sábado, 31 de maio de 2025

Vendo filmes (XXIX)



Refeição Cultural

Os robôs e nós (ou as máquinas, ou ainda a IA e nós)


"Durante décadas tive receio em relação à Inteligência Artificial. Era uma das pessoas que temia que as máquinas adquiririam vida própria e colocariam sob ameaça as outras espécies animais, sobretudo a humana. Nicolelis me explicou a falácia da 'Inteligência Artificial', algo impossível de se realizar. 

A inteligência é animal, uma máquina não pode ser inteligente no sentido da criação humana. Só nós somos inteligentes, por enquanto (pode ser que fiquemos limitados como as máquinas se não mudarmos o rumo das coisas)." (William Mendes, Blog Refeitório Cultural, 01/07/21 - ler aqui)


Antes da leitura do livro O verdadeiro criador de tudo (2020), do neurocientista Miguel Nicolelis, eu via e compreendia o mundo humano de uma forma e depois da leitura passei a ver e compreender a humanidade e suas criações no planeta Terra de outra forma, bem mais consciente agora.

Até 2021, eu realmente achava ser possível a realização da ideia central de boa parte da ficção científica e das literaturas ficcionais da possibilidade de máquinas se tornarem inteligentes ao ponto de se rebelarem contra a espécie que a criou - os humanos - e tomarem o mundo para si nos eliminando ou nos fazendo de escravos à sua disposição. 

Eu achava possível isso porque não tinha a compreensão de que só seres vivos podem ser inteligentes, já que a inteligência é analógica e não digital. Só organismos vivos podem desenvolver inteligência e criatividade. Máquinas, não.

A ficção a respeito das máquinas é bem antiga. Em relação a filmes já no século XX, o clássico de Stanley Kubrick virou a referência para tudo que veio depois de 1968. O filme WALL-E, por exemplo, é um diálogo com 2001 e seu computador central HAL 9000.

Dos filmes de robôs e IA, a série que mais me deixou pensativo por muito tempo foi a do Exterminador do Futuro e o domínio da Terra pelos robôs da Skynet. 

Só o professor Nicolelis conseguiu me convencer de que isso jamais acontecerá, pois as máquinas não são inteligentes e não têm vida própria. Tem sempre um animal humano por trás delas, pode ser um lunático fdp, mas estamos lidando com programação.

O assunto é complexo e não se esgota num comentário sobre filmes de ficção científica, é claro!

No entanto, fica registrado que esses filmes que revi e comento abaixo são filmes que avalio serem muito visionários e que ainda valem pelo que representam. 

As pessoas com cara na tela, que vimos no WALL-E quase duas décadas atrás, foi uma cena premonitória demais! Hoje as pessoas morrem atropeladas ao atravessar a rua porque não olham para a frente.

A questão da imposição do novo por parte das corporações capitalistas e a transformação de sucata e obsolescência de tudo que vemos no filme Robôs é mais atual que nunca!

E sobre IA e corporações e o risco de dominação dos seres humanos por parte das máquinas, que já está acontecendo, o filme Eu, robô nos traz reflexões pertinentes. Não porque uma IA vai se rebelar contra nós, como a Viki, ou a IA do 2001 ou do WALL-E, mas porque tem uns fdp por trás delas levando ao limite o capitalismo exploratório e predatório em benefício de alguns e prejuízo de bilhões de seres humanos e espécies de vidas.

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FILMES


WALL-E (2008) - Direção: Andrew Stanton.

SINOPSE (DVD):

O aclamado diretor de Procurando Nemo e os criadores de Carros e Ratatouille transportam você para uma galáxia não muito distante dessa aventura interplanetária sobre um robô muito determinado chamado WALL-E. Depois de milhares de solitários anos fazendo o que ele foi construído para fazer, o curioso e adorável WALL-E encontra uma nova razão para viver quando conhece uma robô de busca de alto design chamada EVA. Junte-se ao casal e ao divertido elenco de personagens nessa fantástica viagem pelo Universo.

COMENTÁRIO:

Durante anos, tive no filme WALL-E a referência de acerto visionário a respeito do futuro da humanidade, um filme que apontou para onde estávamos caminhando. As redes sociais e os aparelhos celulares que viriam a capturar os seres humanos estavam em seu começo e o enredo apontava para o que viria a ser a geração cara na tela.

A destruição do planeta Terra pela poluição do consumo capitalista e as pessoas que não olhavam mais para a frente e só viam o mundo através da tela em sua cara foram as cenas do filme que nunca mais me esqueci. E aqui estamos nós, dezessete anos depois, nessas condições de destruição do planeta e robotização e desumanização dos humanos por essas máquinas e seus algoritmos.

Ao rever o filme, pude captar muito mais coisas! Que obra extraordinária!

Além do diálogo com o antológico filme de Stanley Kubrick, "2001 - Uma odisseia no espaço" (1968), o filme provoca reflexões sobre amor, amizade, diversidade, o sentido da vida, as consequências da voracidade do capitalismo, e a questão da sustentabilidade. 

O filme é tão incrível que já aponta duas décadas atrás o que os bons neurocientistas como Miguel Nicolelis alertam a respeito da IA, que não é nem inteligente nem artificial.

Se o filme de Kubrick acende o farol vermelho ao apontar que máquina é máquina, que máquina não é inteligente, ela só é programada por mentes humanas, e que o perigo está justamente no fato de não ser possível esperar uma decisão de abortar uma missão porque máquina é máquina, é burra, e nem se os humanos decidirem algo contra o programa, a máquina vai obedecer, WALL-E mostra outra vertente dessas máquinas programadas por nós mesmos.

Por trás da destruição do planeta Terra por falência das condições de abrigo à vida, já que os humanos transformaram nosso mundo num amontoado de lixo proveniente das futilidades do mercado consumidor capitalista, continua na nave Axiom o predomínio do mesmo modus operandi que causou o abandono do planeta: compre, compre, consuma, consuma...

Em 1968, a era do boom espacial, a máquina HAL 9000 decide eliminar a tripulação porque não aceita comandos que abortem a missão a Júpiter. Quarenta anos depois, a IA da nave Axiom desacata o capitão ao se negar a voltar à Terra após os sinais de condições de vida terem sido detectados pelo robô EVA (Examinadora de Vegetação Alienígena). Por trás da IA sempre há um programador, um comando... vimos isso em WALL-E.

Entra década, sai década capitalista, o que está em jogo não é a importância da vida e suas possibilidades infinitas, o que está em jogo é não mudar o rumo das coisas, é deixar tudo como está, já que o mundo e tudo nele contido deve ser apenas um espaço de exploração para os poucos donos dos meios, os capitalistas. Dane-se o planeta, os bilhões de humanos e a infinidade de vida dos ambientes terrestres!

Lógico, o filme tem toda a maravilha dos contos ficcionais, está contratado com os espectadores todas as possibilidades de amor, amizade, humor, drama, tensão e os demais temperos da sétima arte.

Olha, vejo esse filme mil vezes!

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ROBÔS (2005) - Direção: Chris Wedge. Roteiro: William Joyce.

SINOPSE (DVD):

Dos criadores de A Era do GeloRobôs é uma nova aventura que irá maravilhar a todos com sua animação computadorizada de última geração. Robôs conta a história de Rodney Lataria, um aspirante a inventor, que viaja para Robópolis para conhecer seu ídolo, o Grande Soldador. Pelo caminho, ele faz muitos amigos e juntos acabam encontrando o malvado Dom Aço. Sob a orientação de sua mãe, Don Aço tomou a empresa do Grande Soldador e decidiu negar acesso aos outros robôs a peças necessárias para sua manutenção. Será que Rodney é feito daquilo que se faz necessário para salvar a todos?

COMENTÁRIO:

O começo da história já é espetacular! Numa comunidade de robôs bem classe trabalhadora, um robô adulto sai gritando pelas ruas que vai ser pai, numa alegria contagiante. Ao voltar para casa, sua companheira diz que ele chegou tarde... já entregaram a encomenda... mas tranquilizou o marido em seguida, lembrando-lhe que o melhor é fazer o bebê juntos! Os dois começam então a montar as peças vindas na caixa e depois de um tempo temos a linda criança robô, batizada pelos pais como Rodney.

O garoto vai crescendo e tomando consciência de seu lugar e de sua família naquela sociedade. Eles são pobres, só usam coisas de segunda mão e seu pai é sempre humilhado pelo patrão em seu emprego de lavador de pratos. O pequeno Rodney é criativo e quer ser inventor. Criou até um robozinho para ajudar seu pai no trabalho. Com o tempo, o jovem se despede da família para ir tentar realizar seu sonho de ser um inventor e poder ajudar as pessoas e a comunidade.

Como anunciado na sinopse, na cidade grande Rodney compreende melhor o mecanismo do sistema capitalista, a criação de necessidades por parte dos capitalistas e o quanto o povão é descartável para os donos do poder.

O filme tem muitas camadas, é muito bem-feito. Tem aventura e graça ao mergulharmos numa cidade com mecanismos incríveis conectados de forma a tudo funcionar perfeitamente como, por exemplo, no transporte público. Tem o aspecto lúdico da luta de classes e dos interesses antagônicos entre os que mandam nos meios de produção e os que dependem dos bens e direitos para sobreviverem.

Olha, amig@s, o filme poderia estrear hoje nos cinemas que seria atualíssimo para pensarmos o mundo e a vida. Incrível um roteiro que tenha envelhecido tão bem quanto esse do filme Robôs.

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EU, ROBÔ (2004) - Direção: Alex Proyas. Inspirado em contos de Isaac Asimov. Com Will Smith, Brigdet Moynahan, Bruce Greenwood, Chi McBride, James Cromwell.

SINOPSE (DVD):

O superastro Will Smith declara guerra às máquinas neste inesquecível suspense de ficção científica que se desenrola em meio à ação alucinante! Quando um importante cientista é encontrado morto, o detetive Del Spooner (Smith), que odeia robôs, desconfia que um avançado modelo de robô é o culpado pelo assassinato. No entanto, de acordo com as Três Leis da Robótica, um robô é incapaz de machucar um humano... mas algumas regras foram feitas para serem quebradas! Brigdet Moynahan co-estreia esta história futurística de suspense que nos leva a questionar se a tecnologia levará o ser humano à salvação... ou à extinção.

COMENTÁRIO:

Duas cenas no filme são bem interessantes para reflexão:

Numa delas, o protagonista - detetive Del Spooner - relembra um episódio doloroso do passado no qual ele ordenou a um robô que salvasse uma garota em um acidente no qual ele também estava envolvido. O robô seguiu a "lógica" e salvou a pessoa que tinha 45% de chances de sobreviver, enquanto a outra tinha 11%. A "lógica" prevalece porque a máquina não pensa, não tem sentimentos, não tem coração. Ela é só um programa.

Na outra cena, o detetive Spooner faz uma pergunta ao robô que se autodenominou Sonny em um interrogatório se ele seria capaz de criar uma música clássica ou de fazer um desenho criado por si, na tentativa de humilhar ou reduzir Sonny à sua condição de máquina e Sonny simplesmente devolve a pergunta a Spooner deixando ele desconcertado: - você é capaz de fazer uma música clássica ou um desenho?

Daí vemos a importância de se saber fazer as perguntas certas para as mais diversas situações. Pergunta e resposta certa é um dos enigmas que o holograma do Dr. Alfred Lanning, cientista morto, deixa ao seu amigo Spooner.

Sobre perguntas e respostas, nunca me esqueci da lição do professor de química Glicério, quando eu tinha uns doze ou treze anos, na qual ele dizia que os alunos deveriam ler as perguntas com atenção, mais de uma vez, porque muitas vezes a resposta já está indicada na pergunta. Se a pergunta diz qual, quem, o que, como, quando, onde etc, o aluno não vai escolher uma alternativa que não tenha relação com esse pronome interrogativo. Tem uma lógica nisso.

Voltando ao filme, o enredo é uma boa oportunidade ainda hoje, duas décadas depois, para refletirmos sobre a questão da Inteligência Artificial (IA), que evoluiu drasticamente no preenchimento do cotidiano do mundo em 2025. E até um filme como esse é capaz de apontar aquilo que os neurocientistas sérios nos alertam: que IA não é nem inteligente, nem artificial, são programas baseados em dados e velocidade de processamento.

Foi bom rever o filme. Ele tem umas pegadas (sacadas) bem legais!

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COMENTÁRIO FINAL

Esses filmes são bons demais para seres revistos e abrir reflexões sobre o passado, o presente e o futuro da espécie humana e do planeta Terra. Valem a pena!

Para ler outras postagens sobre filmes, é só clicar aqui e ver a anterior desta série.

William


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