domingo, 26 de maio de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 26 de maio de 2024. Domingo. 135 anos depois da publicação do texto de José Martí "Las ruinas indias", do livro Edad de Oro


"(...) Hubo sacrificios en masa, como los había en la Plaza Mayor, delante de los obispos y del rey, cuando la Inquisición de España quemaba a los hombres vivos, con mucho lujo de leña y de procesión, y veían la quema las señoras madrileñas desde los balcones. La superstición y la ignorancia hacen bárbaros a los hombres en todos los pueblos." (Martí, p. 520)


SUPERSTIÇÃO E IGNORÂNCIA 

A superstição e a ignorância fazem bárbaros aos homens e mulheres de todos os povos.

José Martí afirmou isso em agosto de 1889. Eu afirmo isso em maio de 2024. Lógico que não é preciso ser nenhum sábio como Martí para perceber isso que se afirma. Um sujeito mediano e alfabetizado como eu consegue perceber a questão, basta saber ler o mundo. Basta não querer enganar aos outros e a si mesmo.

Olhando a história e observando as perspectivas atuais, não é difícil imaginar, numa data futura, a mim mesmo ou a alguém que vê o mundo como eu e com algumas décadas a menos de vida, sendo martirizado aos olhos dos espectadores adoradores de alguma das religiões dominantes num lugar chamado Brasil já dominado por essa gente que hoje cresce em domínio da mente das massas. 

Alguns séculos atrás é nada para vermos a humanidade em movimento. Nossa espécie faz isso, martirizar e sacrificar semelhantes, há milênios.

Há oitenta anos nossa espécie estava queimando milhões de pessoas em alguns lugares da Europa. Durante muito tempo, as pessoas comeram de talheres em suas salas sabendo que tinha gente sendo queimada e faziam de conta que não sabiam ou que aquilo não era problema delas.

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DESCRENÇA NA MINHA ESPÉCIE, APESAR DE NÃO SER DETERMINISTA

Apesar de já conhecer alguma coisa de José Martí e Paulo Freire, duas figuras humanas extraordinárias, humanos que acreditavam na educação e cultura como ferramentas de construção de seres humanos capazes de alterar a realidade insatisfatória e criar sociedades melhores para todos, me encontro pessoalmente num momento de descrença no presente e no futuro de minha espécie. 

Não sou determinista, entendi o ensinamento do mestre Freire, mas minha leitura de mundo, uma leitura de conjuntura e contextos históricos, me faz ter uma leitura desesperançosa do presente e do futuro de minha espécie e por conseguinte de diversas espécies viventes nos biomas nos quais o homem habita e destrói.

A leitura desse texto LAS RUINAS INDIAS de José Martí, descrevendo a diversidade e a riqueza material e intelectual dos povos que habitavam as Américas e que foram destroçados pelos povos que habitavam a Europa e que aqui chegaram para se apossar das terras dos que aqui estavam, e a própria descrição de Martí nos contando que os povos daqui também faziam isso uns com os outros, me fez pensar na "normalidade" de tudo o que se passa neste momento na terra onde habito, um lugar chamado atualmente de Brasil.

Não é "normal" a barbárie do capitalismo neoliberal, o fascismo do bolsonarismo, não é normal. Mas é fato o poder dos donos dos meios capitalistas de normalizar a barbárie. Infelizmente.

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"De Cholula, de aquella Cholula de los templos, que dejó asombrado a Cortés, no quedan más que los restos de la pirámide de cuatro terrazas, dos veces más grande que la famosa pirámide de Cheops. En Xochicalco solo está en pie, en la cumbre de su eminencia llena de túneles y arcos, el templo de granito cincelado, con las piezas enormes tan juntas que no se ve la unión, y la piedra tan dura que no se sabe ni con qué instrumento la pudieron cortar, ni con qué máquina la subieron tan arriba..." (p. 523)

Vejam essa descrição de Martí e pensem agora alguém descrevendo num eventual futuro a antiga Faixa de Gaza... algum eventual sábio como Martí (se ainda houver) contando sobre os povos milenares que ali viveram, árabes palestinos, com sua cultura e construções etc.

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BRASIL DA SUPERSTIÇÃO, DA IGNORÃNCIA E DA IMPUNIDADE

Surpresa alguma ver os acordos para manter numa boa sujeitos como o marreco de Curitiba - um agente do império que fode com nossa terra e nossa gente e ainda é aclamado por milhões -, o clã de genocidas e milicianos do Rio de Janeiro - nenhum deles será preso e podem barbarizar o quanto quiserem -, os homens livres e inimputáveis com carros que custam um milhão de moedas que matam pobres ou arrancam a perna das pessoas miseráveis por dirigirem bêbados etc. Surpresa alguma. Sei ler o mundo.

Surpresa alguma ver o trator passando por cima de nosso estado de São Paulo, pisoteando e martirizando pobres, pretos, estudantes, o trator do fascismo cagando e andando para as manifestações pacíficas de nosso lado. O inimigo está armado, o inimigo manda nas forças repressivas e estimula a violência contra nossos corpos... não somos nada a não ser alvo, mira. Não vamos vencer nossos inimigos com flores, palavras, ideias. Esse tempo passou. Ou reagimos com as mesmas armas ou seremos os povos descritos por José Martí antes da chegada dos homens com armaduras e armas letais.

Minha repreensão, minha cobrança, vai para aquelas pessoas físicas e jurídicas que deveriam politizar a minha classe e não alienar o meu lado. Isso me dá raiva! Tem horas que fico enojado da gente que se diz de "esquerda" ficar iludindo e enganando a massa miserável do meu lado da classe. Meus ex-companheir@s e meus jornalistas preferidos chamam até por apelido o fdp da Corte burguesa feita para favorecer os donos do poder e foder com a nossa vida como há séculos. Mas, e daí? Que diferença isso faz lá fora, lá fora de minha casa, fora de meu corpo?

Acho que os sinais estão claros para mim. Sinais de meu corpo, sinais que vêm lá de fora. É hora de tentar compreender os sinais, ler o mundo e o meu mundo. Acho que não quero mais. Não quero mais participar dessa enganação da gente do meu lado que não acorda o povo para a luta de vida ou morte contra os donos do poder, que não querem conciliar porra nenhuma com o nosso lado. Tínhamos que ir para a guerra total com esses desgraçados. Se for esperar o meu lado reagir, não vai sobrar um de nós. E acho que não vai sobrar mesmo.

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"(...) Hay piedra en que un hombre en pie envía un rayo desde sus labios entreabiertos a otro hombre sentado. Hay grupos y símbolos que parecen contar, en una lengua que no se puede leer con el alfabeto indio incompleto del obispo Landa, los secretos del pueblo que construyó el Circo, el Castillo, el Palacio de las Monjas, el Caracol, el pozo de los sacrificios, lleno en lo hondo de una como piedra blanca, que acaso es la ceniza endurecida de los cuerpos de las vírgenes hermosas, que morían en ofrenda a su dios, sonriendo e cantando, como morían por el dios hebreo en el circo de Roma las vírgenes cristianas, como moría por el dios egipcio, coronada de flores y seguida del pueblo, la virgen más bella, sacrificada al agua del Nilo. ¿Quién trabajó como el encaje las estatuas de Chichén-Itzá? ¿Adónde ha ido, adónde, el pueblo fuerte y gracioso que ideó la casa redonda del Caracol; la casita tallada del Enano, la culebra grandiosa de la Casa de las Monjas en Uxmal? ¿Qué novela tan linda la historia de América!" (p. 526)

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Inteligência, ainda tem na minha espécie. Ainda somos animais passíveis de sermos educados: só se educa gente, nos ensina Paulo Freire. Habilidade, ainda temos. Eu acho que nos faltam líderes. Líderes que compreendam os novos tempos e que tenham desejo verdadeiro de salvar a humanidade e a vida no planeta DERROTANDO nossos inimigos, que estão dispostos a nos derrotar. É uma guerra de vida ou morte. A perspectiva atual é de morte. Mas a vida é sempre uma alternativa. E aprendi que viver é bom, viver é uma oportunidade diária. Mas pra viver temos que derrotar nossos inimigos, que atuam para nos eliminar. É só olhar a história!

Não sei do amanhã. Mas sei que não tenho mais pertencimento a esses grupos que pregam a alienação ao meu lado da classe.

Cheio de alienações.

William


Bibliografia:

Martí en su universo - Una antología. Edición Conmemorativa. Real Academia Española y Asociación de Academias de la Lengua Española. Impreso en Barcelona, 2021.


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