Refeição Cultural
Osasco, 10 de junho de 2023. Sábado.
"ENQUANTO, por efeito de leis e costumes, houver proscrição social, forçando a existência, em plena civilização, de verdadeiros infernos, e desvirtuando, por humana fatalidade, um destino por natureza divino; enquanto os três problemas do século - a degradação do homem pelo proletariado, a prostituição da mulher pela fome, e a atrofia da criança pela ignorância - não forem resolvidos; enquanto houver lugares onde seja possível a asfixia social; em outras palavras, e de um ponto de vista mais amplo ainda, enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis." (Victor Hugo, no prefácio de Os miseráveis)
Os miseráveis... os miseráveis. Só pela expressão já sabemos o quão atual e necessária é a temática ficcional e histórica abordada pelo escritor francês Victor Hugo. Os miseráveis...
Victor Hugo foi romancista, poeta, dramaturgo, desenhista, pintor e político. Victor Hugo registrou de forma ficcional nesta obra, em 1862, fatos históricos a respeito da sociedade humana sob a égide do regime capitalista.
Os miseráveis acabaram sendo o resultado da revolução burguesa ocorrida décadas antes na França. Dito de outra forma, a miséria da maioria esmagadora da população foi o resultado da revolução burguesa. Era pra ser outro o resultado da Revolução... era.
Liberdade, Igualdade, Fraternidade... Os burgueses deram um jeito de transformar os lemas da Revolução Francesa em um só: Liberdade. Igualdade e Fraternidade viraram peças de propaganda e manipulação das massas. Até hoje é assim!
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COMENTÁRIO
Inicio a leitura da obra monumental de Victor Hugo, Os miseráveis. Não posso adiar mais a leitura desse clássico. O prefácio já diz tudo. Vivemos numa época de plena "proscrição social".
Um século e meio depois da denúncia de Victor Hugo sobre os efeitos do capitalismo sobre a sociedade humana, o que temos no mundo é um número inimaginável de miseráveis, e com viés de aumento na tendência a termos cada dia mais miseráveis numa sociedade global capitalista falimentar.
Os miseráveis...
Serão meses de leitura, meses. Dessa vez não vou parar a leitura. Vou ler até o fim.
Como diz Victor Hugo "enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis".
Finalizo este primeiro comentário sobre a leitura do livro com a reflexão de Jean Pierre Chauvin, na introdução da edição que vou ler.
"Dir-se-ia que esta obra pretende demover o leitor de seu confortável espaldar, sorvendo o seu café, ao abrigo das intempéries que acontecem nas ruas. O narrador está à beira de sugerir que se tome alguma atitude, com o fito de minorar as dificuldades enfrentadas por aqueles que não frequentam os mesmos ambientes que os próprios leitores, aliás."
Pois é! Meus conhecidos são bancários da ativa e aposentados, são professores, são profissionais liberais e gente da chamada classe média urbana brasileira. Pensando na observação de Chauvin, diria que meus contatos não se veriam na condição de miseráveis...
Eu me pergunto se é suficiente termos votado em Lula em outubro de 2022 e de termos ajudado a interromper o mandato formal do miliciano genocida. Isso foi o suficiente para a gente de minha classe social? Não deveríamos estar nas ruas, todas as semanas, defendendo as pautas pelas quais votamos em outubro de 2022? O Legislativo e o Judiciário não são nossos, são dos burgueses capitalistas.
Estamos preparados para enfrentar a ofensiva deles para retomar o poder formal do Estado, o Executivo onde está Lula? Estamos preparados para enfrentar nossos inimigos de classe ou ao menos cientes de que a reação deles está em andamento? Era pra estarmos nas ruas em milhões de pessoas, todas as semanas... qualquer dia vem o golpe e não faremos nada... já vimos isso e não aprendemos.
Vou ler Os miseráveis de Hugo e temos que refletir sobre como lidar com o contexto atual do mundo no qual os miseráveis estão aí ao nosso redor, e não estão politizados, são facilmente manipuláveis, fechemos os olhos ou não para essa realidade.
William
Post Scriptum: aos leitores do blog que tiverem interesse, será possível ler os comentários sobre a minha leitura do clássico de Victor Hugo, a partir das postagens que farei. A cada postagem de leitura, deixarei ao final o link da postagem seguinte. A próxima pode ser lida aqui.
Bibliografia:
HUGO, Victor. Os miseráveis. Tradução de Regina Célia de Oliveira. Edição especial. São Paulo: Martin Claret, 2014.
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