Refeição Cultural
Osasco, 13 de junho de 2023. Terça-feira.
Mal-estar
Um mal-estar insistente domina em mim aquilo que costumam chamar de "alma", a essência do que sou, a minha identidade, coisas definidas por meu cérebro humano. Um mal-estar como ser humano talvez. Uma consciência de saber o que somos e a consciência de ler na realidade a tendência de pra onde estamos caminhando enquanto espécie animal. Um mal-estar me domina e angustia.
Neste momento no qual escrevo, sinto um mal-estar por ter mais oportunidades de gozo da cidadania em relação a outras pessoas que deveriam ter as mesmas oportunidades... e não têm. Por que tenho mais oportunidades que outras pessoas? Que direito tenho eu de ter mais coisas do mundo humano que as outras pessoas? Por que eu tenho privilégios em relação a outras pessoas?
Meritocracia o caralho! Me esforcei da mesma forma que meus pares da classe trabalhadora se esforçam diariamente e ainda assim estão em condições impróprias de sobrevivência. Um mal-estar me oprime.
Como poderia contribuir neste momento para tornar o mundo mais justo para a imensa maioria de seres humanos? O que estaria ao meu alcance fazer para mudar para melhor a vida dos seres humanos? Se poderia fazer alguma coisa para mudar a realidade atual por que não estou fazendo? E o mundo natural para além da espécie animal humana, o que poderia fazer pelas demais formas de vida? Ao ter consciência da realidade ao meu redor, sinto um mal-estar imenso.
Como diminuir a desigualdade social e a injustiça que domina a sociedade humana na qual vivo? Como impedir que os biomas que ainda restam no planeta sejam destruídos em benefício de alguns humanos e em prejuízo de todo o restante dos seres humanos e das formas de vida? Até que ponto ter uma noção ou uma opinião sobre as causas e os causadores de tantos males à maioria da sociedade humana faz alguma diferença na minha tomada de decisão sobre o que fazer? Vou resolver pessoalmente a questão com algum causador dos males coletivos?
O que sei fazer que poderia contribuir para mudar a realidade ruim da sociedade humana e a tendência de destruição do planeta Terra? Que habilidades tenho como indivíduo que poderia contribuir para a coletividade? Essas são algumas das questões que me angustiam desde que deixei de atuar nos movimentos sociais de forma orgânica e como dirigente da classe trabalhadora. Agora, fora, só imagino saber escrever. O que eu sabia não tem mais utilidade. Pra que sirvo atualmente? Hoje, não servimos pra nada sequer nos círculos domésticos. Só servimos de forma utilitária. É pouco.
Passados alguns anos, ainda não me encontrei enquanto cidadão. Talvez não encontre resposta para esse mal-estar. Vivi muito além do que qualquer expectativa que suporia na adolescência. Fui responsável por muito mais coisa do que jamais imaginaria ser.
Um mal-estar me oprime neste instante do viver. Não vislumbro solução para esse sentimento. É a minha condição atual que me faz sentir o que sinto. E tenho que lidar com isso. O que passou, passou.
A dor e o sofrimento são sentimentos possíveis em todos os seres humanos, independente das condições materiais em que se encontram. Até privilegiados sentem dor e sofrimento.
Meu mal-estar não é suficiente para me deixar morrer. Viver é uma oportunidade. Enquanto se vive, temos até serventia utilitária para alguma coisa.
Será que não estou fazendo mal a ninguém? rsrs, isso é pouco...
Contudo, sou uma coisa útil estando vivo. Então, sigamos vivendo.
William
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