeito, ou coisa do gênero, assim que o fator externo "pandemia do coronavírus - Covid-19" começou a alterar a normalidade do cotidiano do povo brasileiro, fato que coincidiu com o início da votação a partir da semana passada, dia 16 de março. Algumas decisões precisam de sensibilidade dos líderes dos processos e nem tudo deve estar alheio aos fatores que afetam a vida dos seres humanos, como se na sociedade humana tudo fosse "uma questão técnica".
Que representatividade terão os vencedores dessa corrida eleitoral na Cassi com os baixíssimos índices de participação de bases sociais importantíssimas da Caixa de Assistência? Estou usando os superlativos de propósito. A pandemia é superlativa e os 90 mil bancários estão com a cabeça em muitas coisas, como suas saúdes, a de suas famílias, seus medos e ansiedades pela exposição ao vírus etc, menos nas eleições da Cassi. O mesmo se dá com os aposentados: muitos estão sozinhos em quarentena, sem o carinho e companhia dos filhos e netos, ansiosos e com medo. Mil coisas passam por suas cabeças, menos a eleição da Cassi.
Até ontem, a participação dos associados do Rio de Janeiro para a eleição da diretoria e conselho deliberativo era de 30,13%, menos de 1/3 do eleitorado. Pior ainda para a eleição do conselho fiscal, 26,4%. Outros colégios eleitorais gigantes como SP, MG, DF e BA tinham índices de participação entre 33% e 40%. É muito baixo! Sem contar que não sabemos quantos eleitores decidiram votar "branco" ou "nulo", como ocorreu no "Ensaio sobre a lucidez" de Saramago.
Dos 166 mil associados com direito a voto, somente 64 mil votaram até ontem para diretoria e CD, cerca de 38%. Que representatividade política terão os eleitos para falar de igual para igual com o patrocinador nestes tempos difíceis que a Cassi enfrentará para sobreviver em um sistema de saúde brasileiro fragilizado por crise nunca vivida no setor? E pergunto isso, independente de vencer a chapa a, b, c, d, e, f. Quando fomos eleitos em 2014, só a nossa chapa obteve 31,5 mil votos (de 84 mil votos válidos). Em 2016, a chapa vencedora obteve 30,5 mil e em 2018 a chapa vencedora obteve 36,9 mil votos num processo com quase 100 mil votos válidos.
Enfim, acho lamentável a decisão tomada pela Cassi em manter o processo eleitoral em meio ao cenário externo que paralisou o país nas últimas duas semanas (e o mundo nos últimos meses). Entendo que seria mais adequado e mais oportuno que o processo se realizasse em outro momento. Seria melhor para todos, todos os envolvidos na gestão e na utilização de nossa Caixa de Assistência. Precisaremos de muita informação correta e unidade para que a Cassi supere o cenário dramático que virá do setor de saúde brasileiro.
William Mendes
Associado Cassi e Previ
Bibliografia:
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a lucidez. São Paulo, Companhia das Letras, 2004.
Site da Cassi, hotsite eleições 2020.
terça-feira, 24 de março de 2020
240320 - Diário e reflexões
Opinião
Pronunciamento irresponsável da maior autoridade política do país em cadeia nacional de TV pode ter uma estratégia: dividir e gerar raiva e ódio entre as pessoas
A fala do "presidente" (fraude!), contrária ao que dizem as autoridades sanitárias do mundo todo em relação à pandemia do Covid-19, pode ter um objetivo, uma estratégia: dividir a população para ter um segmento de apoio cego e irrestrito durante eventual caos e crise humanitária, política e econômica no país daqui algumas semanas.
O "presidente" repetiu para seus apoiadores o que seu ídolo do Norte também vem dizendo: que não se deve levar a sério o isolamento social para conter o avanço da pandemia. É evidente que há uma estratégia alinhada da direita bilionária organizada mundialmente para arregimentar parte das populações apavoradas e raivosas no mundo em provável crise econômica e humanitária que o mundo viverá. Há uma construção de narrativa, de versão.
Bolsonaro fez um pronunciamento em cadeia nacional repetindo o que já está combinado com seus apoiadores e financiadores da campanha presidencial, campanha amplamente questionada por suspeita de uso de estratégias ilegais como, por exemplo, ser favorecida pela produção de fake news contra os adversários ao custo de milhões de reais não contabilizados oficialmente.
O pronunciamento repetiu o que dizem seus aliados donos de bilhões - o empresário papagaio verde-amarelo, o empresário do "você está despedido!", o empresário dos hambúrgueres, dentre outros. Bilionários insensíveis que dizem que não tem problema algum morrer umas 7 mil pessoas porque a maioria seria de "velhos" mesmo ou gente doente que já iria morrer de qualquer maneira.
Bolsonaro consegue nos surpreender porque faz o que ninguém faria, porque nós estamos acostumados com a razão e esse momento político ao qual chegamos após o golpe de Estado no Brasil é de insânia e fanatismo, não de razão e diálogo. Talvez por isso o "clã" e aliados tenham chegado ao poder após o golpe e ruptura da normalidade. Lembra quando alertávamos sobre a abertura da Caixa de Pandora?
Bolsonaro consegue nos surpreender porque faz o que ninguém faria, porque nós estamos acostumados com a razão e esse momento político ao qual chegamos após o golpe de Estado no Brasil é de insânia e fanatismo, não de razão e diálogo. Talvez por isso o "clã" e aliados tenham chegado ao poder após o golpe e ruptura da normalidade. Lembra quando alertávamos sobre a abertura da Caixa de Pandora?
Talvez o personagem Capitão Nascimento tenha sido visionário no filme "Tropa de Elite 2 - o inimigo agora é outro" (2010). Na ficção, o crime organizado saiu das periferias da antiga capital federal e chegou às instâncias de poder do Estado burguês.
O cenário é novo e é bom que todos reflitam sobre essa nova realidade à luz da história do país. Em mais de um século de república no Brasil não tivemos uma guerra civil durante os frequentes golpes de Estado organizados pelas elites da casa grande porque os líderes no poder não queriam o nosso sangue derramado.
Getúlio em 1954 preferiu morrer e adiou um golpe em dez anos; Jango aceitou ser deposto pelo golpe sem estimular reação popular; os petistas Lula e Dilma idem, em relação ao golpe de 2016. Agora é diferente! Como diz o jornalista Nassif, esse grupo no poder não é da mesma natureza dos anteriores.
O cenário é novo e é bom que todos reflitam sobre essa nova realidade à luz da história do país. Em mais de um século de república no Brasil não tivemos uma guerra civil durante os frequentes golpes de Estado organizados pelas elites da casa grande porque os líderes no poder não queriam o nosso sangue derramado.
Getúlio em 1954 preferiu morrer e adiou um golpe em dez anos; Jango aceitou ser deposto pelo golpe sem estimular reação popular; os petistas Lula e Dilma idem, em relação ao golpe de 2016. Agora é diferente! Como diz o jornalista Nassif, esse grupo no poder não é da mesma natureza dos anteriores.
Temos no poder, de forma legítima ou questionável, alguém que sempre defendeu uma guerra civil, "matar uns 30 mil", ditadura, violência e mais violência, eliminação daqueles que pensam diferente. E tem como apoio setores poderosos como, por exemplo, parte do segmento de evangélicos, uma linha religiosa em ascensão no Brasil.
Estamos vendo a construção de um cenário caótico no país de forma proposital. É preocupante o andamento das coisas. Minha preocupação é com as pessoas, os seres humanos, com cada pessoa que se perca nessas guerras, seja contra a pandemia do novo coronavírus, seja pela disputa de hegemonia de poder na sociedade humana.
Espero estar errado. Ficarei feliz.
William
segunda-feira, 23 de março de 2020
230320 - Diário e reflexões
Apelos
O Brasil não acordou ainda para o que pode ser o cotidiano daqui a duas semanas. O ser humano do século 21 experimenta as coisas mais impensáveis e distópicas que os melhores autores ficcionais pensaram em obras de arte literária e visual ao longo dos últimos séculos.
Boa parte do conhecimento humano foi catalogado, disponibilizado na rede mundial - a internet - e ao mesmo tempo parte dos seres humanos regrediu intelectualmente ao período mental talvez dos hominídeos de dezenas de milhares de anos atrás. Qualquer embusteiro engana milhões de seres humanos nas coisas mais comezinhas.
É nesse cenário que o Brasil e os demais países do mundo lidarão daqui adiante com a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), que desde janeiro se espalha pelo mundo, ampliando o cenário já trágico da economia global, que vivia uma enorme crise do modo de produção capitalista e das doutrinas neoliberais de Estado mínimo e de permitir que alguns indivíduos (o 1%) acumulem "livremente" toda a riqueza humana enquanto os 99% vagam miseravelmente pelos esgotos do mundo.
Especialistas das áreas de ciências biológicas e médicas alertam que daqui a duas ou três semanas o Brasil passará a viver as consequências da expansão exponencial do Covid-19 e seus agravamentos com necessidade de internação e respiração artificial e o sistema de saúde público e privado vai colapsar e as pessoas começarão a morrer sem atendimento para todos. Isso não é ficção, é o quadro dos países que já chegaram nessa fase que se aproxima no Brasil.
ATENÇÃO: não morrerão só as vítimas do Covid-19 (alguns insensíveis dizem que é doença que só mata "velhos" - absurdo ouvir isso!), morrerão eu e vocês se tivermos infarto, AVC, apendicite, acidente de trânsito, se tivermos infecção, se cairmos em casa e quebrarmos o fêmur, tiro ou facada etc. Não importa o dinheiro e o plano de saúde porque não haverá vagas nos hospitais.
E nós não temos governo. O povo brasileiro está largado à própria sorte, o que já era bem complicado com o caos gerado pela destruição econômica e social já em andamento por causa do golpe de Estado, Temer e a demência coletiva bolsonarista. Mas os efeitos da pandemia daqui a alguns dias pode trazer uma convulsão social por fome, medo, raiva, pela falta de um Estado que dê apoio e esperança a milhões de pessoas.
Apelo às direções dos bancos
Todos nós que atuamos no segmento bancário ao longo de nossas vidas, trabalhadores da ativa e aposentados e seus respectivos representantes, fazemos um apelo para que as direções dos bancos dispensem os bancários imediatamente. O risco que eles estão sofrendo e toda a população por causa disso é incalculável pela capacidade de transmissão sem sintomas do vírus Covid-19.
Eu lidei por 4 anos com as estruturas de poder do maior banco público do país, viajei o Brasil de ponta a ponta em 165 agendas de gestão como diretor de saúde da autogestão Cassi. Conheci a capacidade de envolvimento dos administradores do BB quando o assunto é saúde. Tem muita gente boa nas posições de decisão do banco e este é o momento capital de cada gestor fazer o apelo pra cima, para seu superior e orientar que as pessoas sejam dispensadas nas redes às quais eles fazem a gestão.
Dispensem as pessoas, mantendo somente o necessário como os sindicatos estão pleiteando. Cada gestor que fizer isso estará salvando vidas, vidas e mais vidas. Por favor, dispensem os trabalhadores!
Apelo para que promovam o impedimento dos psicopatas do governo*
Esse apelo não sou eu, um simples cidadão, que está fazendo. Diversas autoridades intelectuais e lideranças das mais diversas linhas de pensamento político do país estão conscientes que cada dia a mais de governo Bolsonaro pode equivaler a milhares de mortos num dos momentos mais dramáticos do Brasil e do mundo após as guerras mundiais, Crash de 1929 e pandemias que devastaram o mundo como a de Gripe Espanhola de 1918.
É necessário que uma comissão da sociedade civil assuma o poder neste cenário e que tenhamos uma parceria nacional entre Governo Federal e Estados para enfrentar o próximo período da pandemia que pode durar meses e anos.
Assim como outros países com governos sérios no mundo, é necessário proteger a vida das pessoas, dar recursos do Estado para que fiquem em casa e assistência básica para os milhões de cidadãos que não têm casa neste momento de pico da pandemia e recessão econômica que será uma das consequências dela.
Apelo aos governantes que apoiem o povo com recursos, com renda básica imediatamente
São Paulo não chegou ainda ao momento de descalabro social e colapso que ocorrerá daqui a duas ou três semanas e a quarentena estadual passará a vigorar a partir desta terça 24, ficando abertos somente os estabelecimentos de necessidades básicas à vida das pessoas. A população deve ficar em casa nas próximas semanas (aqueles que têm um teto para viver). Antes do colapso, já vemos diferenças nas ruas.
Aqui em casa, eu sou a pessoa definida para sair e providenciar as coisas necessárias para a quarentena. Ao ir ao mercado a pé hoje pela manhã, já percebi muitas mudanças nas ruas quase desertas. Sabemos que muita gente está em situação de rua, pedindo ajuda às pessoas para viver. Um senhor me pediu ajuda dizendo que não comia desde ontem, e ao ajudá-lo ele começou a chorar... na volta uma senhora de uns 70 anos me pediu algo para comer, e após ela receber o alimento, ficou olhando a esmo. Amigos, que será dessas pessoas daqui alguns dias? E dos desempregados? E daqueles que vendem coisas para voltar com algum recurso para casa?
As pessoas precisam de dinheiro e é o Estado que deve fornecer para todos, como Suplicy defende há décadas (renda básica da cidadania). Milhões de seres humanos sem dinheiro algum, nem chance de consegui-lo para sobreviver, farão qualquer coisa que a natureza roendo o estômago lhes impulsionar a fazer. Podemos viver uma convulsão social.
Apelo à direção da Cassi
Faço um apelo à direção da Cassi que suspenda o processo eleitoral em andamento desde o dia 16 da semana passada. Não é possível manter essa falta de sensibilidade, essa visão burocrática das coisas, e achar que nada está acontecendo no Brasil e no mundo.
Os índices de participação estão baixos obviamente porque a coisa que menos importa para os bancários apavorados sendo obrigados a irem aos locais de trabalho com risco de contraírem o vírus é votar no processo eleitoral da Cassi. Dessa forma, o resultado não será um resultado representativo e justo, mesmo que digam que é "legal" ou coisa do tipo.
Interrompam essa eleição porque isso não é o mais importante para o momento que atravessamos! A direção da Cassi poderia envidar todos os esforços para dar os argumentos técnicos necessários às direções regionais e geral do Banco do Brasil do quanto é melhor os trabalhadores tomarem todos os cuidados que as autoridades sanitárias estão recomendando como, por exemplo, ficarem em casa.
Apelo para que as pessoas contatem umas às outras para acolher pessoas isoladas e dar conforto a elas
Por fim e não menos importante.
Façamos uma corrente de solidariedade e acolhimento durante esse período de quarentena que temos que fazer para salvar vidas e evitar ou amenizar as consequências da pandemia na vida de cada brasileiro e brasileira.
Os 4 anos de aprendizado que experimentei ao ser gestor da nossa Caixa de Assistência, e atuar na área da saúde especificamente, me deram a oportunidade de compreender o conceito de acolhimento com que a Cassi trabalha.
Nós temos aproximadamente 174 mil pessoas dos planos de saúde da Cassi com mais de 59 anos. É um número muito grande de pessoas que podem estar isoladas, sozinhas em casa, por serem a população com maior risco em relação ao Covid-19.
Além dessas pessoas mais idosas, a população de trabalhadores e aposentados e pensionistas do BB e da Cassi também tem uma legião de pessoas com uma, duas ou mais comorbidades e são pessoas crônicas que precisam de atenção, medicação de uso contínuo e outros cuidados como, por exemplo, atenção e apoio psicológico.
Contatem essas pessoas, pergunte como elas estão, conversem com elas, dividam angústias mas também falem de amenidades, lembranças. Enfim, acolham essas pessoas. Cada pessoa é única e o isolamento sem poder fazer a rotina que anima cada uma delas diariamente pode ser algo difícil e podemos contribuir para amenizar o desconforto dessa quarentena.
É isso! Vamos superar esse momento e vamos sair melhores dele.
William
*Post Scriptum:
Após ouvir um debate entre o jornalista Luis Nassif, a psicanalista Ana Laura Prates e a procuradora regional da república Eugênia Augusta Gonzaga, fiquei convencido de que agi por impulso ao reivindicar como muita gente a "interdição" do cidadão na presidência. Ele deve ser impedido e não "interditado". Interdição de pessoas nem existe mais na legislação brasileira desde 2015, segundo as informações no debate que vi. Peço que os interessados vejam a discussão em vídeo, é muito esclarecedora: aqui
Em linhas gerais, não seria nem estratégico nem correto tratar o caso Bolsonaro com uma lógica de patologização de seus atos como se ele fosse louco porque há uma luta histórica na questão manicomial. Os crimes desse cidadão estão previstos nas leis e normas, basta que se apliquem as leis para impedi-lo. Se o sujeito fosse considerado inimputável, ele não seria responsabilidade pela quantidade de crimes e quebras de decoro que pratica diuturnamente. Além de ser uma forma bastante despolitizada de tratar o caso Bolsonaro e seu clã na política.
domingo, 22 de março de 2020
220320 - Diário e reflexões
Domingo coronavírus, sol lá fora e apreensão cá dentro. |
Como pertencemos a grupos sociais, me preocupo também com os bancários e com os colegas aposentados e com a enorme incidência de cronicidades em suas condições de saúde
O mundo enfrenta uma pandemia de coronavírus, Covid-19, desde o início do ano. Após ser identificado na Ásia, inicialmente na China, e depois passar por outros países orientais, chegou à Europa, atravessou os oceanos e agora é a vez das Américas.
As consequências mais mortais ou menos mortais da pandemia têm sido relacionadas com a forma como cada governo lidou com ela, fazendo quarentenas menos ou mais restritivas, mitigação ou supressão de circulação, distanciamento social e isolamento de infectados, rapidez nas medidas, orientações adequadas, boa estrutura de atendimento à saúde ou não para as vítimas agravadas.
A recomendação para todos nós é de quarentena, não sair de casa. Se precisar sair, que seja para o estritamente necessário como comprar mantimentos, medicamentos ou algo de elementar para a sobrevivência e que se faça toda a higienização preventiva explicada pelo meios informativos.
Eu gostaria de ocupar o tempo da quarentena forçada pela pandemia para fazer uma das coisas que mais gosto na vida: ler e estudar. Mas eu não consigo! É da minha natureza pensar o homem, pensar a sociedade, pensar o mundo. Minha natureza é de um cidadão politizado e militante, e de envolvimento com as questões sociais.
É enorme a minha preocupação com os milhões de cidadãos que não têm como ficar em casa porque não têm casa, estão nas ruas; com os milhões de brasileiros que vivem nas favelas e periferias, sem a menor condição de "isolamento" num barraco onde moram cinco, dez, quinze pessoas, e desempregadas; preocupação com os milhões de pessoas que voltaram para a pobreza e extrema pobreza sem ajuda de programas sociais e sem emprego formal e direitos, por causa do golpe de Estado e dos celerados, corruptos e psicopatas que assumiram o país após o fim da democracia.
A pandemia já demonstrou por onde passou que uma das consequências que ela traz é o colapso dos sistemas de saúde e é por isso que as autoridades internacionais e os países que já estão lidando com a doença em seu avanço e pico orientam que as medidas de mitigação e se possível de contenção de circulação sejam feitas o quanto antes, para evitar o pico de pessoas contaminadas e com necessidade de atendimento com internação e respiração artificial. O sistema não dá conta da demanda de uma vez de casos muito acima da estrutura existente.
ME PREOCUPO TAMBÉM COM OS COLEGAS BANCÁRIOS, OS APOSENTADOS E OS DOENTES CRÔNICOS DA COMUNIDADE BB
Estou preocupado também com as pessoas da comunidade bancária à qual pertenço, à qual passei a minha vida laboral defendendo como dirigente sindical e como gestor de saúde em meu último mandato de representação, na Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. Quem me conheceu durante minha atuação de dirigente, sabe do trabalho que fiz pelos bancários do BB e pela Cassi, seu modelo de saúde e os direitos em saúde dos associados.
Eu quase não dormi por 4 anos para conhecer o sistema, para defender os bancários, para desenvolver estudos que comprovassem a eficiência do modelo assistencial da autogestão Cassi, para viajar o país e apresentar a Caixa de Assistência, envolver os intervenientes do sistema, dar pertencimento aos associados, pedir parcerias em saúde com os órgãos regionais do Banco do Brasil e para fortalecer o sistema de participação e fiscalização dos participantes: os conselhos de usuários, os sindicatos e associações em todo o território nacional.
Depois que deixei o movimento sindical e a representação de classe, nesses quase dois anos, praticamente deixei de escrever sobre as questões relativas a essa dimensão social de nossa vida. Uma vez ou outra, o coração aperta, o cérebro não para de me cutucar e sou obrigado a sentar e escrever alguma coisa. Foi assim que opinei poucas vezes sobre os debates da Cassi após sair do movimento.
A pandemia que chegou ao Brasil tem feito com que eu não consiga fazer mais nada por ficar pensando naqueles que defendi e representei por tanto tempo na vida: os bancários em geral e os bancários da ativa e aposentados do Banco do Brasil. E aí não tem como não pensar na Cassi, no modelo assistencial de Estratégia Saúde da Família (ESF) e Atenção Primária em Saúde (APS), os programas de saúde que deixamos funcionando bem - apesar da falta de recursos e investimentos -, no quadro de funcionários da Cassi (um patrimônio nosso) e nos usuários do sistema, sobretudo nos milhares e milhares de participantes crônicos acompanhados pela ESF em todos os Estados e DF.
Eu sei que não deveria ficar horas e horas com a cabeça focada nessas questões da comunidade BB como fiquei por quase duas décadas de representação porque os associados têm seus representantes, mas é difícil não me preocupar. A gente acaba abrindo documentos e mais documentos, fontes e mais fontes de dados sobre a Cassi, seu sistema e os participantes. Porque eu conheci profundamente a autogestão. E me desespero ao ver de longe tudo que estão desfazendo em nossa Caixa de Assistência, a começar pela quebra da solidariedade, palavra que volta à agenda mundial por causa de uma pandemia que pode alterar os rumos da sociedade mundial hegemonizada pelo modelo econômico e político neoliberal de Estado mínimo e concentração de renda como nunca visto.
Finalizo esta reflexão dividindo com vocês minha preocupação após olhar e relembrar um pouco a grandeza dos números da Cassi em relação ao perfil de sua população idosa e crônica, parte dela já cuidada pelo modelo assistencial ESF/CliniCassi. O modelo e o perfil populacional evidenciam a importância dos programas de saúde para uma comunidade de brasileiros e brasileiras cujo número de pessoas com mais de 59 anos é de 174 mil assistidos e que em algumas bases da Cassi no país chegam a representar 46% dos participantes do Plano de Associados, e a grande maioria é de pessoas com doenças crônicas, ou seja, grupos de risco em relação à pandemia que chega ao Brasil.
De verdade, me preocupo com as mudanças que fizeram nos últimos dois anos no Programa de Assistência Farmacêutica (PAF) da Cassi, um programa que sempre foi essencial para o bom funcionamento do modelo assistencial da nossa autogestão. A título de exemplo, no início de 2018, tínhamos mais de 10 mil cadastrados em São Paulo, assistidos pelo programa e que recebiam os medicamentos em casa, e estamos falando de 645 municípios do Estado. A Cassi mudou o processo conforme matéria informativa em seu portal em 23/11/18 (ler reprodução abaixo) e hoje os participantes precisam sair e comprar os medicamentos. Será que esses participantes crônicos estarão medicados nos próximos meses de quarentena que o país vai enfrentar?
Como ex-gestor do modelo assistencial e associado, também vi com preocupação as mudanças ocorridas na Limaca (lista de materiais e medicamentos abonáveis pela Cassi). Aliás, através de uma das matérias que fala das mudanças (em 26/12/19), também soube que outras bases com milhares de participantes com doenças crônicas (MG, RJ e ES), bases com enormes quantidades de idosos, a Cassi mudou o modelo de acesso, não fornecendo mais os medicamentos por distribuidores logísticos e exigindo que as pessoas comprem por conta própria e peçam reembolso.
Espero que todos esses participantes estejam medicados. O nosso programa tinha como uma de suas premissas o fato de ser solidário no acesso ao medicamento, independente se o associado crônico estivesse nas grandes cidades, com mais acesso a redes de farmácias, ou em locais afastados dos grandes centros. A autogestão mantinha estáveis pessoas com doenças crônicas, evitando assim agravamentos e crises agudas, que exigem a busca de rede credenciada e internações hospitalares, infinitamente mais onerosas e com mais riscos para os assistidos.
Imaginem a dificuldade de acesso que teriam os participantes crônicos da Cassi em eventuais crises e agravamentos por não tomarem os medicamentos de uso contínuo em um sistema de saúde colapsado pela pandemia.
Bom domingo a todos e todas. E fiquem em casa, por favor!
William
Post Scriptum:
Imaginem vocês a dificuldade que um participante terá para conseguir encontrar medicamentos à base de cloroquina após o sujeito na Presidência do Brasil fazer um vídeo falando fake news a respeito desse medicamento sem nenhuma confirmação ainda sobre eventual eficácia dele no combate ao Covid-19?
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CASSI muda fornecimento de materiais e medicamentos do PAF em SP
Publicado em: 23/11/2018
Os participantes do estado de São Paulo atendidos pelo Programa de Assistência Farmacêutica (PAF) terão acesso ao benefício exclusivamente pela modalidade de reembolso. A medida é válida desde o dia 23 de novembro.
A compra de materiais e medicamentos autorizados pelo PAF deverá ser feita pelo próprio associado, no local de sua escolha, com posterior pedido de reembolso eletrônico. Os medicamentos e materiais serão reembolsados na forma autorizada pela CASSI.
A ferramenta de solicitação de reembolso já está disponível no site da Caixa de Assistência, na área logada (Serviços para você) do perfil Associados. O recurso possibilita que os pedidos sejam encaminhados pela internet, por meio da digitalização da documentação exigida. Para a Assistência Farmacêutica, é necessário:
• Envio de nota fiscal ou cupom fiscal* contendo: data de emissão; nome e CNPJ da entidade; discriminação e quantidade dos materiais e medicamentos adquiridos - miligramagem no caso de medicamentos -, valores unitários e totais.
O sistema exigirá que o participante digite o número de autorização fornecido pela Unidade.
Existem entregas de medicamentos em andamento com previsão de chegada às residências dos participantes até o dia 30/11/2018. Assim, a CASSI orienta verificar o estoque de medicamentos recebidos anteriormente e, nos casos possíveis, realizar a compra após esta data.
A distribuição dos medicamentos antineoplásicos (oncológicos) de uso oral domiciliar e de fornecimento obrigatório, em razão de normativo da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), não será alterada. Ou seja, tais medicamentos continuarão a serem entregues pela CASSI no local indicado pelo participante.
Em caso de dúvidas, contate a CASSI São Paulo ou a CliniCASSI mais próxima por meio do “Fale com a CASSI”, no site www.cassi.com.br, opção “Canais de Atendimento”.
Fonte: Cassi
sábado, 21 de março de 2020
200320 - Diário e reflexões
Hibisco branco foi a flor que veio à mente para ilustrar a reflexão. |
A sexta-feira foi de busca de informações, preocupações diversas com as pessoas, com os pais e familiares, com o país e o povo brasileiro, com a comunidade bancária à qual pertenço, a dos trabalhadores da ativa e aposentados do Banco do Brasil. Aliás, uma comunidade com características muito especiais que vou abordar qualquer dia desses nas reflexões que estamos fazendo. Estou indignado em ver os banqueiros exigindo que os bancários sigam trabalhando e se expondo à pandemia.
Nas reflexões de ontem (ler aqui), falei do quanto é importante que todos nós comecemos a contatar as pessoas que conhecemos e inclusive as pessoas que pudermos contatar mesmo sem conhecê-las ainda, mas que estejam em condições de isolamento, como idosos e pessoas com doenças crônicas que precisem tomar todos os cuidados para evitar o contágio do Covid-19, segmento da população que apresenta risco maior por causa da baixa imunidade e maior idade.
Ao ver a forma como o "governo" brasileiro vem tratando a pandemia é inevitável que qualquer pessoa com consciência humana se sinta revoltada e indignada. Nós não temos governo! O "presidente" (fraude!) e o seu ministro Posto Ipiranga não têm a menor consideração pelos seres humanos. Caia um meteoro na Terra ou a pandemia extermine a totalidade do povo por não ter atendimento de saúde, os caras nem cogitam colocar recursos de verdade no salvamento das vidas do povo brasileiro.
Durante quatro anos tive a oportunidade de atuar como gestor de saúde em uma das maiores operadoras de autogestão do país. Foi um aprendizado exponenciado que muda a vida de qualquer dirigente e administrador. A partir dessa experiência minha consciência de classe e conhecimento de sistemas de saúde me permitem ter hoje mais noções de causas e consequências das decisões políticas que os burocratas e capitalistas tomam em relação ao tema, como a trágica Emenda 95, que congelou os investimentos na saúde por 20 anos.
A destruição proposital do Sistema Único de Saúde do Brasil (SUS) pode ter como consequência uma das maiores tragédias humanitárias da história de nosso país simplesmente por sucatear o maior sistema público de saúde do planeta, em relação aos números e grandezas. Congelar as verbas da saúde por 20 anos como fizeram após o golpe de Estado em 2016 já se mostrava um crime hediondo e de lesa-humanidade antes do advento da pandemia. Bilhões de reais foram retirados da saúde do povo brasileiro.
O ataque ao SUS ocorreu num momento trágico, ou seja, ao mesmo tempo em que milhões de pessoas voltaram à miséria, sem direitos básicos e sem planos privados de saúde - sistema de saúde suplementar que também enfrenta crise há anos. E agora chegou uma pandemia global num país com muito mais pobreza por causa da pauta dos golpistas destruidores de direitos humanos e ainda temos dificuldades de calcular a extensão do que pode acontecer com a chegada do novo coronavírus ao Brasil sem governo.
Estou com o coração apertado ao pensar nos milhões de trabalhadores sem teto e moradores das favelas e periferias das cidades brasileiras, e dos trabalhadores assalariados que começam a ser despedidos em massa e estou preocupado com os milhões de trabalhadores informais que não terão dinheiro algum para comer e sobreviver, enquanto o 1% no poder continua com suas retóricas vazias, e usando a tática que levou a ultradireita ao poder: mentir, mentir, fazer uma merda diária para tirar atenção do essencial e seguir desviando o foco dos problemas do povo.
Dramático o cenário! Mas não podemos esmorecer. Espero ver o Brasil e os brasileiros superarem a tragédia humanitária que se aproxima e superarmos essa cegueira que tomou conta de nós ao nos manipularem para termos ódio e intolerância, medo e egoísmo, de forma a permitirmos que alguns canalhas da casa grande capturassem nossas consciências a ponto de perdermos a razão e o país ter chegado a colocar no poder esse bando de lunáticos e corruptos lesas-pátrias.
Por fim, como sugeri ontem, consegui contatar duas pessoas hoje pelas quais tenho grande apreço e carinho, dois colegas da comunidade Banco do Brasil. São aposentados que seguem na luta por justiça e por um mundo melhor para a classe trabalhadora. Os contatos me deixaram feliz, partilhamos angústias e nos animamos mutuamente (uma das conversas durou uns quarenta minutos rsrs). São pessoas idosas e que merecem todo o nosso carinho e atenção, pois dedicaram a vida inteira à defesa dos direitos dos bancários e dos brasileiros.
Seguimos firmes. Vamos enfrentar a pandemia. Vamos enfrentar a cegueira política que se abateu sobre o povo brasileiro. Vamos viver e vamos ver ainda o nascer de um país que vai superar essa demência coletiva chamada bolsonarismo.
William
quinta-feira, 19 de março de 2020
190320 - Diário e reflexões
"Asmac", desenho de meu filho, feito em computador quando ele tinha uns dez anos. Temos que ser como as crianças. |
"Mandem uma mensagem de carinho ou liguem para alguém diariamente para confortar as pessoas que estão sentindo medo. Para dar o ombro. Para fazer a pessoa sozinha ser lembrada."
A pandemia do novo coronavírus se espalha pelo Brasil e pelo mundo. O crescimento do número de possíveis novos casos é exponencial. Segundo os dados de hoje do Ministério da Saúde, são 621 casos confirmados do Covid-19, a maioria estando concentrada em São Paulo. O Sudeste registra 391 desses casos confirmados. Existem ainda outros 11 mil casos suspeitos no país. Neste início da pandemia, já temos 7 mortes. (Fonte: página de Carta Capital)
Assim como os demais países do mundo, onde medidas de restrição de circulação são tomadas, o Brasil e os governos estaduais e municipais começam a determinar restrições com o objetivo de manter as pessoas em casa. Fronteiras foram fechadas, aeroportos e terminais rodoviários começam a restringir ou impedir a circulação. Comércio começa a parar. Ficarão funcionando as áreas de alimentação, segurança, saúde, distribuição e manutenção de serviços de utilidade pública.
Segundo a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), do início da pandemia até 17 de março, foram registrados 191.127 casos e 7.807 mortes em todo o mundo, a maioria na China, Itália (que ultrapassou hoje o número de mortos na China), Irã, Espanha e França (Fonte: página da OPAS). A Itália registrou 3.405 mortes até hoje e a China anunciou que não houve nenhuma nova transmissão local.
Amig@s leitores, como disse ontem em minhas reflexões (ler aqui), ainda é impensável o que pode ocorrer no Brasil porque não temos governo, vivemos um momento de apagão mental do povo, uma esquizofrenia coletiva que elegeu um bando de lunáticos (eleições marcadas por fatos ilegais como fake news, impedimento do principal candidato à presidência etc). Também foram eleitos país afora gente muito barra pesada, envolvida com o que há de pior em termos de violência e barbárie.
Por mais que não se possa imaginar a dor e o sofrimento dos outros, a todo instante a gente tenta se ver na situação das pessoas (empatia) e percebe o quanto nós que temos casa e alguma fonte estável de recursos somos privilegiados, pois milhões estão em situação de rua.
Dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras estão concentrados em favelas, em locais sem infraestrutura alguma de saneamento. Talvez metade da população, 100 milhões de pessoas, só terá o que comer à noite se trouxer algum troco do bico que fez de dia. E o "governo" dos ricos segue com sofismas e lero-lero.
A população mais carente sofrerá muito mais como historicamente ocorre em crises econômicas, políticas e humanitárias. Estamos todos com medo, tristes, apreensivos. Mas temos que buscar um equilíbrio interior ou inventar um. Temos que aproveitar para repensar tudo o que vem ocorrendo conosco.
O ser humano não é nada sem os outros. Então, por que não repensar o mundo agora? Distribuir a riqueza gerada por todos? Repensar o consumo e exaustão do planeta Terra? Até a Idade Média, a fome era uma realidade por falta de tecnologia; hoje é uma realidade da política porque alguns têm tudo e o restante não tem nada.
Deixo aqui o meu abraço virtual e fraterno a todos e todas, o momento é de tentar superar o ódio e a intolerância que nos inocularam para nos cegar e nos dividir, para interromper os processos de avanços para o povão e as chamadas "classes médias" (não gosto do termo).
Mandem uma mensagem de carinho ou liguem para alguém diariamente para confortar as pessoas que estão sentindo medo. Para dar o ombro. Para fazer a pessoa sozinha ser lembrada.
Nunca sabemos se o Covid-19 está em nós. Mas temos razão, coração e uma história de vida. Nossa formação política e humana foi de amor ao próximo e solidariedade, não de destruição, ódio e morte ao que pensa diferente de nós.
William
quarta-feira, 18 de março de 2020
180320 - Diário e reflexões
"O esparramento de cores", desenho de meu filho, feito no computador quando ele tinha uns 10 anos. |
A quarta-feira foi de panelaços contra a insânia e a destruição do país causada pelo bolsonarismo. O movimento pacífico e democrático ocorreu em várias partes do país. É um raro momento de superação do medo por parte dos revoltados ou indignados que ainda não perderam a capacidade de raciocinar e de sentir.
É difícil não ficar estupefato ao ver um adulto que passou décadas crescendo e se desenvolvendo como ser humano e após essa jornada existencial vê-lo virar um bolsonarista. Difícil compreender.
O mundo está enfrentando uma pandemia de um novo tipo de vírus, o coronavírus, ou Covid-19. A doença está causando muitas mortes pelo mundo e agora chegou ao Brasil.
O sujeito na Presidência (fraude!) ficou até agora fazendo piada e palhaçada em relação à pandemia, em relação à crise econômica e humanitária, em relação à situação desgraçada dos pobres e da classe trabalhadora, em relação a tudo.
Até o momento, já são 17 humanos do entorno presidencial cujos testes deram positivo para o Covid-19. Eles estiveram com o indivíduo sem noção em viagem recente. O "presidente" viajou aos Estados Unidos quando o mundo todo já estava restringindo movimentações de pessoas para evitar que o vírus se alastrasse.
Mesmo assim, nesta semana - domingo 15/3 - o sujeito abraçou e tocou centenas de pessoas convocadas para apoiar o governo dele e que vociferavam palavras de ordem contra a democracia, o Congresso, o STF e pediam golpe e ditadura militar.
Estamos nos preparando nestes dias para a possibilidade de ficarmos semanas confinados em casa, isto é, aqueles privilegiados que têm casa nesta eterna colônia de impérios, já que milhões de brasileiros estão em situação de rua, sem Bolsa Família, sem nenhum apoio de programas sociais e sem emprego - formal ou informal.
É quase impensável o que pode vir por aí... todos estamos com medo, e com revolta, e com tristeza. Vamos ter que buscar dentro de nós toda a resistência e resiliência necessária ao viver. Buscar sentidos e esperanças.
Temos que falar de valores, de solidariedade, de amor ao próximo, de empatia, de economia; falar sobre o planeta Terra - nossa única casa. Temos que falar e escrever.
William
terça-feira, 17 de março de 2020
170320 - Diário e reflexões
"Uma imagem gelada", desenho de meu filho aos 10 anos de idade. Que as crianças tenham oportunidades para iluminarem as cabeças dos adultos desse momento difícil da história. |
Ao descer pelo elevador, encontro o vizinho simpático que tem uma filhinha linda e uma esposa de aparência enérgica. As impressões são leituras de encontros esporádicos de elevador e hall do condomínio e também da troca de pequenos diálogos entre as duas famílias, a nossa e a deles. Sabemos que ele é mais uma vítima do desemprego que assola o país, e por vermos que vão aos cultos com regularidade, pode ser que pertençam a alguma linha de evangélicos. Nos parecem pessoas simples e muito boas.
No curto espaço de tempo da descida do elevador, ele comenta comigo a nova rotina causada pela pandemia mundial do coronavírus. Estava levando a menina para ficar com a avó, já que a partir desta semana não haveria mais necessidade de ir para a escola e as aulas estarão suspensas a partir da próxima semana por prazo indeterminado.
Ao sairmos do elevador, inocentemente ele me diz que era preciso que alguém desse um jeito de cobrar dos chineses por toda essa crise causada pela pandemia do coronavírus. Após a surpresa usual que adquirimos por ouvir absurdos nos novos tempos olavistas de pandemia de ignorância e terraplanismo, pensei se dizia algo ou só fazia cara de poste.
Eu já prometi a mim mesmo que não iria me desgastar com discussões inúteis com essa nova geração de seres humanos, nascidos das manipulações e exposições a mentiras contadas mil vezes, como aquelas organizadas pela mídia empresarial (Partido da Imprensa Golpista - PIG), por alguns tipos de igrejas-empresas como essas pentecostais ou neopentecostais e pela direita política.
Como tenho um certo carinho por essa família, e não quero iniciar discussões políticas com ela, toda vez que escuto um comentário do vizinho que é uma evidente reprodução desses discursos cujas fontes são as fake news, os "pastores" ou o PIG, discursos muitas vezes distantes da realidade factual, fico calado, dou aquele sorrisinho educado e fica por isso mesmo. Que fiquemos só na previsão do tempo, time de futebol e só.
Hoje não aguentei e acabei falando algo rapidamente, já me despedindo, sobre a afirmação dele a respeito dos chineses ("malditos"?) que supostamente causaram esse furdunço todo no mundo. Disse a ele que talvez os chineses não fossem os vilões dessa desordem mundial toda. Talvez fossem outros os motivos. E perguntei se ele já ouviu falar em guerras biológicas e coisas do tipo (suposições por suposições, fico com a minha, talkey?).
Depois dei um aceno de mão à distância - coronavírus - e cada um seguiu seu rumo... Eu saí pela rua falando sozinho e em voz alta como se fosse um desses loucos mansos... talvez sejamos todos loucos e só mesmo Simão Bacamarte fosse são neste mundo real e ficcional (hoje é tudo a mesma coisa).
William
segunda-feira, 16 de março de 2020
Os trabalhadores são o maior patrimônio da Cassi
Opinião
"O óbvio é aquilo que nunca é visto até que alguém o manifeste com simplicidade" (Kahlil Gibran)
O QUE É A CASSI?
Durante quatro anos, eu viajei o país conhecendo cada unidade administrativa da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, a operadora de saúde no modelo de autogestão conhecida como Cassi. Era o que tinha que ser feito para que eu conhecesse a instituição que administrava, e era meu papel de gestor do modelo assistencial e das 27 unidades que fazem com que o modelo funcione num país continental. Eu segui o que estava determinado no Estatuto Social de 1996/2007 em relação às funções da Diretoria de Saúde e Rede de Atendimento.
Conheci não apenas as unidades; conheci a maior parte das CliniCassi, 43 das 66 existentes. E mais: eu fazia reuniões com os trabalhadores da Cassi, ouvia o que eles pensavam, os problemas reais que enfrentavam no dia a dia para acolher e cuidar de todos os participantes daquela região, levava as questões para a sede em Brasília; com isso, eu realmente passei a conhecer os excelentes profissionais que a autogestão tem. Nunca um gestor da empresa havia feito isso.
Ao conhecer os trabalhadores da nossa entidade de saúde, passei a falar e escrever que o maior patrimônio da Cassi eram os nossos profissionais. Conheci centenas de histórias, de casos diários em cada canto do país onde uma vida havia sido salva, uma solução em saúde havia sido alcançada porque os profissionais da Cassi deixaram casa, família, compromissos pessoais diversos por causa da necessidade de um participante da comunidade Banco do Brasil.
Ver, ler e ouvir tanta coisa sem sentido quando se fala da Cassi causa em mim um misto grande de tristeza e revolta. Ao sentir a necessidade de escrever mais uma vez sobre nossa Caixa de Assistência tentei achar alguma citação, uma epigrama, uma referência para expressar o que quero dizer, algo que reforçasse a realidade objetiva de que as coisas são como são. Como estou sem paciência para intelectualidades e citações, até porque vivemos num mundo doente, onde verdades e fatos não importam mais, acabei usando a frase de Kahlil Gibran, que ganhei de presente dos trabalhadores da Cassi em uma bela placa numa das visitas de trabalho em uma unidade.
Estamos no período de processo eleitoral na Cassi. Não vou falar sobre isso e muito menos sobre as chapas concorrentes. Conheço integrantes de duas delas e respeito as pessoas. Como não opinei sobre nada durante o processo político de formação das chapas, não tenho compromisso com nenhuma delas. E confesso que será difícil escolher em qual votar.
FIM DA SOLIDARIEDADE E DA PARIDADE RELATIVA NA GESTÃO
Muita coisa mudou e mudou rapidamente desde que deixei a gestão da Caixa de Assistência faz dois anos. Assim como o país afundou após a Lava Jato, o golpe de Estado em 2016 e a eleição de uma legião de "haters" para as principais funções do Estado nacional; assim como o povo brasileiro sofreu a influência negativa dos mecanismos de manipulação de comportamento de massas; a Cassi também não é mais a mesma e a destruição do Sistema Único de Saúde (SUS) põe em risco a vida de milhões de pessoas, põe em risco inclusive a existência de sistemas privados de saúde como a Cassi.
A reforma estatutária de 2019 alterou a essência da Caixa de Assistência, o Plano de Associados, que deixou de ser inclusivo e solidário. Não é adequado dizerem que a solidariedade está mantida. Seria mais coerente com a história do Plano de Associados afirmarem que o contexto nos levou a abrir mão da solidariedade. E mais: a reforma piora muito qualquer intenção de um representante eleito em fazer algo em benefício dos associados, pois o patrocinador já tinha grande poder com o estatuto anterior e as normas internas, porque o patrão vetava qualquer avanço popular através de travas internas: sua metade sempre era coesa e obedecia ordens, enquanto os eleitos tinham que construir a igualdade. Agora com mais poder interno na gestão na mão do presidente, perde muito um diretor que tenha alguma independência como tivemos. Eu não teria conseguido fazer quase nada dos avanços na área da saúde com as novas regras.
DIRETOR ELEITO SEM PODER - Pior ainda, soube que antes mesmo da reforma, mudaram as regras internas e acabaram com a autonomia do diretor eleito de nomear sequer o seu staff, seus gerentes executivos. Se isso for verdade, é uma decisão ridícula e cômica, se não fosse trágica. Para vocês entenderem, seria o mesmo que Lula ser eleito e ter que fazer o mandato com os "ministros" de Bolsonaro, ou o inverso, Bolsonaro ser eleito e ter que manter os ministros "comunistas" do petismo. Em termos administrativos e de gestão os retrocessos contra os associados da associação Cassi são terríveis. Lembrem-se: quem demanda saúde é gente, não banco; quem demanda saúde são trabalhadores da ativa e aposentados e não banco.
MERCADO E AGENTES EXTERNOS NÃO SÃO REFERÊNCIAS PARA A AUTOGESTÃO CASSI
Mas a necessidade de escrever mais uma vez sobre a Cassi é para expressar o meu incômodo ao ficar ouvindo falarem mal da Cassi, muitas vezes elogiando porcarias de fora. Dizer que a nossa autogestão tem que ser "profissionalizada", que a operadora é ineficiente e bobagens do tipo ofende a inteligência daqueles que conhecem os trabalhadores da Cassi e desmerece aqueles que diariamente estão salvando vidas, usando da criatividade para solucionar problemas oriundos do caos da estrutura de saúde do país e muitas vezes se viram para fazer o melhor pelos participantes mesmo quando decisões pouco inteligentes são feitas na direção da empresa. Os profissionais da Cassi chegam a virar jornadas de trabalho para não deixarem na mão um único participante lá nos confins do país; usam recursos próprios para viajar aos interiores dos Estados quando a sede veta recursos necessários para o funcionamento normal da empresa. Acolhem os participantes, conceito muito mais amplo que "atender".
Afirmo para vocês: os profissionais da Cassi são excelentes e produzem conhecimento em suas áreas quando lhes dão condições mínimas para isso. Durante 4 anos, pedi aos trabalhadores das gerências de saúde e rede de atendimento e às unidades estaduais sugestões e ideias para desenvolvermos os estudos que fizemos para provar que a Estratégia Saúde da Família (ESF) e a Atenção Primária em Saúde (APS) eram eficientes para a Cassi, e fizemos isso mesmo sem uma TI adequada; eles arregaçaram as mangas e nós apresentamos estudos nunca feitos na Cassi e com isso começamos a desfazer maledicências e mal-entendidos sobre o modelo e sobre a própria estrutura da autogestão.
Eu poderia dar numerosos exemplos do profissionalismo dos trabalhadores da Cassi, que muitas vezes ganham menos que seus pares no mercado de saúde (por isso a Cassi perde tantos profissionais para os concorrentes).
MEMORANDO DE ENTENDIMENTOS (RESULTADO DE LUTA UNITÁRIA E COLETIVA)
A entrada de recursos extraordinários de 1,5 bilhão entre 2016 e 2019, fazendo o banco assumir que também tinha responsabilidade pelos resultados operacionais deficitários da Cassi foi fruto de uma histórica unidade entre as forças políticas do movimento da comunidade BB. Nós contribuímos para isso. A direção do banco queria que só os associados arcassem com os déficits históricos do Plano de Associados, sendo que ele mesmo, patrocinador, tem grande responsabilidade sobre os déficits. Mas toda negociação coletiva traz pontos que são pautados tanto pelo lado patronal quanto pelo lado dos trabalhadores. A chegada de uma consultoria contratada e paga pelo banco é uma dessas questões.
Quando o patrocinador contratou a SUA consultoria para tentar impor os SEUS objetivos empresariais na NOSSA Caixa de Assistência nós da área da saúde e dos eleitos estávamos preparados, preparados como nunca antes (post scriptum: ou como poucas vezes antes). Então a discussão interna entre os técnicos deles e os nossos foi de igual para igual. Assim, na fase de trabalho conjunto, entre setembro e dezembro de 2017, ficou difícil para a consultora do patrão questionar os pilares do modelo, sua eficiência e os resultados positivos para a Cassi. Estávamos lá. Tanto é que eu questionei em artigos o quanto foi ruim para a parte dos associados e favorável ao patrão a tal consultoria demorar tanto para chegar à Cassi: quase um ano entre 2016 e 2017 (independente das explicações pelo atraso). Não deu outra, as sugestões finais da empresa para o banco contratante e a Cassi se deram no semestre de maior fragilidade dos associados, o período eleitoral, entre janeiro e março de 2018. Alertei várias vezes que as sugestões de redução de poder dos associados e mais favoráveis ao banco nada tinham que ver com o que tínhamos debatido tecnicamente na fase de discussão entre as áreas.
SÃO OS PROFISSIONAIS DA CASSI QUE GARANTEM O FUNCIONAMENTO DIÁRIO DA OPERADORA, ACOLHENDO OS PARTICIPANTES MESMO DURANTE CRISES ECONÔMICO-FINANCEIRAS E POLÍTICAS EM SUAS GESTÕES
Enfim, incomoda bastante ficar ouvindo: que a Cassi precisa se "profissionalizar"; "enxugar" sua estrutura para ser mais eficiente; ser "transparente"; prometerem que vão reduzir custos impondo isso ou aquilo aos hospitais e consultórios privados (a Cassi não tem esse poder frente ao mercado); que seja "referência" de eficiência a opinião da tal consultoria do patrão por ter confirmado as coisas boas da Cassi (foram os estudos feitos pelos profissionais da autogestão que apontaram sua eficiência em relação ao modelo assistencial e estrutura em relação aos planos similares do setor saúde).
Incomoda também pouco se ouvir de elogios e agradecimentos ao quadro de trabalhadores de cada unidade regional e das áreas na sede, áreas da Cassi que fazem com que ela funcione da melhor forma possível dentro das limitações que elas enfrentam, muitas vezes por culpa das direções da operadora.
Para quem conhece a Cassi como eu conheci, e conheço inclusive os meandros da política e dos grupos políticos, é difícil ficar ouvindo essas coisas, principalmente de entidades representativas e lideranças da comunidade BB. Em relação às eleições que começam hoje 16 e vão até 27 de março, desejo um voto consciente a cada associado e associada da Cassi.
Avaliem qual das chapas e quais pessoas terão desejo e capacidade de questionar e enfrentar os ataques do patrão aos direitos em saúde e quais enfrentarão a burocracia da gestão, feita para impedir que os associados tenham voz e poder de alterar o destino da nossa Caixa de Assistência.
Por fim, em tempos de pandemia de coronavírus e outras viroses de países subdesenvolvidos, e também pandemia de demência coletiva a começar pelo governo, desejo saúde a tod@s. A comunidade BB tem uma das maiores populações de idosos do país, mais de 150 mil participantes. Se cuidem, queridos idosos! Evitem sair de casa nas próximas semanas.
William Mendes
Associado Cassi e Previ
(A parte a seguir é mais um registro daquilo que contribuímos na história da autogestão, que reforça porque a nossa Caixa de Assistência e seu quadro de funcionários é uma pedra preciosa da comunidade de trabalhadores do Banco do Brasil e também da saúde suplementar ao SUS no país)
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NOVAMENTE, O QUE É A CASSI?
A Cassi é a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, sendo a autogestão em saúde mais antiga do país e uma das maiores empresas de saúde suplementar do mercado brasileiro. Ela é gerida de forma compartilhada entre os associados e o patrocinador do principal plano, o Plano de Associados, cujos participantes são os trabalhadores da ativa e aposentados e seus dependentes de acordo com regras pré-estabelecidas.
A Cassi é uma instituição especial. Ela é uma pedra preciosa que veio sendo lapidada de forma coletiva ao longo de décadas. É uma associação sem fins lucrativos e baseada na solidariedade de classe cuja finalidade sempre foi cuidar da saúde dos trabalhadores e familiares do maior banco público do país. Durante as primeiras cinco décadas, ela arrecadava recursos e ressarcia despesas de saúde e após 1996 passa a fazer gestão de saúde. Enquanto pedra preciosa é natural que sempre desperte o interesse interno na comunidade à qual pertence e mais interesse ainda do mundo capitalista ao qual está inserida como participante: ela tem orçamento de bilhões de reais e tem "carteira" de centenas de milhares de usuários.
Durante quatro anos (2014-2018), tive a honra e o privilégio de ser um dos gestores da entidade em sua gestão compartilhada. A direção da Cassi é composta por quatro diretores, oito conselheiros deliberativos e seus suplentes e seis conselheiros fiscais e seus suplentes. A metade da direção é eleita e a outra metade é indicada pelo patrocinador Banco do Brasil. Foi uma honra dedicar toda a minha energia vital e experiência sindical para representar os colegas da comunidade como eleito e foi uma oportunidade ímpar para adquirir conhecimentos sobre gestão em saúde e sistemas de saúde, ampliando a minha consciência política e de classe.
BREVE HISTÓRICO: A DESCONHECIDA CASSI
Quando chegamos eleitos à Diretoria de Saúde da Cassi, em 2014, tínhamos desafios enormes a enfrentar, sendo que um dos principais era lidar com o desconhecimento de todos em relação à Caixa de Assistência - patrocinador, associados e representações, usuários e demais intervenientes -, o que gerava desconfiança em relação a tudo o que a Cassi fazia e significava na saúde da comunidade BB, e a ignorância (o não saber) gerava o trágico espírito de vira-latas impregnado no povo brasileiro de forma planejada pela casa grande há séculos: tudo que é nosso não presta, tudo que é externo é bom e melhor.
No planejamento para quatro anos de mandato e gestão, desenvolvemos estratégias tanto para a atuação política - visitas permanentes às bases sociais e intervenientes para apresentar o que era e como funcionava a Cassi -, e pensamos estratégias internas na área afeta a nossa gestão, a Diretoria de Saúde, para realizarmos estudos técnicos e estratégias que comprovassem a eficiência do modelo assistencial e da própria Cassi. Tínhamos que desfazer os lugares comuns e afirmações estapafúrdias ditas contra a Cassi e reverberadas por quase todos os segmentos por não serem contestadas adequadamente. Fizemos isso na medida de nossas possibilidades, e para isso contamos com muita gana e vontade de nossa parte e muita competência, dedicação e abnegação do quadro de funcionários da Cassi.
ENFRENTANDO MITOS E DEFENDENDO A CASSI
Foi com espírito de pertencimento e com empoderamento sobre as qualidades e diferenciais da Caixa de Assistência que enfrentamos todo o cenário adverso que tivemos por 4 anos à frente da Diretoria de Saúde: passamos o mandato praticamente sem recursos administrativos, com orçamentos anuais contingenciados. O Plano de Associados sempre lidou com déficits operacionais, inclusive após o novo custeio de 7,5% aprovado em 1996, mas receitas extraordinárias de mais de um bilhão de reais entre 2007 e 2013 (valores nominais) contribuíram para o fechamento dos balanços gerais do período. Sem recursos extras a partir de 2014, a entidade passou a lidar com problemas financeiros e econômicos que se agravaram ano a ano.
Nos primeiros dois anos de trabalho realizamos agendas de conferências de saúde, visitas a sindicatos e entidades associativas, a conselhos de usuários e unidades Cassi Brasil afora. Quando nos cortaram os recursos para fazermos o nosso trabalho, recursos administrativos formais, previstos nas normas da entidade para a gestão da Diretoria de Saúde, não desanimamos e seguimos apresentando a Cassi com nossos recursos e com o apoio de algumas entidades representativas.
Em 2016, ampliamos nossas agendas para as unidades do BB, apresentando a Cassi a todos os órgãos regionais e estaduais do banco (Super, Gepes etc), fechando parcerias em saúde em prol do modelo assistencial, focando a prevenção e a saúde ocupacional e desfazendo mitos em relação à Cassi.
Em 2017 consolidamos os estudos desenvolvidos na Diretoria de Saúde e a Cassi virou referência nacional e palestrante sobre APS/ESF e eficiência de modelo assistencial. Comprovamos que participantes cuidados e vinculados pela ESF tinham despesas assistenciais de 10% a 40% menores que os participantes não incluídos ainda no modelo ESF. E apesar da enorme crise de recursos e redução do quadro de funcionários do banco, ampliamos a cobertura da ESF em mais de 20 mil participantes (13% a mais), sendo que em algumas unidades ampliamos em até 50% a ESF.
Mesmo com adversidades como déficits e orçamentos contingenciados, as áreas da Diretoria de Saúde - que inclui as gerências na sede e as unidades nos Estados - tiveram o comando e o incentivo para desenvolverem estudos técnicos que evitassem que a Cassi continuasse sendo vítima da desinformação, dos ataques desnecessários ao seu modelo, à sua estrutura própria e à sua base de sustentação: a solidariedade real no custeio do Plano de Associados, rateio igualitário por matrícula funcional.
Durante nossa gestão, avançamos em consolidar temas como eficiência do modelo APS/ESF, a importância das CliniCassi, a baixa despesa administrativa da Cassi (eficiência operacional) comparada ao setor em que opera, ampliamos a valorização da participação social - conselhos de usuários e representações -, e a importância central do custeio solidário intergeracional e mutualista para que todos pudessem pagar ao longo da vida o custo do Plano e não somente parte das pessoas.
Em relação aos profissionais da Cassi, o que pudemos fazer em situação de crise do setor e da operadora, fizemos: os trabalhadores sob responsabilidade da Diretoria de Saúde fizeram treinamentos presenciais e à distância; tiveram possibilidades de ascensão profissional; fizemos esforços para que durante os 4 anos de nossa participação na gestão os salários fossem reajustados com os índices inflacionários, preservando o poder de compra. Criamos comitê de ética com a inclusão de um eleito pelos funcionários e valorizamos e defendemos os profissionais da Cassi durante o nosso mandato.
Finalizo repetindo o que disse e escrevi ao longo do trabalho conjunto que tivemos com os excelentes profissionais da Cassi: muito obrigado a todos e todas vocês pela dedicação que empenham em cuidar de cada um de nós participantes da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. Vocês são o nosso maior patrimônio e espero que as direções da entidade saibam valorizar os trabalhadores, porque as direções passam e quem cuida de nós são as pessoas que estão no dia a dia da autogestão em saúde.
William Mendes
Ex-diretor eleito de saúde e rede de atendimento da Cassi (2014/2018)