sábado, 15 de janeiro de 2022

43. As três irmãs / Contos - Anton Tchekhov



Refeição Cultural - Cem clássicos

Finalizei a leitura do livro de Anton Tchekhov (1860-1904) que tenho em casa. Considero que o escritor russo é um autor clássico e com isso contabilizo a leitura do livro dentro de minhas leituras de clássicos da literatura mundial. Foi o 2º livro do ano.

Entre leitura atual e leituras anteriores, praticamente li o livro duas vezes. A primeira leitura do drama As três irmãs (1901) foi em novembro de 2006. Eu era estudante de Letras na USP. Refiz a leitura nesta semana. 

AS TRÊS IRMÃS

Achei a postura daquelas personagens da família Prosorov uma boa alegoria de parte do povo brasileiro situado nas chamadas classes médias, um povo sem ação, crédulo em soluções miraculosas para problemas reais, uma gente que espera que as coisas aconteçam independente de ações pessoais e que as mudanças esperadas lhe caiam do céu. Fiz uma postagem dias atrás na qual falo um pouco sobre o drama (ler aqui).

Os contos são muito bons apesar de ter achado alguns longos demais e cansativos para o leitor. Mas a qualidade de Tchekhov na forma de narrar é inegável.

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O BEIJO

O conto "O beijo" é muito interessante! É um conto de 1887. Um batalhão do exército acampa próximo a um daqueles casarões da fidalguia russa durante exercícios militares e alguns líderes são convidados a tomar chá no casarão.

Tchekhov trabalha a hipocrisia e os jogos de cenas e aparências da burguesia russa. Ao mesmo tempo mostra o povão levando a vida, no caso deste conto os soldados, que sonham com prazeres e com uma vida melhor alcançando a posição daqueles sujeitos da burguesia. 

Ler aqui comentário que fiz da leitura anterior.

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KASCHTANKA (RELATO)

Uma graça esse conto cuja personagem principal é uma cadelinha com cara de raposinha. Adorei a narrativa. O conto de 1887 tem momentos dramáticos e momentos leves. 

A personagem principal se perde de seu dono e leva uma vida em outro ambiente, onde vai viver aventuras estranhas em sua vida de cachorra.

Para leitura de comentário que fiz sobre o conto, ler aqui.

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VIÉROTCHKA

Esse conto de 1887 traz uma história de amor não correspondido. Para ler o comentário que fiz na leitura anterior, clique aqui.

Em quase todas as narrativas, Tchekhov descreve cenas ou ações de leitores e leitoras e leituras. No drama As três irmãs, o escritor faz críticas severas aos autores russos de seu tempo, depõe contra as obras deles.

Neste conto vemos a descrição de uma personagem leitora. Tchekhov é duro com a personagem.

"Diante de Ogniov, estava a filha de Kuznietzov, Viera, moça de vinte e um anos, geralmente triste, descuidada no trajar e interessante. As moças que devaneiam muito e passam dias inteiros deitadas, lendo tudo o que lhes vêm às mãos, que se enfadam e entristecem, vestem-se geralmente com desleixo..." (p. 151)

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UMA CRISE

Neste conto de 1888, um jovem sai com outros dois amigos e vão para a zona do meretrício, o bordel. A noitada leva o rapaz a ter sentimentos de culpa e o desejo de salvar todas as mulheres naquela condição de prostituição. A partir daí vemos tudo o que acontece na narrativa. O ponto de vista do narrador aborda questões religiosas e posturas bem machistas, condizentes com a época.

"'Como tudo é pobre e estúpido!', pensou Vassíliev. 'Em toda esta miuçalha que vejo agora, o que pode tentar um homem normal, incitá-lo a cometer o terrível pecado de comprar por um rublo uma pessoa viva? Eu compreendo qualquer pecado cometido por causa de brilho, beleza, graça, paixão, gosto, mas o que existe aqui? Em prol do que se cometeu aqui pecados? Aliás... não se deve pensar!'" (p. 165)

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UMA HISTÓRIA ENFADONHA DAS MEMÓRIAS DE UM HOMEM IDOSO

Outra narrativa grande, cinquenta páginas. Boa estória. O enredo lembra um pouco o clássico de Tolstói, A morte de Ivan Ilitch (1886). A narrativa de Tchekhov é de 1889. Ler comentários sobre o conto aqui.

O personagem é um professor, um homem de ciências, e a narrativa tem bons momentos filosóficos. Bem atual para os tempos de negacionismo que vivemos no século XXI. O enredo mostra também as hipocrisias das classes médias e burguesas e o mundo das aparências. A família deve 5 meses de salários ao funcionário da casa e manda rios de dinheiro para complementar renda do filho que está no exterior. A família está quebrada, mas a filha faz aulas de piano etc.

Teria muitas citações interessantes pra fazer, mas daria muito trabalho para concluir a postagem.

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ENFERMARIA Nº 6

Ao ler "Enfermaria nº 6", de Tchekhov, é inevitável a lembrança da complexa questão dos manicômios e casas de repouso para pessoas indesejáveis nas famílias e nas sociedades humanas. O conto é de 1892. Para ler comentários sobre o conto clicar aqui.

Um pouco antes, em 1881, o nosso Mestre do Cosme Velho, Machado de Assis, publicava no Brasil o conto O alienista, nos contando sobre os residentes ou pacientes da Casa Verde, governada pelo doutor Simão Bacamarte. 

O tom irônico no estilo de Machado não tem relação com a narrativa dramática de Tchekhov sobre os residentes do pavilhão nos fundos do hospital local deste conto, mas o tema tem semelhanças. 

Como lidar com doentes, com pessoas que não se enquadram nos padrões determinados pelos pensamentos hegemônicos nos meios sociais existentes? Quem é louco e quem não é? Quem define quem é louco?

Outra boa referência sobre essas casas de reclusão é o filme brasileiro Bicho de Sete Cabeças (2000), filme estrelado por Rodrigo Santoro e dirigido por Laís Bodanzky. O tema é duro, duríssimo!

O final do conto, uma novela eu diria, é surpreendente!

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Enfim, lidos 7 textos de Tchekhov! Vamos ver quantos autores vou ler neste ano que começa. Alguns autores e autoras serão leituras de primeira vez.

William


Bibliografia:

TCHEKHOV, Anton. As três irmãs e contos. Coleção Imortais da Literatura Universal. Nova Cultural, 1995.

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