domingo, 2 de dezembro de 2018

Leitura: Otelo, de Shakespeare - Entendam o poder da manipulação!




"- Continua agindo, minha medicação, continua agindo! Assim mesmo é que os tolos crédulos são apanhados."

(Do personagem Iago: "medicação" seria o ato de manipular e envenenar as pessoas com suas tramas e maledicências, em Otelo, o mouro de Veneza, de Shakespeare)


Acordei neste domingo pela manhã com o desejo de ler algo de fôlego, um romance ou algum conto. Após flertar com alguns livros e textos para escolher qual seria o autor e o tema a dedicar meu tempo e minha energia, escolhi o inglês William Shakespeare.

Amig@s leitores, que escolha perfeita para o momento que vivemos no Brasil e no mundo ao reler o clássico Otelo, o mouro de Veneza, escrito há mais de 4 séculos.

Às vezes nos pegamos sem rumo, sem eira nem beira, sem entender o porquê das coisas na sociedade humana serem como são. Muitas pessoas com algum grau de consciência política e engajamento social se sentem perplexas com o atual quadro de degeneração política e ética que vivemos no Brasil, não é verdade?

Então, abram esta tragédia de Shakespeare e leiam ela! Vocês vão entender por que estamos onde estamos. É por causa de nós mesmos, os humanos e seus comportamentos.

Sei que não posso mais me alongar nos artigos (os leitores não leem se for "grande"), mas só para dar um pequeno histórico de minha relação com esta tragédia de Shakespeare, vejam como nos conhecemos:

Em 2005, eu estava lendo a fantástica obra de Dostoiévski - Os irmãos Karamázov - quando no meio da história me aparece a referência ao "ciúme de Otelo".

Amig@s, fiquei pê da vida de não saber o que era o ciúme de Otelo. Eu fechei o livro, fui até a estante e peguei Shakespeare na hora e comecei a ler Otelo. Terminada a leitura, eu sabia sobre o "ciúme de Otelo" e voltei para Dostoiévski.

Em dezembro de 2011, li novamente esta tragédia de Shakespeare. Não me lembro de nenhum despertar excepcional na segunda leitura.

A leitura de clássicos da literatura mundial tem um quê de revelação, de descoberta, que nos faz absorver novos conhecimentos e novas sensações a cada releitura. Isso tem explicações: o leitor é outro a cada releitura, o contexto é outro, o momento tem influência e assim por diante.

Na leitura de hoje, fiquei exaltado, fiquei nervoso, fiquei compreendendo com raiva boa parte dos acontecimentos em relação à manipulação das pessoas ao nosso redor. Gente, o ser humano é o animal da manipulação consciente das pessoas ao seu redor. Tive também outro entendimento sobre o "ciúme de Otelo", pois o que o move a fazer o que faz é outro sentimento humano, não o ciúme.

Minha compreensão da história foi outra, a minha atenção não ficou em Otelo, não ficou em Desdêmona, mas ficou em Iago. Eu fiquei vendo as fake news, os algoritmos das redes sociais, vi meus familiares que não são fascistas, como dizem os estudiosos, mas que foram envenenados por mentiras e manipulações e ninguém consegue fazê-los sair desse ódio engendrado em suas vidas atuais, de forma que as pessoas não conseguem mais ver com racionalidade a realidade.

Não há animais na natureza que atuam com tanta desenvoltura como os humanos para destruir as vidas dos outros animais, que enganam, manipulam, que constroem ardis em benefício próprio prejudicando uma variedade de vidas ao redor.

Chega, né? Já escrevi muito. A terceira leitura de Otelo foi uma janela de reflexão para minha própria compreensão dos homens e mulheres ao nosso redor nos tempos que correm.

Lembrei-me de uma fala de Fidel Castro que me marcou muito quando li faz uns oito anos. Ele comentava sobre momentos no cárcere em que a leitura era essencial em sua vida para que ele compreendesse melhor o mundo, a vida e os seres humanos. Tenho lido coisa parecida sobre o filósofo Sócrates.

A gente deve voltar a ler todos os dias para evoluirmos como seres humanos e assim, quem sabe, podermos ajudar o mundo a ser um lugar melhor para todos.

Abraços, William

2 comentários:

Unknown disse...

Caro amigo,
Comungo deste seu sentimento. Fico às vezes perplexo ao ouvir pessoas dizendo coisas de que não tem a menor noção. Parece que nunca leram um livro. E sem ler, não há como fugir do Ministério da Verdade. Vou aproveitar e reler “Otelo”.
Grande Abraço

William Mendes disse...

Olá meu caro Aparecido Pereira, como vai?

Que legal que você vá reler Otelo, é impressionante o quanto muda a nossa visão de uma leitura para outra.

Não vamos desistir de estimular as pessoas a lerem livros e textos mais complexos.

Um fraterno abraço!

William