Refeição Cultural
Osasco, 19 de junho de 2023. Final de noite.
PRIMEIRA PARTE - FANTINE
LIVRO 1: UM JUSTO
VI. Quem lhe guardava a casa
Seguimos conhecendo o senhor Myriel, bispo de Digne. Alguns pensamentos dele ou posturas frente ao mundo:
"De resto, essa habitação, a cargo das duas mulheres, era, de alto a baixo, da mais fina limpeza, único luxo que o bispo permitia. Dizia: Isso não tira nada dos pobres." (P. 62)
Sobre plantar umas flores onde poderia ter verduras e legumes. O bispo diz a senhora Magloire:
"'Senhora Magloire', respondeu o bispo, 'a senhora está enganada. O belo é tão útil quanto o que é útil'. E após um momento de silêncio acrescentou: 'Até mais, talvez.'." (p. 63)
Neste capítulo, vimos que a casa onde moram os três não tem tranca na porta. E o ambiente também é muito simplório, não tendo quase nada além de alguns móveis e coisas sem valor.
A exceção são uns talheres de prata e dois castiçais usados quando tem visita em casa.
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COMENTÁRIO
"(...) era, de alto a baixo, da mais fina limpeza, único luxo que o bispo permitia..."
Me lembrei das diversas casas nas quais morei de aluguel. Algumas eram melhores, com três cômodos e banheiro, outras eram bem ruins, quarto e cozinha e banheiro coletivo no quintal.
Fiquei pensando nessa questão da limpeza que o senhor Myriel considerava um luxo...
Penso que existe uma certa imposição moral com essa questão de limpeza. Na nossa vida de classe trabalhadora, me lembro de ouvir muito a frase:
"A gente é pobre, mas a gente é limpinho" ou "Pode entrar que a casa é de pobre, mas é limpinha"...
Que foda, isso! Talvez a limpeza seja mesmo um luxo...
Eu sei que era algo meio que imposto aos pobres a obrigação ética de sermos trabalhadores pobres com casa "limpinha".
Por anos, eu trabalhava e estudava durante toda a semana e no fim de semana era inaceitável, nem sei por quem, que eu não limpasse meus dois ou três cômodos...
E eu acabei vivendo uns dez anos em casinhas de aluguel nas quais eu poderia dizer que elas estavam sempre limpinhas...
Nada contra ou a favor de limpeza imposta aos outros.
Fico pensando na sujeira moral dessa elite podre e canalha do mundo. Aqueles palacetes têm uma sujeira inigualável, mesmo perante todo aquele brilho no chão de mármore.
William
Post Scriptum: ver aqui a postagem anterior. A postagem seguinte sobre esse clássico pode ser lida aqui.
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