Refeição Cultural
"Educação, oportunidades e justiça ilimitadas, não ganância, deveriam ser o mote que impulsiona o universo humano no futuro." (p. 355)
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"(...) o nosso cérebro permanece maleável ao longo de toda a vida. Isso implica que, por meio da educação crítica, pode-se desmistificar a natureza das abstrações mentais, como o mercado e o sistema financeiro, demonstrando que são apenas criações do ser humano, não produto de intervenção divina." (p. 355)
Terminei a leitura do livro do neurocientista Miguel Nicolelis muito emocionado, às lágrimas. Ganhei o livro O verdadeiro criador de tudo - Como o cérebro humano esculpiu o universo como nós o conhecemos (2020) no dia de meu aniversário. É um livro de ciência, mas é sobretudo um livro de um intelectual humanista, de um "homem cultivado", como diz Mircea Eliade.
Desde pequeno tive o espírito curioso ou uma certa curiosidade filosófica em relação à existência e ao mundo. Ao longo das últimas décadas procurei respostas às minhas questões filosóficas nos mais variados espaços de conhecimentos: nas religiões, nos estudos formais, nas leituras literárias e nas leituras de áreas do saber humano. Nas lutas sociais e coletivas tive minha aprendizagem mais aprofundada que nunca.
Tive contato com diversas matrizes religiosas ocidentais, orientais e de origem africana. Estudei áreas variadas na educação formal: fiz Ciências Contábeis, fiz Educação Física e não concluí e fiz Letras. Estudei várias áreas do direito como concurseiro em certa época de minha vida. Nessas quase quatro décadas de adulto, sempre estive procurando respostas e sentidos.
A leitura do livro sobre o cérebro humano neste momento de minha vida e neste momento da sociedade humana foi algo que mexeu bastante comigo. Busquei muitas explicações para os acontecimentos do mundo e os comportamentos humanos nas leituras de História. Toda leitura feita me acrescentou alguma coisa, é verdade, mas avalio que Nicolelis me trouxe respostas sobre várias questões que martelam em nossa cabeça de cidadão curioso e politizado.
Nicolelis escreve muito bem, a considerar que o livro passa a primeira metade falando sobre Biologia, Anatomia, Fisiologia, sistemas do corpo humano e demais áreas médicas e da ciência. Talvez meu conhecimento de Anatomia e estudos do corpo humano adquirido duas décadas atrás tenha contribuído para que minha leitura não fosse superficial na parte mais espinhosa do livro.
"Do ponto de vista da visão cerebrocêntrica discutida neste livro, a era dos excessos de Hobsbawm (Era dos Extremos) pode ser descrita como o período em que uma abstração mental - o capitalismo - tornou-se poderosa o suficiente para reconfigurar a dinâmica das interações humanas em escala global, cruzando o perigoso patamar que, no limite, pode jogar a humanidade em um buraco negro do qual ela não mais se libertará." (p. 361)
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Na segunda parte do livro, o neurocientista Nicolelis nos faz pensar e pensar e refletir e avaliar a vida e a sociedade e ao final estamos profundamente imersos nos destinos da humanidade. Ou mudamos o rumo das coisas ou não haverá futuro para a espécie humana. Precisamos superar o modo de vida capitalista ou não seguiremos enquanto espécie no planeta Terra.
Tudo que existe na sociedade humana atual é fruto da criação do cérebro humano, todas as abstrações que nos pautam a vida, todas as coisas produzidas, tudo. O cérebro humano deu sentido às coisas que existem, além de criar tudo que há entre nós.
Algumas abstrações se tornaram maiores que seus criadores como, por exemplo, a Igreja do Mercado e o deus dinheiro. Também a abstração Culto das Máquinas. Neste momento da história humana, ou retomamos a importância humana como centro das coisas ou pereceremos enquanto espécie.
Durante décadas tive receio em relação à Inteligência Artificial. Era uma das pessoas que temia que as máquinas adquiririam vida própria e colocariam sob ameaça as outras espécies animais, sobretudo a humana. Nicolelis me explicou a falácia da "Inteligência Artificial", algo impossível de se realizar.
A inteligência é animal, uma máquina não pode ser inteligente no sentido da criação humana. Só nós somos inteligentes, por enquanto (pode ser que fiquemos limitados como as máquinas se não mudarmos o rumo das coisas).
Foi um dos livros mais esclarecedores que li na minha vida. Olho o mundo de forma diferente a partir da leitura de Nicolelis. Não fiquei nem mais triste nem mais feliz, mas me tornei uma pessoa mais consciente a respeito da existência das coisas.
Já não havia espaço para visão mística em minha vida, mas agora as coisas estão mais claras do que nunca. Mas meu humanismo saiu reforçado após essa experiência. Como animal humano, ainda homo sapiens, podemos mudar o rumo da destruição de tudo, e isso é algo valioso, saber que podemos fazer coisas incríveis e aparentemente "impossíveis" como, por exemplo, nos livrarmos do capitalismo.
É isso. Professor Miguel Nicolelis, muito obrigado pela experiência e conhecimento compartilhados. Muito obrigado!
Mais que nunca, é fundamental lutar pela vida, pela educação, pela ciência, pela ética, pelo amor, pela solidariedade, pelo cooperativismo. E para seguirmos a vida é preciso gritar #ForaBolsonaro!
William
Bibliografia:
NICOLELIS, Miguel. O Verdadeiro Criador de Tudo - Como o cérebro humano esculpiu o universo como nós o conhecemos. São Paulo: Planeta, 2020.
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