sábado, 17 de julho de 2021

Lendo "Retrato do artista..." - James Joyce



Refeição cultural

"Colocai o vosso dedo por um momento na chama duma vela e sentireis a dor do fogo. Mas o nosso fogo terreno foi criado por Deus para benefício do homem, para manter nele a centelha de vida e para ajudá-lo nas artes úteis, ao passo que o fogo do inferno é duma outra qualidade e foi criado por Deus para torturar e punir pecador sem arrependimento. O nosso fogo terrestre, outrossim, se consome mais ou menos rapidamente, conforme o objeto que ele ataca for mais ou menos combustível, a ponto de a ingenuidade humana ter-se sempre entregado a inventar preparações químicas para garantir ou frustrar a sua ação. Mas sulforoso breu que arde no inferno é uma substância que foi especialmente designada para arder para sempre e ininterruptamente com indizível fúria. Além disso, o nosso fogo terrestre destrói ao mesmo tempo que arde, de maneira que quanto mais intenso ele for mais curta será a sua duração; já o fogo do inferno tem esta propriedade de preservar aquilo que ele queima e, embora, se enfureça com incrível ferocidade, ele se enfurece para sempre." (JOYCE, 1987, p. 126)


Sigo na leitura do Retrato do artista quando jovem, livro de Joyce publicado após o livro de contos Dublinenses. Livro que antecedeu ao clássico Ulysses.

No primeiro capítulo, vimos a infância do personagem Stephen Dedalus. Uma cena que me causou incômodo (indignação) foi a das punições às crianças nas escolas. Ajoelhar no milho, ficar em pé de cara para a parede, palmatória etc. Um horror. Ler aqui a postagem sobre o primeiro capítulo.

No segundo capítulo, Stephen está de volta ao lar com sua família. Ele demorou para voltar para Clongowes, onde estudava, porque a família estava sem recursos. Eles precisam mudar de Cork, no interior, para Dublin. vimos também os sofrimentos do garoto - ele apanha de seus colegas. No final do capítulo, ele, já no início da adolescência, conhece o sexo em um prostíbulo.

No terceiro capítulo, que li hoje, o tema central das quase 50 páginas foi a religião. Durante a leitura do texto, eu fiquei me lembrando de minha infância e adolescência ao ver os dilemas de Stephen em relação à religião. Que dureza! Eu sabia que Joyce trabalhava a questão da religião em seus romances, mas viver o sofrimento do jovem Dedalus me fez retroceder décadas e me lembrar como os dogmas impactam na vida das pessoas.

Os leitores descobrem a idade do personagem naquele momento do romance, na hora da confissão dele, ao dizer ao padre que ele está com 16 anos.

Deu trabalho ler o capítulo inteiro como planejei. Comecei de manhã e tive que ir lendo quando era possível ao longo do dia.

Seguimos adquirindo conhecimento novo. Isso não é pouca coisa em face dos acontecimentos do mundo. A vida no Brasil está uma verdadeira tragédia e cada pessoa está lutando para atravessar essa fase triste do país.

William


Bibliografia:

JOYCE, James. Retrato do artista quando jovem. Tradução de José Geraldo Vieira. Ediouro/92340, 1987.


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