sábado, 12 de setembro de 2015

Opinião: É tempo de decisões, ações e firmeza nos compromissos de classe





Refeição Cultural

Chego aos finais de semana tão esgotado que preciso de recolhimento total para recompor meu corpo e mente para a nova semana que virá no front de batalha. É isso sim, a vida, a nossa vida, é um eterno front de batalhas. Há que se ter vigor e compromisso para seguir todos os dias até o fim de nossos dias.

A época que vivemos, em que sou apenas um ator social a mais na turba, na urbe, é uma época de aparente transição. Aparente porque toda época é de transição de algo que está dado para algo que virá. E cada ator social tem um papel a desempenhar, principalmente os que se põem em posições de representação dos trabalhadores no enfrentamento ao status quo dos capitalistas, donos do mundo. 

Nesse Tabuleiro de War, meu papel está muito bem delimitado. Sou gestor eleito pelos trabalhadores em entidade de saúde. Juro a vocês que o meu front de batalha conseguiu ser mais intenso que o que vivi como dirigente sindical por mais de uma década. 

São diversos problemas e adversários contra nossos projetos em benefício de uma Caixa de Assistência de autogestão, focada em saúde e não em lucro e, no entanto, para todo o sistema capitalista em que vivemos, onde saúde é negócio, a nossa entidade não existir seria o melhor para os capitalistas, e o pior para os associados da Cassi - e parte desses sócios beneficiários não têm a mínima noção disso.


História na luta de classes é repleta de exemplos sobre os efeitos para a classe trabalhadora de rupturas de projetos populares e reorganização das máquinas capitalistas 

Houve uma época de transição antes da 1ª Guerra Mundial e então veio o caos e a tragédia humana: o caos e a mortandade durou de 1914 até 1945. Houve uma época de transição antes do golpe civil-militar no Brasil em 1964; foi a mesma época dos seguidos golpes nas Américas do Sul e Central, derrubando governos democráticos e instalando ditaduras sanguinárias em benefícios de certas famílias e donos do mundo daquela época: a mortandade da classe trabalhadora durou dos anos 50 até meados dos anos 80 nas Américas.

Neste momento, estamos em aparente transição do período de certa paz institucional, ou seja, dentro de regras mínimas da chamada democracia burguesa, para novas rupturas e golpes civis e militares, planejados e financiados pelos mesmos grupos empresariais e políticos de sempre: os donos do poder econômico e do mundo. 

Houve, a partir do final dos anos 90, um certo esgotamento e descrença das massas ao serem sacaneadas, exploradas e arrasadas pelos donos do mundo. Isso fez com que os povos latino-americanos passassem a votar nos partidos e líderes populares como Hugo Chaves, Lula da Silva, Mujica, Rafael Correa, Evo Morales, os Kirchner, Fernando Lugo, Dilma Rousseff e Michelle Bachelet até mais recentemente reelegendo Dilma e Bachelet, dentre outros projetos menos identificados com o capital e ordens imperialistas. Todos eles mais voltados para a soberania nacional e contrários a tornar seus países quintais dos impérios Norte-Americano e europeus.

Com o início da nova crise capitalista no império americano, com a quebra do Lehman Brother e o novo crash a partir de 2008, na chamada crise dos subprimes, entramos na fase atual de disputa de hegemonia no mundo. Os Estados Unidos tiveram participação na destruição de vários países árabes, com o único objetivo de instalar suas corporações no controle dos poços de petróleo do Oriente Médio. Tudo em nome da "democracia" e "libertação dos povos". O papel americano ajudou a transformar países e nações milenares em terras de caos e guerras civis.

Nesta disputa de hegemonia, tudo indica que o foco agora são os governos democráticos e populares, identificados com os povos trabalhadores e originários da América do Sul. Os americanos querem os poços de petróleo da Venezuela e do Brasil. A desculpa para manipular as massas vem através dos meios de comunicação das famílias burguesas locais - burgueses lacaios e vira-latas históricos do imperialismo. É a velha e antiga lógica de derrubar governos populares por "corrupção" e "democracia em risco". É nojento, é antigo, funciona há séculos para destruir projetos de libertação e soberania nacional nas ex-colonias desses mesmos impérios, mas funciona que é uma beleza. Afinal, quando foi que se ensinou educação política nas grades escolares?


O papel dos partidos de esquerda, sindicatos de trabalhadores e movimentos populares

Nesse histórico acima, o papel obrigatório dos partidos de esquerda e sindicatos de trabalhadores é organizar as massas e fazer formação política para os momentos decisivos no embate entre capital e trabalho, nas disputas de projetos entre classe trabalhadora e donos do mundo.

Neste exato momento, compete aos partidos de esquerda, aos sindicatos e, sobretudo, à presidência da república, eleita em disputa acirradíssima em outubro de 2014, se posicionarem em defesa do projeto que o povo elegeu.

A presidenta Dilma Rousseff e seus assessores políticos - aqueles que estiverem comprometidos com o projeto original eleito -, precisam efetivamente mudar a postura conciliatória com a oposição partidária e lacaios do capital nacional e internacional porque ela se mostrou ineficaz. Esses grupos de interesse não querem conciliar, querem derrubar o governo e acabar com as conquistas e avanços que nosso lado da classe trabalhadora obteve nos últimos 13 anos. 

Nosso lado, que elegeu Dilma Rousseff com 51,64% dos votos válidos (54,5 milhões), está de saco cheio de ser vilipendiado pelos arranjos políticos frustrados entre o governo e as oposições, acordos de conciliação tentados legitimamente pelo governo pela tal governabilidade. Ela não veio. 

Presidenta Dilma, antes de interromperem o seu governo de forma "institucional" pelas regras do legislativo e ou por novas invenções nas instituições da democracia burguesa, dê-nos um sinal de escolha de lado e vamos para o enfrentamento popular com mobilizações e nas formas pacíficas previstas contra essas organizações que ganham corpo e incentivam o caos e as formas mais vis de intolerância e fascismo. É sua tarefa, presidenta, escolher um lado, o que a elegeu, e tentar reorganizar o enfrentamento ao golpe.

Os sindicatos e movimentos populares devem sair do marasmo e cobrar da presidenta Dilma a posição de sair para o enfrentamento. Porque neste momento, não há sequer clima e foco em organizar a resistência ao golpe em andamento. Os sindicatos e movimentos deveriam estar nas bases falando sobre isso. Mas aí está o problema: como está a representatividade e o diálogo com os trabalhadores? Com quantas pessoas cada um dos milhares de dirigentes sindicais conversam olho no olho durante a semana? Rede social e internet não servem de forma efetiva e eficaz para formação política classista. Não servem!


Sigo oferecendo minha vida e energia à tarefa para a qual fui eleito

Eu me angustio com o cenário político que observo em meu país e no mundo. Nosso lado da classe trabalhadora está perdido e não consegue sequer organizar os trabalhadores para o embate mais difícil que teremos desde que saímos aqui nas Américas do Sul e Central daqueles anos terríveis das ditaduras entre os anos 50 e 80.

Minha contribuição na formação política dos trabalhadores que represento tem sido e seguirá sendo, desde junho de 2014, cortar o país a qualquer custo para falar olho no olho com as pessoas que tiverem interesse em nos ouvir a respeito do que estamos responsáveis: a gestão da Caixa de Assistência. Meu foco não poderia ser outro que fazer o debate político, ideológico e técnico no campo da saúde, na gestão da saúde sob a ótica do interesse dos trabalhadores, numa disputa de modelo e de interesses em um setor de bilhões de reais. E podem acreditar, esses interesses não são os dos trabalhadores.

É nisso que estou pondo todas as minhas energias, minha vida. Não sobra tempo algum para outro front de batalha. Esse que estou é do tamanho do mundo também. Acreditem!

É por isso que quando termina a semana estou tão esgotado, é porque fiz o possível durante as horas existentes dos dias para ser técnico, para ser político, e para não perder a minha característica desde que iniciei na representação dos trabalhadores: ir às bases que represento e falar olho no olho com as pessoas. 

Eu acredito que nos debates, nos argumentos é possível mudar a opinião das pessoas, mostrar outro ponto de vista e agregar mais trabalhadores em nossa luta diária contra um sistema que escraviza os seres humanos: o sistema capitalista.

William Mendes
Diretor de Saúde e Rede de Atendimento da Cassi

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