sexta-feira, 14 de junho de 2013

As neves do Kilimanjaro (2011) – direção de Robert Guédiguian


Poster do filme

Este filme francês aborda uma temática extremamente importante para a reflexão social em tempos de nova crise do capitalismo e dos valores da esquerda: a solidariedade, o amor e o perdão em contraposição à coisificação humana no atual sistema capitalista global.

Guédiguian conseguiu dar uma hábil leveza a temas de difícil trato como o desemprego, a violência urbana, a traição, o conflito geracional e as contradições internas na prática da esquerda.

Os atores e atrizes interpretaram de forma esplêndida as personagens. Nota dez.

O filme é baseado no poema de Victor Hugo (1802-1885) "Les pauvres gens" (Os pobres).



Atenção: o texto abaixo revela partes do filme

CENAS QUE ME LEVARAM À REFLEXÃO

Alguns filmes me tocam profundamente. Em geral, são aqueles nos quais me pego refletindo a partir da cena, do diálogo, do olhar das personagens, da fotografia, enfim, instantes que me põem a cismar sobre algo que traga lembranças, dores, instigações, semelhanças ou prevenções ou previsões...


A ATENÇÃO DO OLHAR FILIAL NA DECLARAÇÃO DE AMOR 

- o olhar de Flo (Anaïs Demoustier), a filha do casal, ao ouvir na festa de aniversário de casamento dos pais, a declaração de amor de Michel à Marie-Claire. É de uma profundidade ímpar o olhar e a declaração que nos deixa sem palavras...


A RAIVA SOBRE O PERDÃO À VIOLÊNCIA E TRAIÇÃO 

- a discussão de Michel (Jean-Pierre Darroussin) com seu cunhado Raoul ((Gérard Meylan), quando Raoul descobre que Michel e sua esposa perdoaram o jovem assaltante Christophe (Grégoire Leprince-Ringue) e se sensibilizaram com a situação dele como irmão mais velho desempregado que cria dois irmãos pequenos, me fez lembrar meu sentimento após a última vez em que fui assaltado. Tive muito ódio e vontade de trucidar aqueles assaltantes de pobres e trabalhadores na passarela de trem da CPTM aqui perto de casa. Como pode gente miserável assaltar seus pares, a classe trabalhadora?


A REAÇÃO DO SINDICALISTA HONESTO AO INSULTO VULGAR 

- o diálogo entre Michel e Christophe: a insinuação do jovem assaltante preso de que o sindicalista receberia propina da empresa portuária, motivo pelo qual ele aceitaria acordos rebaixados. Quantas vezes eu já não ouvi isso de pessoas que represento e até de algumas pessoas do círculo de conhecidos?


A REFLEXÃO DE ABURGUESAMENTO DO SINDICALISTA

- o questionamento de Michel a si mesmo e à sua mulher sobre a contradição de viverem nas mesmas condições sociais da burguesia ou dos pequeno-burgueses que tanto combateram ideologicamente. Eu olho ao meu redor e vejo tantas situações anacrônicas em relação ao movimento sindical que me incomodam tremendamente desde que fui eleito sindicalista...




COMENTÁRIOS FINAIS

O filme é muito humano. Vale a pena assistir.

A trilha sonora com a música de Joe Cocker “Many rivers to cross” é perfeita para o filme.

Nenhum comentário: