domingo, 31 de maio de 2009

Poema - Musas para o existir


Desenho de Mário Augusto.

Musas para o existir

Não pode ser!
Aceitar a ideia de sobrevida diária
passivamente, pacificamente.

Não pode ser!
Conformar-se em ser infeliz
cotidianamente, diuturnamente.

Caieiro...
Talvez a inspiração em Caieiro seja a solução:
não pensar, não buscar motivos. Só existir.

Drummond...
Atingido o primeiro estágio,
nada mau transfigurar-se em Drummond,
para seguir adiante:

Parecer delicado,
porém ser forte e robusto com as palavras e atos;
parecer negativo,
porém explodir esporadicamente em esperanças;
parecer escondido
atrás dos óculos e bigode, porém irradiar sempre.

Graciliano...
Atingido o segundo estágio,
o ideal, o meu ideal:
ser conciso como Graciliano.

Dizer apenas o necessário,
mas de forma incontestável.
Nunca estar satisfeito com a forma,
por acreditar ser possível dizer mais
com menos.


Wmofox, 8/4/06

Musas para o existir: Caieiro, Drummond, Graciliano.


Desenho de Mário Augusto.

(em prosa)

Não pode ser, aceitar a ideia de sobrevida diária passivamente, pacificamente.
Não pode ser, conformar-se em ser infeliz cotidianamente, diuturnamente.
Talvez a inspiração em Caieiro seja a solução: não pensar, não buscar motivos; só existir.

Atingido o primeiro estágio, nada mau transfigurar-se em Drummond para seguir adiante: parecer delicado, porém ser forte e robusto, com as palavras e atos; parecer negativo, porém explodir esporadicamente em esperanças; parecer escondido atrás dos óculos e bigode, porém irradiar sempre.

Atingido o segundo estágio, o ideal, o meu ideal, ser conciso como Graciliano: dizer apenas o necessário, mas de forma incontestável; nunca estar satisfeito com a forma, por acreditar ser possível dizer mais com menos.

Wmofox, 8/4/06

Definições da economia - Leituras de Rossetti



Leer aunque sean los papeles rotos por la calle...
(Cervantes)

Refeição Cultural

Excertos de definições da economia:

Uma conceituação mais antiga, ainda do período grego, seria:

"Ciência da administração da comunidade doméstica" p.49

Depois no período pós-renascimento:

"A economia seria definida como um ramo do conhecimento essencialmente voltado para a melhor administração do Estado, sob o objetivo central de promover o seu fortalecimento" p.50

Já na fase clássica, na época do iluminismo do século XVIII, passou-se a três grandes compartimentos: formação, distribuição e consumo das riquezas.

Tivemos vários pensadores importantes no período: Quesnay, Adam Smith, Stuart Mill, David Ricardo, Jean Baptiste Say.

Citação de obra de Say, em 1803:

"A Economia Política torna conhecida a natureza da riqueza; desse conhecimento de sua natureza deduz os meios de sua formação, revela a ordem de sua distribuição e examina os fenômenos envolvidos em sua destruição, praticada através do consumo" p.51

Segundo Rossetti, a partir das aberturas liberais do século XVIII, a economia passaria a investigar os fatores envolvidos no processo de formação das riquezas, examinando os aspectos relacionados à sua distribuição e chegando, afinal, a considerar a etapa última do consumo.

William

sábado, 30 de maio de 2009

Caminhada de fim de dia e alagamento em casa




Após um dia de sábado em que trabalhei, fiz uma caminhada de 6 Km no Parque Continental ao fim do dia.

Hoje, acordamos em casa com uma pequena inundação vinda pelas paredes e que fez poças na sala, banheiro e varanda. Encharcou um monte de coisas. Foi problema de caixa d'água do prédio. É a vida e acontece!

Acabei o livro de Saramago Todos os nomes. Maravilhoso como os demais que já li.

William 

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Caminhada matutina




Hoje pela manhã, retomei minha caminhada matinal com direito a um caldo de cana. Fiz 6 Km.

domingo, 24 de maio de 2009

Artigo - Evoluímos? A barbárie diminuiu?


Com minha mamãe, papai e tio Jorge.

Refeição Cultural

Sigo aprendendo com tudo ao meu redor: pessoas, livros, encontros e congressos do movimento sindical, filmes, músicas... com o silêncio e com o som do vento.

Na maior parte das vezes que me vêm ideias de textos ou frases, estou em momentos onde não é possível escrever, como ocorre quando estou caminhando. Depois, é mais difícil recuperar exatamente as palavras que haviam construído aquele pensamento. E palavras são tijolos que compõem a construção do pensamento. Pode ser uma construção sólida ou frágil dependendo do tipo de tijolo, da disposição dele e da argamassa.

Antes da construção textual, algumas coisas de minhas lacunas culturais:

Eu não entendo muito bem sobre as Internacionais Comunistas. A primeira, segunda, terceira e quarta (polêmica). Pela revista que comprei da Liga Bolchevique, dizem ser a primeira a Associação Internacional dos Trabalhadores, criada por Marx em 1864. A polêmica é se houve ou não a chamada 4ª internacional. Vou ler o texto completo e avaliar depois.


Agora vamos às reflexões:

A sociedade humana evolui sempre? E a barbárie, diminuiu também, ou não?

Entre os diversos debates feitos com meus companheiros do coletivo de diretores do Banco do Brasil, um que me chamou a atenção é sobre se a sociedade evoluiu ou não nos últimos séculos em relação à barbárie. E se a sociedade sempre evolui ou se isso é um determinismo falso.

Eu tenho tendido a acreditar que nós humanos não deixamos de ser bárbaros nunca. Digo isso em relação a todo o tempo de nossa história.

Desde que adquirimos a habilidade que nos diferenciou dos demais animais, nossa habilidade serviu para construirmos o conhecimento e a tecnologia, é verdade. Mas essa tecnologia e esse conhecimento sempre, sempre, serviram para nos matarmos uns aos outros e estabelecermos a dominação e a escravidão do derrotado ou do mais fraco, ou do menos adaptado.

Também é verdade que a habilidade e o conhecimento serviram para preservar mais a vida e salvá-la das mais diversas formas. Mas eu continuo achando que isso também é relativo, pois esse salvamento é preferencialmente para a classe dominante e os mais protegidos e não o povo em geral (e sei que aqui me contestarão dizendo das vacinas etc e tal).

Ser humanista é ser necessariamente otimista?

Outra questão que não me sai da cabeça em relação a evolução permanente é quando penso que os povos "primitivos" (ou de fases anteriores à atual - ou mais conhecidos por indígenas ou aborígenes) viveram no planeta terra por cerca de 200 séculos e, de certa forma, não alteraram substancialmente o ecossistema.

Nós, os mais evoluídos, conseguimos alterar de forma talvez irreversível o ecossistema planetário em pouco mais de 3 séculos. Vai ser evoluído assim no inferno!

Aí me vem um companheiro dizer que existe a questão do humanismo, que segundo ele, no final das contas, a gente sempre acaba se unindo para salvar a coletividade de algum fatídico fim. E que eu não poderia ser um humanista se for um pessimista em relação a isso.

Penso diferente. Acredito que me tornei mais humanista nos últimos anos. Devo isso ao convívio com o movimento social organizado - sindical e partidário. Mesmo assim, vez por outra, acho que ainda estou longe de ser um humanista. Atualmente, voltei a ter dúvidas se pessoas que praticam alguns tipos de crimes merecem viver. Por exemplo, estupradores.

Acredito que não seja uma relação direta afirmar ser humanista aquele que é otimista ao sonhar e lutar diariamente para mudar o mundo em nome de mais igualdade e justiça para todos.

Acredito que lutar para mudar e melhorar o mundo para todos é o mais correto a fazer. Neste sentido, acho que sou humanista, porque a prioridade das coisas do mundo deve ser o ser humano na sua totalidade, inclusive com o seu habitat, planeta Terra.

Só isso!

William Mendes

sábado, 23 de maio de 2009

Cheguei do CECUT SP no maior "prego"!




Cara, tô muito cansado! Apesar disso, ontem corri um pouco lá em Serra Negra e hoje caminhei.


Post Scriptum (5/01/16):

Estou em Osasco, em férias, jogando papéis fora. Encontrei essa anotação em agendas velhas. Provavelmente, feita em maio de 2009. Eu vivia a "crise" dos 40 anos de idade...


"49 dias de sobrevida

De certa forma, em meu íntimo, não queria estar buscando tanta coisa importante como a própria providência dos meus e estabilidade. Meu desejo seria desfrutar, curtir a existência. Inclusive, sem guerras pessoais. Tão distante estou..."

terça-feira, 19 de maio de 2009

Caminhada pós-viagem




Voltei hoje de manhã de Uberlândia, onde estive 4 dias com a família.

Caminhei no final da tarde cerca de 6 Km ao redor do Parque Continental.

A caminhada ou corrida são fundamentais para todas as pessoas. O ritmo certo para cada condição física faz com que nossa máquina funcione corretamente.

Mais ou menos, podemos dizer que a questão de ingestão de calorias é matemática. Como, em geral, comemos mais do que precisamos para o dia de vida, devemos consumir o excesso com alguma atividade física.

Não é uma questão de estética (para alguns pode até ser); é uma questão de saúde do corpo e da mente.

La Celestina - Literatura Española Medieval (XII)




LA CELESTINA

Acto treceno

(ATENÇÃO: LEITURA REVELA A OBRA)

Argumento del treceno acto:

Despertando Calixto de dormir, está hablando consigo mismo. Dende (desde allí), un poco, está llamando a Tristán y a otros sus criados. Torna a dormir Calixto. Pónese Tristán a la puerta. Viene Sosia llorando. Preguntando de Tristán, Sosia cuéntale la muerte de Sempronio y Parmeno. Van a decir las nuevas a Calixto, el cual, sabiendo la verdad, hace gran lamentación.

Este capítulo é demasiado sangrento. Celestina morta com mais de 30 estocadas. Sempronio e Parmeno degolados em praça pública.


Acto catorceno

Argumento del catorceno acto:

Está Melibea muy afligida hablando con Lucrecia sobre la tardanza de Calixto, el cual le había hecho voto de venir en aquella noche a visitarla, lo cual cumplió, y con él vinieron Sosia y Tristán. Y después que cumplió su voluntad, volvieron todos a la posada, y Calixto se retrae en su palacio y quéjase por haber estado tan poca cantidad de tiempo con Melibea, y ruega a Febo que cierre sus rayos, para haber de restaurar su deseo.

Depois de Calixto consumar fisicamente seu amor com Melibeia (ela pediu que ele não o fizesse, mas ele foi adiante), volta para casa e, faz grande monólogo em seus aposentos.


Acto décimoquinto

Argumento del décimoquinto acto:

Areusa dice palabras injuriosas a un rufián llamado Centurio, el cual se despide de ella por la venida de Elicia, la cual cuenta a Areusa las muertes que sobre los amores de Calixto e Melibea se habían ordenado, y conciertan Areusa y Elicia que Centurio haya de vengar las muertes de los tres en los dos enamorados. En fin, despídese Elicia de Areusa, no consintiendo en lo que ruega, por no perder el tiempo que se daba, estando en su asueta (habitual) casa.

Elicia explica a Areusa a causa da tragédia de Celestina, Parmeno e Sempronio.

"Pues (despues) como Calixto tan presto vió buen concierto en cosa que jamás lo esperaba (ter Melibeia), a vueltas de otras cosas dió a la desdichada de mi tía una cadena de oro. Y como sea de tal calidad aquel metal, que mientras más bebemos de ello más sed nos pone con sacrílega hambre, cuando se vió tan rica, alzóse con su ganancia y no quiso dar parte a Sempronio ni a Parmeno de ello, lo cual había quedado entre ellos que partisen lo que Calixto diese" p.120

Interessante. Temos a versão de Sempronio p. da vida com Celestina e, depois, sua protegida Elicia falando do mesmo fato, mas de forma diferente.

"¡Oh bien y gozo mundano, que mientras eres poseído eres menos preciado y jamás te consientes conocer hasta que te perdemos!" p.121

"Que cuando una puerta se cierra, otra suele abrir la fortuna" p.121

As duas frases são bem comuns até hoje e pertencem à sabedoria popular.


Post Scriptum: o texto seguinte pode ser lido aqui. O anterior, aqui.


BIBLIOGRAFÍA:

ROJAS, Fernando de. La Celestina – tragicomedia de Calixto y Melibea. Colección Austral n. 195. Undécima Edición, 1971. Espasa-Calpe, S.A. Madri.

La Celestina - Literatura Española Medieval (XI)




LA CELESTINA

El acto doceno

(ATENÇÃO: LEITURA REVELA A OBRA)

Argumento del doceno acto:

Llegando la media noche, Calixto, Sempronio y Parmeno, armados, van para casa de Melibea. Lucrecia y Melibea están cabe la puerta, aguardando a Calixto. Viene Calixto. Háblale primero Lucrecia. Llama a Melibea. Apártase Lucrecia. Háblanse por entre las puertas Melibea y Calixto. Parmeno y Sempronio, de su cabo, departen. Oyen gentes por la calle. Apercíbense para huir. Despídese Calixto de Melibea, dejando concertada la jornada para la noche siguiente. Pleberio, al son de ruido que había en la calle, despierta. Llama a su mujer, Alisa. Preguntan a Melibea quién da patadas en su cámara. Responde Melibea a su padre, Pleberio, fingiendo que tenía sed. Parmeno y Sempronio van a casa de Celestina. Demandan su parte de la ganancia. Disimula Celestina. Vienen a reñir. Échanle mano a Celestina, mátanla. Da voces Elicia. Viene la justicia y préndelos ambos.


DITOS E SABEDORIAS:

"Y pues sabes que tanto mayor es el yerro cuanto mayor es el que yerra" p.103

"Pero guárdate Dios de verte con armas, que aquél es el verdadero temor. No en balde dicen: cargado de hierro y cargado de miedo" (venian los alguaciles) p. 104

Sempronio fica uma fera com a recusa de Celestina em dar algo para eles, pois ela diz que o que Calixto deu a ela é dela. Eles que ganhem o deles.

"Sempronio - no es está la primera vez que yo he dicho cuanto en los viejos reina este viejo de la codicia. Cuando pobre, franca; cuando rica, avarienta. Así que adquiriendo crece la codicia y la pobreza codiciando; ninguna cosa hace pobre al avariento sino la riqueza. ¡Oh Dios, y cómo crece la necesidad con la abundancia! ¡Quién la oyó esta vieja decir que me llevase yo todo el provecto, si quisiese, de este negocio, pensando que sería poco! Ahora que lo veo crecido, no quiere dar nada, por cumplir el refrán de los niños, que dicen: de lo poco, poco; de lo mucho, nada" p.108

FANTÁSTICO!!

"A perro viejo no cuz cuz" p.108

Semântica: "cuz cuz" é a interjeição para chamar cachorros (La RAE)


"Y como nos veis mujeres, habláis y pedis demasías. Lo cual, si hombres sintiésedes en la posada, no haríades. Que como dicen: el duro adversario entibia las iras y sañas" (é fácil ser durão em local onde só há mulheres) p.109


Post Scriptum: o texto posterior pode ser lido aqui. O anterior, aqui.


BIBLIOGRAFÍA:

ROJAS, Fernando de. La Celestina – tragicomedia de Calixto y Melibea. Colección Austral n. 195. Undécima Edición, 1971. Espasa-Calpe, S.A. Madri.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A Ásia e a crise financeira mundial: fundo comum fortalece bloco




Refeição Cultural

Lendo a revista CartaCapital nº 545, na matéria intitulada A Ásia reage em bloco, descobri informações interessantes relativas a soluções econômicas e diplomáticas para a região.

Foi criado um fundo de 120 bilhões de dólares para garantir a solidez financeira na região.

"Na prática, o encontro tratou da ampliação do mecanismo regional de swaps cambiais bilaterais (operações de trocas de moeda entre dois países) conhecido como Iniciativa Chiang Mai (CMI, na sigla em inglês). Criada em 2000 como resposta à crise financeira asiática de 1997-1998, a CMI permite aos países participantes do grupo Asean + 3 utilizar mutuamente as reservas cambiais no caso de dificuldades de financiamento externo"

Como é composto a CMI?

"A CMI inclui os dez integrantes da Associação de Países do Sudeste Asiático (Asean, na sigla em inglês), juntamente com China, Japão e Coreia do Sul - um grupo hoje comumente chamado de Asean + 3"

É isso. Conhecimento não ocupa espaço.

domingo, 17 de maio de 2009

Artigo de Eric Hobsbawm no The Guardian




Refeição Cultural

Socialismo fracassou, capitalismo quebrou: o que vem a seguir?

A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. A prioridade não é o aumento do lucro e do consumo, mas sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos por meio da ação coletiva. Isso significa iniciativa pública não baseada na busca de lucro. Decisões públicas dirigidas a melhorias sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza pessoal. A análise é do historiador britânico Eric Hobsbawm


Eric Hobsbawm - The Guardian

Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, o deslocamento do mercado livre para a ação pública deve ser maior do que os políticos imaginam. O século XX já ficou para trás, mas ainda não aprendemos a viver no século XXI, ou ao menos pensá-lo de um modo apropriado. Não deveria ser tão difícil como parece, dado que a ideia básica que dominou a economia e a política no século passado desapareceu, claramente, pelo sumidouro da história. O que tínhamos era um modo de pensar as modernas economias industriais – em realidade todas as economias -, em termos de dois opostos mutuamente excludentes: capitalismo ou socialismo.

Conhecemos duas tentativas práticas de realizar ambos sistemas em sua forma pura: por um lado, as economias de planificação estatal, centralizadas, de tipo soviético; por outro, a economia capitalista de livre mercado isenta de qualquer restrição e controle. As primeiras vieram abaixo na década de 1980, e com elas os sistemas políticos comunistas europeus; a segunda está se decompondo diante de nossos olhos na maior crise do capitalismo global desde a década de 1930. Em alguns aspectos, é uma crise de maior envergadura do que aquela, na medida em que a globalização da economia não estava então tão desenvolvida como hoje e a economia planificada da União Soviética não foi afetada. Não conhecemos a gravidade e a duração da atual crise, mas sem dúvida ela vai marcar o final do tipo de capitalismo de livre mercado iniciado com Margareth Thatcher e Ronald Reagan.

A impotência, por conseguinte, ameaça tanto os que acreditam em um capitalismo de mercado, puro e desestatizado, uma espécie de anarquismo burguês, quanto os que creem em um socialismo planificado e descontaminado da busca por lucros. Ambos estão quebrados. O futuro, como o presente e o passado, pertence às economias mistas nas quais o público e o privado estejam mutuamente vinculados de uma ou outra maneira. Mas como? Este é o problema que está colocado diante de nós hoje, em particular para a gente de esquerda.

Ninguém pensa seriamente em regressar aos sistemas socialistas de tipo soviético, não só por suas deficiências políticas, mas também pela crescente indolência e ineficiência de suas economias, ainda que isso não deva nos levar a subestimar seus impressionantes êxitos sociais e educacionais. Por outro lado, até a implosão do mercado livre global no ano passado, inclusive os partidos social-democratas e moderados de esquerda dos países do capitalismo do Norte e da Australásia estavam comprometidos mais e mais com o êxito do capitalismo de livre mercado.

Efetivamente, desde o momento da queda da URSS até hoje não recordo nenhum partido ou líder que denunciasse o capitalismo como algo inaceitável. E nenhum esteve tão ligado a sua sorte como o New Labour, o novo trabalhismo britânico. Em suas políticas econômicas, tanto Tony Blair como Gordon Brown (este até outubro de 2008) podiam ser qualificados sem nenhum exagero como Thatchers com calças. O mesmo se aplica ao Partido Democrata, nos Estados Unidos.

A ideia básica do novo trabalhismo, desde 1950, era que o socialismo era desnecessário e que se podia confiar no sistema capitalista para fazer florescer e gerar mais riqueza do que em qualquer outro sistema. Tudo o que os socialistas tinham que fazer era garantir uma distribuição equitativa. Mas, desde 1970, o acelerado crescimento da globalização dificultou e atingiu fatalmente a base tradicional do Partido Trabalhista britânico e, em realidade, as políticas de ajudas e apoios de qualquer partido social-democrata. Muitas pessoas, na década de 1980, consideraram que se o barco do trabalhismo não queria ir a pique, o que era uma possibilidade real, tinha que ser objeto de uma atualização.

Mas não foi. Sob o impacto do que considerou a revitalização econômica thatcherista, o New Labour, a partir de 1997, engoliu inteira a ideologia, ou melhor, a teologia, do fundamentalismo do mercado livre global. O Reino Unido desregulamentou seus mercados, vendeu suas indústrias a quem pagou mais, deixou de fabricar produtos para a exportação (ao contrário do que fizeram Alemanha, França e Suíça) e apostou todo seu dinheiro em sua conversão a centro mundial dos serviços financeiros, tornando-se também um paraíso de bilionários lavadores de dinheiro. Assim, o impacto atual da crise mundial sobre a libra e a economia britânica será provavelmente o mais catastrófico de todas as economias ocidentais e com a recuperação mais difícil também.

É possível afirmar que tudo isso já são águas passadas. Que somos livres para regressar à economia mista e que a velha caixa de ferramentas trabalhista está aí a nossa disposição – inclusive a nacionalização -, de modo que tudo o que precisamos fazer é utilizar de novo essas ferramentas que o New Labour nunca deixou de usar. No entanto, essa ideia sugere que sabemos o que fazer com as ferramentas. Mas não é assim.

Por um lado, não sabemos como superar a crise atual. Não há ninguém, nem os governos, nem os bancos centrais, nem as instituições financeiras mundiais que saiba o que fazer: todos estão como um cego que tenta sair do labirinto tateando as paredes com todo tipo de bastões na esperança de encontrar o caminho da saída.

Por outro lado, subestimamos o persistente grau de dependência dos governos e dos responsáveis pelas políticas às receitas do livre mercado, que tanto prazer lhes proporcionaram durante décadas. Por acaso se livraram do pressuposto básico de que a empresa privada voltada ao lucro é sempre o melhor e mais eficaz meio de fazer as coisas? Ou de que a organização e a contabilidade empresariais deveriam ser os modelos inclusive da função pública, da educação e da pesquisa? Ou de que o crescente abismo entre os bilionários e o resto da população não é tão importante, uma vez que todos os demais – exceto uma minoria de pobres – estejam um pouquinho melhor? Ou de que o que um país necessita, em qualquer caso, é um máximo de crescimento econômico e de competitividade comercial? Não creio que tenham superado tudo isso.

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(COMENTÁRIO: essas perguntas de Hobsbawm são fundamentais. Tempos atrás (2006), Hollywood lançava um filme daqueles bonitinhos e de fazer chorar ao final - À procura da felicidade, com Will Smith e seu filho - filme bonitinho e NOJENTO no que ele representa: a ideologia liberal capitalista americana - o mundo é para os melhores, mesmo que sejam poucos, pois esses são os mais competentes e vencem a famosa corrida contra o leão que devora aos mais lerdos. O filme é a cara da ideologia americana)
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No entanto, uma política progressista requer algo mais que uma ruptura um pouco maior com os pressupostos econômicos e morais dos últimos 30 anos. Requer um regresso à convicção de que o crescimento econômico e a abundância que comporta são um meio, não um fim. Os fins são os efeitos que têm sobre as vidas, as possibilidades vitais e as expectativas das pessoas.

Tomemos o caso de Londres. É evidente que importa a todos nós que a economia de Londres floresça. Mas a prova de fogo da enorme riqueza gerada em algumas partes da capital não é que tenha contribuído com 20 ou 30% do PIB britânico, mas sim como afetou a vida de milhões de pessoas que ali vivem e trabalham. A que tipo de vida têm direito? Podem se permitir a viver ali? Se não podem, não é nenhuma compensação que Londres seja um paraíso dos muito ricos. Podem conseguir empregos remunerados decentemente ou qualquer tipo de emprego? Se não podem, de que serve jactar-se de ter restaurantes de três estrelas Michelin, com alguns chefs convertidos eles mesmos em estrelas. Podem levar seus filhos à escola? A falta de escolas adequadas não é compensada pelo fato de que as universidades de Londres podem montar uma equipe de futebol com seus professores ganhadores de prêmios Nobel.

A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. Não importa só o aumento do lucro e do consumo dos particulares, mas sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos por meio da ação coletiva. Mas isso significa – ou deveria significar – iniciativa pública não baseada na busca de lucro, sequer para redistribuir a acumulação privada. Decisões públicas dirigidas a conseguir melhorias sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza pessoal.

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(COMENTÁRIO: um bom exemplo desse tipo de política pública em que todos sairiam ganhando é o transporte público TOTALMENTE GRATUITO nas grandes cidades, subsidiado pelo orçamento público. Cidadãos de todos os níveis sociais de cidades como São Paulo sairiam ganhando, e eu tenho a convicção de que isso não diminuiria a produção e venda de veículos automotores. O transporte público gratuito e de qualidade, entretanto, faria com que o automóvel fosse uma opção e ele seguiria sendo a ostentação do status social, o "Falo" do capitalismo liberal)
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Em nenhum âmbito isso será mais importante do que na luta contra o maior problema com que nos enfrentamos neste século: a crise do meio ambiente. Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, significará um deslocamento de grande alcance, do livre mercado para a ação pública, uma mudança maior do que a proposta pelo governo britânico. E, levando em conta a gravidade da crise econômica, deveria ser um deslocamento rápido. O tempo não está do nosso lado.


Artigo publicado originalmente no jornal The Guardian
Tradução do inglês para o espanhol: S. Segui, integrante dos coletivos Tlaxcala, Rebelión e Cubadebate.
Tradução do espanhol para o português: Katarina Peixoto

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Corridinha vespertina


Desenho de Mário Augusto.

Corri e caminhei um pouco hoje à tarde. Coisa de 6 Km, sendo 3K correndo.

Como havia pensado, arranjei uma pequena viagem nestes dias de descanso. Tô zarpando.

Fui.

Lendo Era dos extremos, de Hobsbawm



Refeição Cultural

LENDO, E REFLETIDO...


"As condições estão dadas, o problema é de liderança"

Em geral, o povo mais à esquerda da esquerda fala isso. Bobagem!

Há que se ter uma boa leitura da realidade. Os revolucionários bolcheviques sabiam disso.

"As condições para uma tal transformação (socialismo) simplesmente não estavam presentes num país camponês que era um sinônimo de pobreza, ignorância e atraso, e onde o proletariado industrial, o predestinado coveiro do capitalismo de Marx, era apenas uma minúscula minoria, embora estrategicamente localizada. Os próprios revolucionários marxistas russos partilhavam dessa opinião" p.64

Mais adiante, Hobsbawm afirma ainda:

"O próprio Karl Marx, no fim da vida, tinha esperado que a Revolução Russa agisse como uma espécie de detonador, disparando a revolução proletária nos países ocidentais industrialmente mais desenvolvidos, onde estavam presentes as condições para uma revolução socialista proletária" p.64

REVOLUÇÃO PERMANENTE

Expressão adotada por Marx e revivida durante a Revolução de 1905 pelo jovem Trótski.

"Em 1917, estava tão claro para ele (Lênin) quanto para todos os outros marxistas russos e não russos que simplesmente não existiam na Rússia as condições para uma revolução socialista. Para os revolucionários marxistas na Rússia, sua revolução tinha de espalhar-se em outros lugares" p.65

A SAGACIDADE DE LÊNIN

A Rússia estava madura para a revolução social, pois estava cansada da guerra (1a Guerra Mundial). Isso é bem diferente de estar em condições para a revolução socialista proletária.


Alguns fatos marcantes:

O 8 de março, dia das mulheres, foi marcado por um lock out industrial das russas da Metalúrgica Putilov.
A exigência básica delas: pão.
Após 4 dias, o Czar abdicaria.

"O feito extraordinário de Lênin foi transformar essa incontrolável onda anárquica em poder bolchevique" p.67

Todos os grupos tentavam se estabelecer nas assembleias. Lênin apoiava com a ideia de "todo o poder aos soviets".

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COMENTÁRIO: é impressionante a semelhança de cenário de caos que foi construído na campanha salarial dos bancários em 2004 pelas oposições, que me veio agora à memória. Os grupos tinham objetivos claros e bem diferentes dos objetivos dos sindicatos: estes, de contratar avanços econômicos importantes para os seus representados - a proposta econômica de 2004 ainda é a melhor dos últimos 20 anos; aqueles, instalar a greve pela greve, a fim de ter palco para diversos objetivos como eleições municipais, disputas de máquinas sindicais, angariar novos militantes revolucionários etc (as melhorias para os trabalhadores não são tão relevantes a esses grupos e correntes)

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PÃO, PAZ, TERRA

"A reivindicação básica dos pobres da cidade era pão e a dos operários entre eles, melhores salários e menos horas de trabalho. A reivindicação básica dos 80% de russos que viviam da agricultura era, como sempre, terra" p.68

"Ao contrário da mitologia da Guerra Fria, que via Lênin essencialmente como um organizador de golpes, a única vantagem real com que ele e os bolcheviques contavam era a capacidade de reconhecer o que as massas queriam; de conduzir, por assim dizer, por saber seguir" p.68

A ARTICULAÇÃO SINDICAL E A CUT

É muito interessante essa parte, pois em seminário recente com o companheiro Sérgio Rosa (abril 2009), relembrando a história das correntes sindicais, e da criação da própria CUT nos anos 80, ele apontava como um grande diferencial na época de nossa corrente Articulação o fato de saber o que a maioria queria como encaminhamento, ou seja, a Articulação e a CUT repercutiam os anseios dos trabalhadores, pois estava na BASE e era de MASSA. Até hoje, esse é o nosso diferencial em relação às demais correntes do chamado "Centralismo Democrático".


Bibliografia:

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos - O breve século XX, 1914-1991. Companhia das Letras. Tradução de Marcos Santarrita, 2ª edição, 33ª reimpressão.

Crônica - Reflexões sobre a não-saúde


Desenho de Mário Augusto.

Não há reflexão sobre a condição natural de saúde.
Não se pensa em como é bom ver ouvir falar mijar cagar respirar.
Não se reflete sobre a não-dor.

Só se reflete sobre a dor ardor pontada queimação mal-estar.

É assim mesmo!

Aliás, refletimos por ser humanos.
Os outros bichos, só sentem a não-saúde,
e viram o bicho!

wmofox, 29.3.09
(estava em estado de não-saúde, resfriado)

Comunidades Imaginadas, de B. Anderson



Refeição Cultural

É um livro muito interessante. Aliás, encontro nele algumas explicações mais teóricas e científicas de impressões e afirmações que sempre fiz de forma intuitiva e, na minha opinião, por questões de lógica.

Eu acho que muitas das barreiras naturais contra as revoluções sociais, ou socialistas, ou comunistas, ou proletárias, são devido à própria natureza do ser humano.

(COMENTÁRIO: relendo esta frase tempos depois, fico em dúvida sobre minha afirmação de haver barreiras "naturais". Não seriam barreiras "culturais"?)


Acho que sempre haverá a sobreposição de grupos ou guetos, ou corporações, a impedir uma forma mais universal de organização sem fronteiras ou barreiras: 

"La realidad es evidente: el 'fin de la era del nacionalismo', anunciado durante tanto tiempo, no se encuentra ni remotamente a la vista. En efecto, la nacionalidad es el valor más universalmente legítimo en la vida política de nuestro tiempo." p.19


Em uma de suas reflexões, o autor não concorda ao pé da letra com a afirmação de Tom Nairn que diz: 

"La teoría del nacionalismo representa el gran fracaso histórico del marxismo". p.20


Anderson prefere dizer que: 

"Sería más correcto afirmar que el nacionalismo ha sido una anomalía incómoda para la teoría marxista". p.20


Essa polêmica é devida ao uso do pronome possessivo utilizado no manifesto comunista de Marx e Engels de 1848: 

"El proletariado de cada país debe, por supuesto, arreglar cuentas ante todo con su propia burguesía". p.20


Em relação ao conceito de Nacionalismo, Anderson entende que é melhor tratá-lo como algo semelhante a Religião e Família, do que como conceito semelhante aos termos Liberalismo e Fascismo: 

"Me parece que se facilitarían las cosas si tratáramos el nacionalismo en la misma categoría que el 'parentesco' y la 'religión', no en la del 'liberalismo' o el 'fascismo'(...) Así pues, con un espíritu antropológico propongo la definición siguiente de la nación: una comunidad política imaginada como inherentemente limitada y soberana." p.23


As 3 características principais de uma nação ou nacionalidade:

-“La nación se imagina limitada: ninguna nación se imagina con las dimensiones de la humanidad”

-“Se imagina soberana: las naciones sueñan con ser libres y con serlo directamente en el reinado de Dios. La garantía y el emblema de esta libertad es el Estado soberano”

-“Se imagina como comunidad: la nación se concibe siempre como un compañerismo profundo, horizontal” p.25


Bibliografia:

ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas - Reflexiones sobre el origen y la difusión del nacionalismo. Fondo de Cultura Económica. Quarta reimpresión 2007 de la primera edición en español 1993, fructo de la segunda edición en inglés 1991.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Caminhada


Desenho do filhão, Mário Augusto.


Hoje à tarde fiz uma caminhada de uns 7 Km. Fui de casa à Rodoviária de Osasco; de lá até o SuperShopping de Osasco; de lá até a agência do BB na Vila Yara; de lá até minha casa.

Cheguei meio cansado, pois andar em poluição visual, sonora e fumacenta é bem diferente de andar no parque, em meio ao verde.

Maio de 1968 e outras histórias


1968 - o ano no qual minha mãezinha
me acolhia em si.

Refeição Cultural

Como estou lendo bastante nestes dias de férias curtas, estou também digerindo bastante meu alimento cultural.

Agora à noite, peguei para ler um caderno especial da Folha de São Paulo, o Caderno Mais! de 4 de maio de 2008, que trata do famoso ano de 1968.

Já li a metade do caderno e percebi que eu não sei praticamente nada sobre os eventos ocorridos pelo mundo naquele ano. Sei um pouquinho mais sobre os fatos aqui no Brasil como, por exemplo, o embate da Rua Maria Antônia entre os alunos da USP e do Mackenzie.

Falta-me ler mais para poder falar e escrever com propriedade sobre a Primavera de Praga, sobre os eventos de Paris e mais fatos em vários países "naqueles anos", pois alguns eventos referem-se a anos anteriores e às consequências de 1968, pois repercutiram dali adiante em todos os segmentos da vida social como cultura, sexo, política, economia etc.

Além do caderno da direitista Folha, tenho também bons materiais saídos em 2008 como a Revista Fórum e a Revista do Brasil. Irei lê-los também.

Estou lendo também alguns trechos do livro de B. Anderson sobre as Comunidades Imaginadas, acerca da ideia de Nação e Nacionalismo.

Muito boa a leitura de Hobsbawm para conhecer de fato sobre a história. Hoje li ali a respeito das revoluções oriundas da Revolução de Outubro, nas agitadas décadas de 10 e 20 do século XX.

Cara, eu sei muito pouco em relação às diferenças entre Trotskismo e Leninismo. Além do mais, preciso ler sobre Rosa Luxemburgo.

Quanta lacuna cultural descobrimos à medida em que mais lemos!

William

Lendo Madame Bovary



Refeição Cultural

De ontem pra hoje li 75 páginas. Estou na segunda parte (o livro está dividido em três).

O estilo é bem tradicional em relação ao realismo. Há muita descrição e detalhes. Isto, ao leitor de hoje, é bastante enfadonho e cansativo.

TÉCNICAS NARRATIVAS: SUMÁRIO E CENAS

Os momentos de descrição nos romances são momentos de parada no tempo narrativo, ou seja, pode-se passar páginas e páginas sem que se avance na história em si. Novamente, para o leitor contemporâneo, é muito difícil se ater ao que está lendo. De um parágrafo ao outro, quando vemos, já estamos pensando nas contas a pagar e coisas afins.

É bem verdade que a literatura de romances tem dois esquemas básicos de narração. Em momentos distintos, o escritor trabalha com sumários, ou seja, dá um apanhado geral da cena ou contexto em que o ato acontece - aqui pode-se descrever tanto um instante como um longo período de tempo; e, alternando com esse esquema, trabalha com cenas, onde os fatos narrados estão acontecendo com a participação dos personagens. Normalmente diálogos, ou diálogos intercalados por participação do narrador, que pode ser onisciente ou não.


Algumas observações interessantes:


Na história dos Bovary, o narrador é onisciente. Já sabe de tudo e de todos, do início ao fim; ele é um Demiurgo.

Veja que interessante a descrição do casal Bovary após a primeira noite de núpcias. O narrador já nos dá a dica de quem é quem em relação ao comportamento do par:

"No dia seguinte, em compensação, parecia outro. Ele é que poderia ser tomado pela virgem da véspera, ao passo que a noiva nada deixava a descoberto, por onde se pudesse adivinhar qualquer coisa. Os maliciosos não sabiam o que responder e contemplavam-na com atenção desmesurada quando ela passava junto deles" (cap.3, parte 1)

Ao longo da história, o narrador vai nos mostrando que Ema tem uma natureza arredia para a rotina do "lar doce lar" das famílias tradicionais burguesas do século XIX, onde a mulher é a perfeita governanta da casa e procriadora dos herdeiros.

Interessante observar que o que alimenta a imaginação de Ema são os livros de romances, que a todo momento são citados pelo narrador (livros de Balzac e George Sand) e também aparecem em cenas de diálogos.

Gostei da posição do narrador em relação às críticas que ele faz para a sociedade burguesa da época:

"Tudo o que a rodeava de perto, os campos enfadonhos, os burguesinhos imbecis, a mediocridade da existência, parecia-lhe uma exceção no mundo, um caso particular em que se achava envolvida, ao passo que para além se estendia, a perder de vista, o imenso país da felicidade e das paixões" (cap.9, parte 1)

Uma "desculpa" se constrói para o que Ema fará mais adiante. Ela se incomoda com as características que vão dominando seu marido com o passar dos anos de casados:

" - Que pobre diabo! que pobre diabo! - dizia ela em voz baixa, mordendo os lábios.

Sentia-se, de resto, cada vez mais irritada. A idade ia-o tornando pesadão; à sobremesa divertia-se em cortar as rolhas das garrafas vazias, e, depois de comer, passava a língua pelos dentes; ao engolir a sopa fazia um gorgolejo em cada gole e, como começasse a engordar, os olhos, já por si tão pequenos, pareciam ter subido para as fontes, empurrados pelas bochechas"
(cap.9, parte 1)


E aí, que pensar de um(a) companheiro(a) que pensa assim do outro(a) companheiro(a), heim?

O narrador também tece belas críticas à instituição da igreja (e não da fé), através de um dos personagens:

Fala do farmacêutico Homais:

" - Eu tenho uma religião, a minha religião, e mesmo até mais do que todos eles, com as suas momices e charlatanices. Eu creio em Deus! Creio no Ente Supremo, num Criador, qualquer que seja, pouco importa, que nos pôs neste mundo para desempenharmos os nossos deveres de cidadãos e de pais de família; mas o que não preciso é ir a uma igreja beijar salvas de prata, engordar com a minha algibeira uma súcia de farsantes que vivem muito melhor do que nós! Porque o podemos venerar de qualquer maneira, num bosque, num campo, ou mesmo contemplando a abóbada celeste, como os antigos. O meu Deus é o Deus de Sócrates, de Franklin, de Voltaire e de Béranger! Eu sou pela 'profissão de fé do vigário saboiano' e pelos princípios imortais de 1789! Por isso não admito um Deus que passeie no seu jardim de bengala na mão, aloje os amigos no ventre das baleias, morra soltando um grito e ressuscite ao fim de três dias: coisas absurdas por si mesmas e completamente opostas, além disso, a todas as leis da física; o que nos demonstra, de resto, que os padres têm sempre permanecido numa ignorância torpe, na qual se esforçam por mergulhar as populações" (cap.1, parte 2)

Que fala fantástica desse farmacêutico. Assino embaixo!

Fim

terça-feira, 12 de maio de 2009

Estagflação, segundo Rossetti




Refeição Cultural

Seria "uma mal explicada mistura de estagnação, desemprego e inflação recorrente".

Bibliografia:

ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à economia. 16a Edição de 1994. Ed. Atlas.

A perdição do pobre é a pobreza - Alfred Marshall (1842-1924)


Em busca do saber...

Refeição Cultural

Lendo um pouco sobre economia, num velho livro que tenho em casa, do professor de economia Rossetti, achei este excerto bastante interessante.

Ele fala um pouco sobre o papel dos economistas e a verdadeira missão da ciência econômica, algo como auxiliar os governantes nas decisões que versarão sobre os recursos disponíveis para determinadas prioridades políticas e sociais.

"Não resta dúvida - escreveu Marshall (1842-1924), um dos mais importantes economistas de sua época - que, na religião, nas afeições de família e na amizade, mesmo o pobre pode encontrar razões para muitas das faculdades que são a fonte da mais alta felicidade. Entretanto, as condições que envolvem a extrema pobreza, especialmente em lugares densamente povoados, tendem a amortecer as faculdades superiores. Contentando-se com suas afeições para com Deus e o homem e, às vezes, mesmo possuindo certa natural delicadeza de sentimentos, os pobres podem levar uma vida menos incompleta do que a de muitos que dispõem de maior riqueza material. Mas, apesar de tudo isso, sua pobreza lhes é um grande e quase insolúvel mal. Mesmo quando estão bem sofrem do esgotamento e seus prazeres são poucos. Com excesso de trabalho e insuficiência de instrução, cansados e deprimidos, sem tranquilidade e sem lazer, não têm oportunidade para aproveitar o melhor de suas faculdades mentais. Conquanto alguns dos males que comumente vêm com a pobreza não sejam consequências necessárias desta, de uma forma geral, a perdição do pobre é a pobreza, e o estudo das causas da pobreza é o estudo das causas da degradação de uma grande parte do gênero humano."

Outra citação importante, de Nilson Holanda é a seguinte:

"Nos países subdesenvolvidos o estudo das Ciências Econômicas, antes de se constituir em simples preocupação acadêmica, tem por objetivo precípuo desenvolver instrumentos de análise que facilitem a identificação dos problemas básicos da comunidade e possibilitem o uso mais racional dos escassos recursos disponíveis, com vistas a acelerar o processo de desenvolvimento."

No Brasil, um dos maiores mestres da área econômica e política e ícone em relação ao pensar o desenvolvimento econômico para melhorar a situação do povo brasileiro foi o professor Celso Furtado.

Um conceito que precisamos explicitar para os leitores mais progressistas e estudiosos da economia é que, em termos de justiça social, nada vale focar o desenvolvimento sem associá-lo à distribuição equânime, para o povo, de seu resultado econômico efetivo.


Bibliografia:

ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à economia. 16a Edição de 1994. Ed. Atlas.

Caminhada


Desenho de Mário Augusto.


Após uma tarde de leituras diversas, fiz uma caminhada de cerca de 6 Km pra relaxar.


Madame Bovary - Gustave Flaubert, de 1857



Refeição Cultural

Cara! De minhas lacunas culturais, uma das que mais me incomodam como aluno de Letras e leitor de alguns livros antológicos em termos de literatura mundial é o clássico de Flaubert.

Eu já li Ulisses, de James Joyce; Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski; Os Lusíadas, de Camões; etc e tal, e nunca li Madame Bovary.

É engraçado, pois a gente já sabe o enredo desde sempre e, mesmo assim, é muito ruim eu nunca ter lido o bendito livro.

Pois é! Peguei o bicho agora pela manhã. Vamos ver se preencho esta lacuna cultural.

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Post Scriptum (7/03/16):

Não preenchi a lacuna cultural. Não li o livro.

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Post Scriptum II (27/12/23):

E então veio a pandemia mundial de Covid-19 e Madame Bovary foi um dos clássicos que li durante o isolamento em casa. Comentário sobre a leitura aqui.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

La Celestina - Literatura Española Medieval (X)




LA CELESTINA

El acto onceno

Argumento del onceno acto:

Despedida Celestina de Melibea, va por la calle sola hablando. Ve a Sempronio y a Parmeno que van a la Magdalena por su señor. Sempronio habla con Calixto. Sobreviene Celestina. Van a casa de Calixto. Declárale Celestina su mensaje y negocio recaudado con Melibea. Mientras ellos en estas razones están, Parmeno y Sempronio entre sí hablan. Despídese Celestina de Calixto, va para su casa, llama a la puerta. Elicia le viene a abrir. Cenan y vanse a dormir.

Encontrei mais um dito popular antiquíssimo:

"Sempronio - Oírte ha nuestro amo; tendremos en él que amansar y en ti que sanar, según estás hinchando de tu mucho murmurar. Por mi amor, hermano, que oigas y calles, que por eso te dió Dios dos oídos y una lengua sola" p.96

Muito interessante esta máxima:

"Elicia - ¿Cómo vienes tan tarde? No lo debes hacer, que eres vieja; tropezarás donde caigas y mueras.
Celestina - No temo eso, que de día me aviso por donde venga de noche. [Que jamás me subo por poyo ni calzada, sino por medio de la calle. Porque, como dicen: no da paso seguro quien corre por el muro, y que aquél va más sano que anda por llano. Más quiero ensuciar mis zapatos con el lodo que ensangrentar las tocas y los cantos. Pero]..." p.98


Post Scriptum: o texto seguinte pode ser lido aqui. O anterior, aqui.


BIBLIOGRAFÍA:

ROJAS, Fernando de. La Celestina – tragicomedia de Calixto y Melibea. Colección Austral n. 195. Undécima Edición, 1971. Espasa-Calpe, S.A. Madri.

La Celestina - Literatura Española Medieval (IX)




LA CELESTINA

El acto décimo

Argumento del décimo acto:

Mientras andan Celestina y Lucrecia por el camino, está hablando Melibea consigo misma. Llegan a la puerta. Entra Lucrecia primero. Hace entrar a Celestina. Melibea, después de muchas razones, descubre a Celestina arder de amor de Calixto. Ven venir a Alisa, madre de Melibea. Despídense de en uno. Pregunta Alisa a Melibea de los negocios de Celestina, defendiéndole su mucha conversación.

Neste capítulo, gostei de duas passagens de sabidurías de Dios:

"Celestina - Sufre, señora, con paciencia, que es el primer punto y principal. No se quiebre; si no, todo nuestro trabajo es perdido. Tu llaga es grande, tiene necesidad de áspera cura. Y lo duro con duro se ablanda más eficazmente. Y dicen los sabios que la cura del lastimero médico deja mayor señal y que nunca peligro sin peligro se vence. Ten paciencia, que pocas veces lo molesto sin molestia se cura. Y un clavo con otro se expele y un dolor con otro. No concibas odio ni desamor, ni consientas a tu lengua decir mal persona tan virtuosa como Calixto, que si conocido fuese...
Melibea - Melibea - ¡Oh, por Dios, que me matas!" p.92

e

"Celestina - Amor dulce.
Melibea - Eso me declara qué es, que en sólo oírlo me alegro.
Celestina - Es un fuego escondido, una agradable llaga, un sabroso veneno, una dulce amargura, una delectable dolencia, un alegre tormento, una dulce y fiera herida, una blanda muerte" p.93


Post Scriptum: o texto seguinte pode ser lido aqui. O anterior, aqui.


BIBLIOGRAFÍA:

ROJAS, Fernando de. La Celestina – tragicomedia de Calixto y Melibea. Colección Austral n. 195. Undécima Edición, 1971. Espasa-Calpe, S.A. Madri.