domingo, 2 de março de 2014

Revigorando nestes dias minha energia pra lutar pelos trabalhadores






Estou digerindo a bile, o gosto amargo do fel. A dor da traição!

Estou lidando com uma dor que me mata e alimenta...

Me mata porque não sentia isso desde que era jovem.

Eu cresci com ódio do sistema, da exploração e da injustiça.

Eu suportei minha infância, minha adolescência, a pobreza.

Vivi em barraco de placas, em meio a baratas, capinei pros outros e quebrei concreto.

Descarreguei caminhões com 15, 20 mil quilos de caixas.

Quebrei esgoto usado como ajudante de encanador.

Furei latas de palmito podre quando trabalhei em depósito. Ninguém tem ideia do cheiro daquilo.

Aprendi a sentir dor e resistir. Aprendi a fazer bem feito aquilo que me comprometia, mesmo no serviço braçal... aprendi a estudar, e ler, e lutar pra ser alguém na vida.

Com toda a vida dura que tive como milhões de proletários no mundo,
nunca aprendi a ser mau e fazer o mal a ninguém. Minha mãe e meu pai não me perdoariam por isso. Isso não!

Com esforço e com retidão, trabalhei e estudei (como os filhos de proletários, não sou especial, sou só mais um trabalhador).

Fiz faculdade paga em Osasco (FITO). Trabalhei no Unibanco. Entrei no Banco do Brasil. Ali estou há 21 anos tentando levar minha vida de forma correta e sem prejudicar ninguém (mas quero derrotar os capitalistas e seus lacaios).

Um dia, fui convidado a participar de uma chapa de sindicato de bancários. Depois de relutar tanto, aceitei. Virei dirigente dos bancários de São Paulo, Osasco e região.

Minha vida mudou completamente. Eu mudei radicalmente. Fui conhecer os princípios da esquerda. Descobri que homens e mulheres, de forma coletiva, se reuniam de maneira mais orgânica em local específico – a casa do trabalhador – e passei a reaprender a vida social (mas não perdi uma vírgula dos meus princípios de não prejudicar ninguém).

O tempo passou rápido (e lentamente, porque tem dor e tristezas) nos últimos doze anos de direção sindical. Me peguei assumindo o período de transição geracional de lideranças dos anos oitenta para a minha geração dos anos dois mil, pois aqueles foram assumir outras missões para a classe trabalhadora nos governos de Lula e Dilma, e nós que estávamos chegando tivemos que seguir sendo vanguarda e buscando novos rumos ao movimento sindical bancário. 

Assim participei da construção da Campanha Unificada, da vitoriosa construção da luta por aumento real, da criação de nossa querida Contraf-CUT (estou desde o início lá).

Eu fiz parte disso, dessa escola. Fui aluno e fui liderança também. Ninguém vai apagar isso. Foram 12 anos de assembleias de massa. Foram 12 anos de sindicalização. Fiz muito trabalho de base nesses 12 anos. Centenas de reuniões em locais de trabalho. Foram 12 anos escrevendo para o movimento sindical, fazendo teses para a Articulação Sindical, fazendo as revistas O Espelho. Doze anos negociando com os gestores em nome dos trabalhadores.

Vi um monte de gente passar pelo Sindicato, conciliar sua vida pessoal com a sindical. Vi vários estudarem e se formarem... Eu sou exagerado e nunca consegui deixar de focar o Sindicato quando havia conflito com minha segunda faculdade (Letras na USP). Foram dez anos deixando a USP de lado nos semestres de campanhas salariais (agora descubro ao pedir o diploma que a faculdade alega que faltou uma merda de matéria do segundo semestre...)

Eis que me peguei nos últimos períodos em meio a um grande conflito entre grupos em disputa de posições e formas de fazer sindical e político nos espaços em que convivo. Nessas coisas sobram pedras pra todo lado... Eis que encerro minha vida no sindicato. Confesso que estou chateado com isso. Este é meu Blog e aqui escrevo o que bem entendo. Dane-se se sou sincero. Vai passar em mais uns dias e vou seguir fazendo bem feito tudo que faço (ao menos tento com gana).

Eu aprendi política no mundo sindical. Depois que aprendi, ensinei política no movimento sindical. Somos todos soldados, aprendizes e professores. É a escola da luta entre capital e trabalho.

Porra! Estou vivendo nestes dez dias aquilo que Freud explicou em seu texto “Luto e Melancolia”. Quando um ser humano perde algo ou alguém, ele tem que viver os dias de luto, para que aquilo não se transforme em algo pior, em uma doença que lhe consuma física e psicologicamente. Eu estou sangrando com as traições que sofri por parte daqueles em quem confiava e com quem tinha compromissos, e tenho que superar as feridas e vou fazê-lo em mais alguns dias. Estarei MAIS FORTE AINDA!

Sabemos que existem alguns parasitas em qualquer local de convívio social. Com esses lidamos bem, porque sabemos. Mas uma das coisas mais sagradas no campo da esquerda é a palavra, é a confiança. Não se trai um companheiro de luta. É por isso que estou em dias de luto profundo para comigo mesmo. Mas eu estarei preparado para continuar defendendo a classe trabalhadora em mais alguns dias. Eu juro a mim mesmo.

Eu sou transparente e isso não vai mudar. A política se faz com hipocrisia, dizem. Eu acredito que a política se faz com coração e eu tenho coração, e sangue, e gana, e tesão de organizar e defender os trabalhadores. Isto ninguém vai me tirar, foi assim que liderei estudantes desde a 5ª série, foi assim sendo síndico de condomínio, foi assim nesses 12 anos de liderança sindical, será assim em qualquer lugar em que eu estiver militando...

Se talvez eu estivesse com as dores nas costas de passar dos quarenta anos e trabalhar umas 18 horas por dia na luta sindical e cuidar pouco de minha saúde: SAREI! 

O recolhimento de dor que estou me impondo nestes dias vai me dar uma força indestrutível para continuar lutando pela classe trabalhadora com a mesma ética e princípios que sempre tive.

AAAHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!

Eu suportei esses doze anos de movimento sindical e vi muita gente ao meu redor quebrar. Se desviar. Eu não vou quebrar!!! Meu luto dura só esta semana do Carnaval.

Eu sou forte! Sou CUT com muito orgulho! Eu jamais farei o que fizeram comigo! Juro que estarei pronto no final destes dias pra derrubar montanhas para lutar pelos meus colegas bancários e pela classe trabalhadora.


Eu juro a mim mesmo!


Post Scriptum (09/1/17):

Que releitura foda! Veio à tona tudo que vivi naquele início de ano de 2014... sigo na luta ainda hoje.


Post Scriptum II (15/10/17):

Releitura. Amanhã vou voltar ao espaço político de onde saí há quase 4 anos para discutir as eleições da Cassi e a possibilidade de eu disponibilizar meu nome para o processo de 2018.

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