Refeição Cultural
Osasco, 03 de junho de 2023. Sábado.
Citações do prefácio
"Todos os dias éramos bombardeados pelos canhões postados à retaguarda de Leganés, nos contrafortes das colinas de Garabitas, e o Hotel Flórida, onde vivíamos e trabalhávamos, foi atingido por mais de trinta e oito projéteis de grande poder explosivo. Por isso mesmo, se não gostarem da peça, posso botar a culpa nesse bombardeio infernal; se a acharem boa, direi que aqueles obuses de certa maneira me inspiraram a escrevê-la."
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"O título da peça tem a ver com a afirmação das forças insurretas de que havia quatro colunas militares avançando na direção de Madri, no outono de 1936, e uma quinta, integrada por simpatizantes, que já se encontrava na capital e atacaria seus defensores pela retaguarda."
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"As forças inimigas que avançavam sobre Madri não tinham o hábito de poupar seus prisioneiros. Da mesma forma, os membros da quinta-coluna que fossem apanhados dentro da cidade nas semanas iniciais da Guerra Civil eram também eliminados sumariamente..."
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Em suma: esta peça se ocupa apenas da contraespionagem em Madri, tem os defeitos de um texto escrito durante os tempos de luta e, se é que tem alguma moral da história, comprova ser impossível para alguém que pertença a determinadas organizações a manutenção de um mínimo de vida particular..."
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INTRODUÇÃO
Não estava em meus planos atuais ler uma obra de Hemingway por estes dias. Já li cinco livros dele. Acho seus textos espetaculares. No entanto, as veredas dos sertões nos levam por vários caminhos, abertos ou a serem abertos com o andar, já que não há caminhos, mas se faz caminhos ao andar...
Visita à finca de Hemingway (Cuba). |
Fui a Cuba dias atrás. Experiência que ainda estou digerindo, por isso escrevo meus textos no Refeitório Cultural. Em Havana, no último dia, a última escala de visitas foi a finca onde viveu Ernest Hemingway. Conheci a residência do grande escritor Papa Hemingway... foi emocionante para mim.
Minha esposa me sugeriu assistir ao filme Papa Hemingway in Cuba (2016), desde que soube que eu iria a Cuba e por saber o quanto gosto da obra do escritor. Na internet estava muito ruim de ver o filme, qualidade péssima. Eis que numa madrugada dessa semana ele passou nos canais que assinamos. Foi muito interessante ver o filme gravado em Cuba, na própria finca de Hemingway.
O filme tem como pano de fundo a Cuba pré-revolucionária, retrata o escritor em Cuba entre os anos de 1956 e 1959, quando os jovens liderados por Fidel Castro enfrentam e derrotam a ditadura de Batista, mantida pelos Estados Unidos. O filme é dramático, vemos os últimos anos da vida de Hemingway, com sérios problemas de depressão e alcoolismo. É tocante e o drama de tudo isso nos envolve profundamente.
Foi inevitável olhar na estante e escolher algum volume dele para reler. A Quinta-Coluna (1938) foi uma peça escrita por Hemingway durante a Guerra Civil Espanhola, o escritor e jornalista estava em Madri e viveu os ataques dos fascistas apoiados por Hitler.
Tudo isso me faz pensar em tanta coisa, tanta coisa! Um turbilhão toma conta de minha consciência, do meu ser. Afloram sentimentos que amarguram minha pessoa faz muito tempo, a questão da depressão e alcoolismo em pessoas queridas, a questão do bloqueio genocida imposto pelo império ao povo cubano e muito mais...
A questão do nosso país que amamos e que sofreu em 2016 um golpe de Estado - uma revolução reacionária organizada pela casa-grande, uma quinta-coluna lesa-pátria -, e até hoje sofremos as consequências dessa tragédia porque não vivemos numa democracia, mesmo com Lula eleito presidente somos reféns de ditadores que ocupam o poder real nos legislativos e judiciários, além do 4º poder, a imprensa golpista. Enfim, muita coisa aflora em minha mente...
MINHA LEITURA DO MOMENTO POLÍTICO
Vivemos um contexto de guerra no Brasil e no mundo. As democracias liberais e burguesas estão morrendo mundo afora. O cenário é desalentador em relação ao presente e futuro do planeta Terra e das formas de vida que existem.
Nenhuma força popular e preservacionista parece poder parar a máquina de destruição do capitalismo. Os papéis da lei capitalista vencem qualquer movimento ou forma de vida que se interponha no caminho do lucro de algum homem do capital.
O capitalismo neoliberal se impôs no mundo e quem estuda minimamente história, política e ciências sabe que não há expectativa de vida sob a hegemonia do capitalismo. Estamos destruindo o planeta e nada vai parar isso a não ser que paremos o capitalismo e os poucos donos do mundo capitalista.
Não é possível salvar "no diálogo" as florestas, os biomas, os povos originários, os mais de 90% de humanos que passam suas vidas sendo explorados e escravizados miseravelmente pela pequena quantidade de homens que seguem destruindo o mundo e as mais diversas formas de vida no único planeta no universo conhecido com as condições de vida que tem na Terra.
Como estamos presos em estratagemas burocráticos organizados para não serem interrompidos, caminharemos para o fim, a não ser que criemos uma força de enfrentamento real aos bilionários e capitalistas do mundo. Eles vão nos eliminar. Essa força teria que impedir essa pequena porcentagem de homens de destruir tudo.
Só vamos proteger os biomas que restam, só vamos salvar uns 70% dos povos do mundo se derrotarmos alguns milhares de famílias capitalistas donas do mundo. E eles têm todas as forças de repressão e violência sob o comando deles. Teríamos (temos) que armar o nosso lado, que é muito maior que o deles.
Não será por processos de paz que vamos salvar o mundo e as pessoas. Não será com manifestações, greves, abaixo-assinados etc, coisas bonitinhas e sensíveis não sensibilizam homens do capital e seus lacaios, quinta-colunas de merda.
Se meu corpo fosse mais jovem, eu buscaria alguma organização para enfrentar esses destruidores da vida de forma real. As "democracias" morreram. Esses regimes comprados com dinheiro e poder da elite que temos no Brasil, nos Estados Unidos, nos países da Europa são qualquer coisa, menos democracia.
Mandela e o CNA entenderam que nenhum movimento pacífico mudaria a condição desgraçada que os negros sul-africanos viviam sob o regime fascista da minoria branca. E mudaram a estratégia.
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É O OPRESSOR QUE DEFINE A NATUREZA DA LUTA
"A lição que aprendi com a campanha (contra a remoção do povo negro de Sophiatown em 1955) foi que no final nós não tínhamos alternativa alguma senão resistência armada e violenta. Repetidamente, havíamos utilizado todas as armas de não violência em nosso arsenal - discursos, delegações, ameaças, marchas, greves, ficar em casa, prisões voluntárias - tudo em vão, pois tudo o que fazíamos era respondido com mão de ferro. Um guerreiro pela liberdade aprende da maneira mais difícil que é o opressor quem define a natureza da luta, e ao oprimido frequentemente não se deixa recurso algum senão utilizar métodos que espelham aqueles do opressor. Em certo momento, só é possível lutar contra o fogo usando fogo" (pág. 206. Longa Caminhada até a Liberdade, Nelson Mandela)---
Nenhuma conversa ou boicote impediu Hitler de invadir e tomar todos os países da Europa, um atrás do outro, até que as bombas dos aliados, principalmente do exército vermelho, parassem a megalomania dos nazistas.
É o que penso olhando o mundo.
William
Post Scriptum: li esta peça pela primeira vez em 2017 (ler comentário aqui). Vivia sob fortes emoções. Ainda acreditava um pouco na democracia, mesmo abalado com o impeachment criminoso que Dilma havia sofrido por um bando de canalhas. A revolução reacionária da extrema-direita já estava em andamento no Brasil. Os quinta-colunas daqui já haviam implementado o golpe de Estado. Já haviam imposto a EC 95, fodendo os direitos sociais do povo brasileiro por 20 anos, as reformas da previdência e trabalhista já haviam sido impostas também, a Petrobras vinha sendo entregue aos imperialistas pelos quinta-colunas daqui. Vivemos 7 anos de destruição total do Estado nacional e dos direitos do povo brasileiro e nada deteve os fascistas. Nada... E o voto comprado pelo orçamento secreto e os bilhões ilegais em 2022 fez um Parlamento que não representa o povo e não é democrático. Francamente, não me venham chamar isso no Brasil de democracia. Como vamos salvar nossos biomas e nosso futuro? Com as "leis" criadas por aquela canalha colocada no Congresso em 2022?
Bibliografia:
HEMINGWAY, Ernest. A Quinta-Coluna. Tradução de Ênio Silveira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
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