sábado, 24 de julho de 2021

Leitura: O Caminho da Vitória


Refeição Cultural

Sexta-feira, 23 de julho de 2021, Osasco.

Peguei na estante o livro O Caminho da Vitória - Imagens históricas da trajetória política de Lula da Silva. O livro foi lançado em 2003, numa parceria da Publisher Brasil e Veraz Editores, impresso em Porto Alegre, RS. Os textos do livro são de Jéferson Assunção e a edição está em Português, Inglês e Espanhol.

Que saudade! Que momento histórico de nossas vidas e de nosso país a vitória de Lula e do Partido dos Trabalhadores nas eleições presidenciais de 2002. Participei ativamente daquela campanha como dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região.

Fotos são instantes registrados nas nossas histórias pessoais e coletivas, são registros de épocas.

1º de janeiro de 2003, um dia inesquecível em minha vida

Em 2002, era funcionário do Banco do Brasil já fazia uma década. Por participar da organização e mobilização dos bancários paulistanos acabei compondo a chapa sindical eleita em abril daquele ano. Minha vida daria uma guinada total a partir de então.

Fui liberado do dia a dia do atendimento dos clientes no caixa do Banco do Brasil para me dedicar exclusivamente ao mandato sindical, ao movimento de lutas dos trabalhadores, a partir do dia 5 de agosto. 

Aqueles meses do segundo semestre de 2002 foram muito intensos. Nossa dedicação se dividia entre a organização da campanha salarial da categoria, cuja data-base é setembro, e a campanha política e eleitoral de outubro, que definiria o futuro do país e da classe trabalhadora brasileira. Nossa agenda de lutas era de manhã, tarde, noite, algumas madrugadas e finais de semana.

Vitória de Lula! Vitória do povo brasileiro!


COMO FUI PARAR EM BRASÍLIA NO DIA DA POSSE?

No final daquele ano eu estava esgotado! Era meu primeiro ano como dirigente sindical e político. Apesar da euforia pela vitória de Lula e os preparatórios para a posse - havia toda uma programação das caravanas que iriam pra Brasília -, eu decidi que passaria o Natal e Ano Novo com meus pais em Uberlândia, MG.

Dia 31 de dezembro. Todos os meios de comunicação não falavam de outra coisa que não fosse a posse do retirante nordestino, metalúrgico e sindicalista Lula. Na reunião da família, estávamos nos preparativos para o Réveillon.

Meu coração começou a apertar. A cada hora que passava, mais agoniado eu me sentia. A família percebeu meu estado. Segurei as pontas enquanto foi possível. Meia-noite. Festejos, abraços, emoção! Um novo Brasil nascia naquele momento.

Eu não cabia mais em lugar algum naquela festa em família. Se continuasse lá, iria ter um treco. Pedi desculpas para todos. Pedi que alguém me levasse até a rodoviária de Uberlândia. Era loucura! Noite de Ano Novo, fazer o que na rodoviária uma hora daquelas? Tive a compreensão de esposa e filho, pais e familiares. Fui embora logo após a meia-noite.

Começou na rodoviária a minha saga. Perguntei em cada guichê que encontrava aberto como poderia fazer para chegar a Brasília. Uma sugestão me levou até Araguari, uma cidade próxima a Uberlândia. Me disseram que ali passaria na madrugada um ônibus pra Brasília, vindo de Santos, SP.

Cheguei a Araguari. Estava com a roupa do corpo e sem blusa. Que frio passei naquela rodoviária. Finalmente, chegou o ônibus e consegui embarcar pra Brasília. O ônibus estava cheio de gente que tinha história parecida com a minha. Decidiram ir de última hora.

Chegamos a Brasília por volta de 11 horas da manhã. Eu mentalizei que precisaria achar a delegação do Sindicato. Parecia uma tarefa impossível. No livro que acabei de ler, está dito que havia mais de 150 mil pessoas em Brasília naquele dia. Um mar vermelho tomou a Capital Federal para a posse de Lula.

Depois de algumas horas, acho que umas duas horas, encontrei o companheiro Rafael Matos. Foi uma alegria só. Não larguei mais do cara porque senão eu não teria como encontrar a delegação e os ônibus do Sindicato.

Uma cena me faz chorar toda vez que me lembro dela nesses 20 anos, é uma imagem que parece uma cena que vi numa minissérie na TV, não sei, mas talvez em O tempo e o vento, de Érico Veríssimo.

Estávamos eu e o Rafael indo junto com a multidão na direção do Palácio do Planalto e quando olhei aquela multidão descendo pelo gramado para os espelhos d'água, vi o companheiro Genésio dos Santos, descendo com uma bandeira na mão, e assim como a multidão, ele chorava como uma criança...

Aquilo foi muito bonito, juro pra vocês!

Tudo correu bem naquele dia! Encontrei as companheiras e companheiros do Sindicato. Participamos de todos os eventos da posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Choramos muito! A multidão era de gentes de todas as formas e de todos os lugares. Com seus trajes típicos. Era o povo brasileiro.

Voltamos na caravana de alma lavada. O pessoal me deixou na estrada, do lado da casa de meus pais, que moram perto da rodovia (BR) que vai de Uberlândia a Brasília.

Até hoje estou devendo ao Rafael uma cópia da foto minha, dele e do Genésio. Está em algum lugar e não a encontrei ainda. 

Aquele ano foi um Ano Novo, aquele dia marcou uma vida nova para milhões de brasileiros. A vida foi melhor. O país foi melhor. O povo foi feliz como nunca antes na história do Brasil.

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PRECISAMOS TRILHAR O CAMINHO DA VITÓRIA NOVAMENTE

Hoje vivemos um momento difícil, o pior momento da história do povo brasileiro e do Brasil. Genocídio da classe trabalhadora. O país tomado pelo crime organizado e milícias. Um regime que prega o mal, a morte, o ódio. Um regime de gente mentirosa. A banalidade do mal tomou conta do Brasil.

Mas estamos lutando. Isso vai mudar. Não há mal que dure para sempre. O Brasil vai se libertar dessa desgraça toda que nos colocaram através de mais um golpe de Estado. O povo vai voltar a ser feliz. Lula está aí de novo para se colocar à disposição do povo e do país.

#ForaBolsonaro!

#ForaMourão!

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#LulaLá!

#LulaPresidente!

William


Post Scriptum:

Hoje estou triste. Durante minha vida de dirigente sindical, quando fazia base, nós tínhamos roteiros com determinada quantidade de agências bancárias e departamentos. Na organização de base, com a estratégia adequada, a gente acabava conhecendo todo mundo nos locais de trabalho e quando sentia falta de alguém, dava um jeito de saber o que havia acontecido. Em geral, a pessoa estava em férias, ou doente e afastada, ou havia sido demitida.

Após a mudança drástica em nossas vidas, com a pandemia mundial de Covid-19, com a destruição do Brasil e dos direitos da classe trabalhadora após o golpe de Estado em 2016 e com a volta da miséria e a fome do povo, voltei a ter o cuidado de perguntar o nome dos trabalhadores na minha base atual: a feira, a padaria, os entregadores de refeições etc. Conheço por nome todas as trabalhadoras da padaria perto de casa. Quando sinto falta de alguma delas, dou um jeito de perguntar se está tudo bem. O mesmo com os entregadores mais conhecidos. Foi assim que soube que o rapaz da barraca de pastel da feira, o Alexandre, está se tratando de um câncer; que o senhor Geovani da barraca de bananas faleceu de infarto.

Há dias estava preocupado em não ver algumas das trabalhadoras da padaria. Quando perguntava, era informado que uma delas estava de licença e a outra de folga. Hoje perguntei de novo. Soube que uma delas mudou de horário e a outra trabalhadora não está mais trabalhando para a padaria. Eu percebo que deve haver alguma instrução para não falar nada a respeito. Fico triste porque a trabalhadora pode ter contraído Covid-19 e não estar bem ou pode estar bem de saúde e estar desempregada. A situação das pessoas está difícil. O marido já estava desempregado e eles têm uma criança de seis anos. Que dureza! Multipliquem essa situação por milhões... é o Brasil de Temer e Bolsonaro!

Espero que esteja tudo bem com a trabalhadora em questão e com sua família.

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