domingo, 3 de fevereiro de 2013

"O diabo, na rua, no meio do redemunho..." - Grande Sertão: Veredas


Redemoinho. Foto: Wikipedia. Autor: Jeff T. Alu

"Diadorim levantou o braço, bateu mão. Eu ia estugar, esporeei, queria um meio-galope, para logo alcançar os dois. Mas, aí, meu cavalo f'losofou: refugou baixo e refugou alto, se puxando para a beira da mão esquerda da estrada, por pouco não deu comigo no chão. E o que era que estava assombrando o animal, era uma folha seca esvoaçada, que sobre se viu quase nos olhos e nas orêlhas dele. Do vento. Do vento que  vinha, rodopiado. Redemoinho: o senhor sabe - a briga de ventos. O quando um esbarra com o outro, e se enrolam, o dôido espetáculo. A poeira subia, a dar que dava escuro, no alto, o ponto às voltas, folharada, e ramarêdo quebrado, no estalar de pios assovios, se torcendo turvo, esgarabulhando. Senti meu cavalo como meu corpo. Aquilo passou, embora, o ró-ró. A gente dava graças a Deus. Mas Diadorim e o Caçanje se estavam lá adiante, por me esperar chegar. - "Redemunho!" - o Caçanje falou, esconjurando. - "Vento que enviesa, que vinga da banda do mar..." - Diadorim disse. Mas o Caçanje não entendia que fosse: redemunho era d'Ele - do diabo. O demônio se vertia ali, dentro viajava. Estive dando risada. O demo! Digo ao senhor. Na hora, não ri? Pensei. O que pensei: o diabo, na rua, no meio do redemunho... Acho o mais terrível da minha vida, ditado nessas palavras, que o senhor não deve nunca de renovar. Mas, me escute. A gente vamos chegar lá. E até o Caçanje e o Diadorim se riram também. Aí, tocamos." (p.262)


O PODER DOS MITOS

Essa ideia do "algo" dentro do redemoinho é impressionante. Não sei como está isso nas grandes cidades, mas creio que até hoje no interior essa crença mexe com as pessoas.

Eu cresci cismado de nunca estar na frente de um redemoinho e deixar me envolver por ele.

Quando não é o saci-pererê é o demo...

Aff...



Bibliografia:
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Editora Nova Fronteira. 19ª edição.

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