quarta-feira, 7 de julho de 2021

Odisseia (Homero) - Ulisses reconhecido pela ama



Refeição Cultural

"   Palpando, a cicatriz conhece a velha,
Nem pode o pé suster; cai dentro a perna,
E a bacia retine e se derrama,
Dor a assalta e prazer; nos olhos água,
Presa às faces a voz, lhe afaga o mento,
E balbucia enfim: 'Tu és, meu filho,
És Ulisses; depois que te hei palpado,
Ora por meu senhor te reconheço'.
" (LIVRO XIX, v.354-361, p.328)


Leitura dos livros XVIII e XIX da epopeia, vimos cenas clássicas como a do encontro de Ulisses com sua ama, que o reconheceu ao tocar a cicatriz da ferida no joelho, feita por um javali quando ele ainda era uma criança.

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Também vemos o encontro de Ulisses com Penélope, vinte anos depois. Ela não o reconhece porque a deusa Minerva o disfarçou num velho forasteiro para que ele consiga realizar sua vingança, matando os inimigos em sua casa e retomando suas posses.

"   À pressa o escano de tosões coberto,
Lhe trouxe a velha; ao divo herói sentado
Penélope interroga: 'Hóspede, vamos,
Quem és? De que família? De que pátria?'
" (LIVRO XVIII, v.76-79, p. 320)

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Outra cena antológica é a que se conta o estratagema de Penélope que tece e desfaz o manto para enrolar os pretendentes que querem desposá-la. A estratégia dela dura três anos, mas depois ela tem que terminar a confecção da mortalha. Ela conta isso ao velho hóspede, que na verdade é Ulisses.

"Saudosa a prantear consumo a vida!
Urgem-me os procos, e eu maquino enganos.
Um gênio me inspirou tramar imensa
Larga teia delgada, e assim lhes disse:
'- Amantes meus, depois de morto Ulisses,
Vós não me insteis, o meu lavor perdendo,
Sem que do herói Laertes a mortalha
Toda seja tecida, para quando
No sono longo o sopitar o fado:
Nenhuma Argiva exprobre-me um funéreo
Manto rico não ter quem teve tanto.' -
A diurna obra desfazia à noite,
E os entretive ilusos por três anos;
Mas, gastas luas e horas, veio o quarto,
E então, por traça de impudentes servas
Apanhando-me, encheram-me de afrontas,
E a concluir a teia me forçaram.
" (LIVRO XVIII, v. 103-119, p. 321)

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Nestes versos abaixo, vemos a origem do nome do herói Ulisses, dado a ele por seu avô materno Autólico.

"   Veio Autólico a Ítaca ubertosa
De seu neto ao nascer; e, mal cearam,
Põe-lhe o infante aos joelhos Euricléia:
'Tu o almejavas tanto, agora inventa
Um nome ao filho da querida filha'.
    Disse o avô: "Genro meu, minha Anticléia,
Eu ressentido contra muitos venho
De um e outro sexo na selvosa terra;
Um nome lhe imporei, chama-se Ulisses,
Crescido, a casa a visitar materna,
Vindo ao Parnaso, onde as riquezas tenho,
Hei de brindá-lo e despedir contente'.
" (LIVRO XIX, v. 306-317, p. 327)

Sobre o significado do nome, o tradutor Odorico Mendes fez nota explicando ao leitor:

"O nome Ulisses ou Odisseus vem do verbo odýssö, 'irar-se'. Querem muitos que a história da ferida, a qual vai seguindo, seja uma interpolação. Pode ser que haja acrescentamentos; porém, Homero, em ambos os seus poemas, não perde ocasião de contar-nos sucessos ainda mais longos, e estes, interessantes como pertencentes ao seu herói, é provável que os não quisesse omitir." (Nota 309-312, p. 327)


Enfim, foram dois livros ou cantos com episódios bem clássicos da Odisseia.

Estamos chegando ao fim de mais um clássico da literatura mundial.

William


Bibliografia:

HOMERO. Odisseia. Tradução de Manuel Odorico Mendes. Edição de Antonio Medina Rodrigues. - 2. ed. - São Paulo: Ars Poetica: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. - (Coleção Texto & Arte; 5).


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