terça-feira, 20 de novembro de 2012

Rocky, um lutador - 1976



Capa do dvd comemorativo.

Refeição Cultural

Por que será que cheguei nesta segunda-feira e coloquei o filme Rocky mais uma vez?

Dane-se quem sou atualmente (como diz o texto "O nome" de Rubem Alves). Sou alguém que tem uma história de vida. Um passado e um presente. Mas quem sabe se eu não gostaria de me libertar do quadrado onde estão as instruções e comportamentos que carregam o meu nome?

Já vi esse filme trocentas vezes. É claro, vejo repetidas vezes porque ele me remete a um tempo: ao meu passado.

O filme é a típica história norte-americana, daquela que o politicamente correto cidadão que sou hoje não gosta, sobre o cara que encarna a ideia americana de "faça você mesmo e vença sozinho na terra da oportunidade". Bahh! Minha vida miserável nos anos oitenta foi assim como a de outros milhões de cidadãos brasileiros.

Mas o filme é humano. Conta a história de personagens comuns, desses que têm em qualquer lugar do mundo.

Vejo esse filme ou outros do gênero dos anos oitenta toda vez que estou mal. Toda vez que estou triste, desanimado, pusilânime. Sempre que estou para desistir de lutar.

Quando eu tinha uns doze ou treze anos, vi esse filme pela primeira vez. Já trabalhava no pesado. Vivia numa casa barracão de placas de muros. Andava no meio das gangues do bairro onde morava lá em Uberlândia. A sobrevivência era dura.

Fico tentando me ver com essa idade e não consigo me lembrar. É difícil. Nem foto tenho de minha adolescência. Mas é verdade! Eu tomava ovos crus quebrados no copo como faz Rocky no filme. Corria pelas ruas. Tentava me fazer de durão. Eu trabalhava em construções já na adolescência. Lutava diariamente para suportar dor física e moral. Eu sobrevivia porque tinha muito ódio do mundo. Isso me movia.

Alguns momentos no filme ainda hoje são substanciais e se encaixam em minha vida. Por exemplo, quando vejo a cena do Rocky dando um sermão na pequena Mary e depois ela o ofende, ele cai na real e se pergunta que moral tem ele para dar conselhos a alguém. É perfeito para mim: quem sou eu para dar conselhos para alguém com a vida pessoal toda torta e infeliz que tenho?

A vida no nosso país e no mundo é bem diferente dos anos oitenta (óbvio!). Hoje é proibido trabalhar antes dos 16 anos e há uma pequena melhora na distribuição de renda no Brasil que incluiu umas dezenas de milhões de pessoas no consumo de mercadorias do capitalismo. Isso significa que milhões de jovens como meu filho podem se dar ao luxo de só ficarem em casa e estudarem e jogarem videogame. Hoje são adolescentes até os trinta anos. Mesmo assim, grande parte dos jovens é revoltada, eles são infelizes, não querem saber de estudar, são ingratos e odeiam os pais e o mundo...

Vai entender... (talvez seja o efeito de crescer na liberdade plena e com menos miséria que nas décadas anteriores)

Apesar de passar dos quarenta anos, estou precisando achar aquela coisa que me moveu durante boa parte da existência. Tem muita coisa me deixando infeliz na vida pessoal e na vida profissional (militância sindical), mas eu estou vivo e sendo assim tenho que aguentar todos os rounds da luta da vida. Sem cair até o final.

Que seja assim!

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