segunda-feira, 19 de junho de 2023

Os miseráveis - Victor Hugo (V)



Refeição Cultural

Osasco, 19 de junho de 2023. Madrugada de segunda-feira.


PRIMEIRA PARTE - FANTINE

LIVRO 1: UM JUSTO

V. Como Monsenhor Bienvenu fazia suas batinas durarem muito tempo

"Como ele fazia suas batinas durarem muito tempo e não queria que ninguém notasse isso, nunca saía pela cidade sem sua capa violeta, o que o incomodava um pouco no verão." (p. 58)


Neste curto capítulo, duas frases me deixaram pensando sobre elas, ambas na página 57:

"Como todos os velhos e como a maior parte dos homens que pensam, ele dormia pouco."

E sobre o tempo que lhe sobrava após todo o tempo dedicado aos pobres:

"(...) ora cavava em seu jardim, ora lia e escrevia. Usava uma única palavra para esses dois tipos de trabalho: jardinar. 'O espírito é um jardim', dizia."

Me lembro que dormi pouco a vida toda. Porque não podia dormir mais. Ou porque queria ficar acordado para estudar ou porque queria fazer algo além de trabalhar como um burro de cargas para algum capitalista desde menino.

Temos no romance de Victor Hugo, um narrador que tudo sabe e até cita o autor do livro.

Ao falar do personagem Myriel, o narrador deixa claro que conta a história dele já sabendo do desfecho, é um narrador em terceira pessoa onisciente, um demiurgo.

"Era letrado e um tanto quanto erudito. Deixou cinco ou seis curiosos manuscritos, entre os quais uma dissertação sobre o versículo do Gênesis..." (p. 58)

E:

"Em outra dissertação, examina as obras teológicas de Hugo, bispo de Ptolémaïs, tio-bisavô do autor deste livro..." (idem)

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COMENTÁRIO

Ainda pensando sobre as frases que citei acima...

O pouco dormir: minha condição me permitiria hoje ficar curtindo o prazer da cama e do sono. Nunca me esqueço do quanto queria dormir um pouco mais durante a vida de trabalho e estudo e não podia.

As coisas mudam. Hoje, sigo sem ficar curtindo o prazer da cama e do sono. No entanto, os motivos são outros. É o tempo de vida que resta que escorre pela ampulheta da vida como a água que escorre pelas mãos em concha.

A forma de olhar o presente e o amanhã muda para algumas pessoas. Mudou para mim. 

Com o quadril danificado, uma caminhada ou corrida ganhou outro sentido... e se eu não puder mais fazer isso amanhã?

Tenho tantos livros em casa que gostaria de ler... e se amanhã eu não puder mais ver?

A forma de ver o tempo e a forma de imaginar o tempo que tenho talvez faça um pouco essa coisa de não ficar à vontade na cama quando acordo após dormir poucas horas e ainda ter vontade de dormir mais.

Sobre jardinar e espírito nem tenho muito o que pensar, nem considero essa questão de ter um espírito que se manterá após a morte de meu organismo animal.

Como gostaria de acreditar nesse conforto das místicas que nossos cérebros humanos criam como abstrações na relação do animal que somos com o mundo material no qual vivemos... gostaria! 

Me lembro exatamente as delícias e os terrores de crer nessas abstrações quando era crente. As religiões dão um conforto danado ao ser humano! Conformam tudo na trágica existência...

Falando em dormir pouco, vamos dormir que o sono pegou pesado e já é 1h43 da madrugada...

William


Post Scriptum: ver aqui a postagem anterior. A postagem seguinte pode ser lida aqui.


Bibliografia:

HUGO, Victor. Os miseráveis. Tradução de Regina Célia de Oliveira. Edição especial. São Paulo: Martin Claret, 2014.

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