terça-feira, 20 de julho de 2021

Uma história enfadonha - Conto de Tchekhov



Refeição Cultural

Hoje li o conto "Uma história enfadonha das memórias de um homem idoso", de Anton Tchekhov. Achei que seria uma leitura rápida, mas acabei gastando o dia todo para ler as 50 páginas. O conto faz parte do livro que tenho em casa As três irmãs e Contos

Peguei o Tchekhov pra ler ontem à noite pra descansar a cabeça de um dia com muita leitura de política e sobre a Cassi/BB e acabei dando sono após umas vinte páginas. Como o entendimento estava ruim, recomecei do zero a leitura durante o dia.

A narrativa de hoje não foi diferente das outras que já li de Tchekhov. Elas não seguem o padrão tradicional dos contos com histórias que têm um início, desenvolvimento, tensão e conclusão. 

Suas narrativas mostram muita inação por parte dos personagens. Eles não fazem nada, não agem e acabam se conformando com as coisas como elas são e perdem oportunidades de mudar de vida ou de situação.

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A história do professor Nicolai Stiepánovitch nos apresenta questões sociais ainda hoje relevantes, se considerarmos que Tchekhov escreveu seus dramas e contos nas últimas décadas do século XIX e início do XX - ele morreu jovem, em 1904, aos 44 anos de idade.

A família não paga há meses o salário de $10 do empregado em casa, mas manda $50 mensais pra melhorar os rendimentos do filho oficial no estrangeiro.

O mesmo em relação à filha em casa:

"Por que, vendo como eu e sua mãe, cedendo a um sentimento falso, procuramos ocultar das pessoas a nossa pobreza, por que ela não renuncia ao dispendioso prazer de estudar música?" (p. 185)

O professor Nicolai tem um assessor, Piotr, que é um tipo muito comum na sociedade moderna. Um especialista, alguém que só sabe sobre aquilo que faz e não tem conhecimento algum de mundo, de nada. Essa questão virou uma praga no século XXI. Essa espécie de cidadão está fazendo morrer a criatividade humana.

"Em toda a sua vida, há de preparar algumas centenas de peças anatômicas de extraordinária pureza, escreverá muitos relatórios áridos, bem aceitáveis, fará uma dezena de traduções conscienciosas, mas não inventará a pólvora (...) Em suma, não é um patrão em ciência, mas um operário." (p. 189)

É legal a parte em que o professor Nicolai descreve sua desenvoltura na sala de aula, as estratégias de manutenção da atenção dos 150 alunos e seus critérios nas revisões de notas finais: aos que levam a vida na boa, ele não dá a menor chance, manda estudar mais e voltar depois pra fazer nova prova.

Tem um machismo e uma misoginia no texto que nos incomoda demais. Aff!

É isso. Aos poucos vou conhecendo os autores e textos russos.

William


Bibliografia:

TCHEKHOV, Anton. As três irmãs e contos. Coleção Imortais da Literatura Universal. Nova Cultural, 1995.

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