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Mães paralelas (2021) |
Refeição Cultural
Ainda o universo de Pedro Almodóvar (IV)
"No hay historia muda. Por mucho que la quemen, por mucho que la rompan, por mucho que la mientan, la historia humana se niega a callarse la boca" (Eduardo Galeano)
As palavras de Galeano estão mais presentes que nunca nos dias atuais, dias de guerras e genocídio. Almodóvar citou essa sabedoria do escritor e pensador uruguaio no filme "Mães paralelas", pois o enredo nos traz as questões inconclusas da Guerra Civil Espanhola e seus milhares de desaparecidos até hoje.
Finalizei mais uma sequência de filmes do espanhol Pedro Almodóvar. Agora conheço 17 filmes do cineasta. Já me tornei um admirador da poética do diretor.
A sequência que vi desta vez inclui filmes mais recentes dele, incluindo "O quarto ao lado" (2024), filme tocante e que nos deixa reflexivos sobre vários aspectos tratados na estória como, por exemplo, amizade, morte e solidão.
O filme "Mães paralelas" (2021) é excepcional! Almodóvar tem grande talento em contar histórias de mulheres que enfrentam cotidianos dramáticos em suas vidas. Nos enredos do diretor, nos pegamos pensando o que faríamos se fôssemos as personagens.
Após ver uma parte da produção cultural do cineasta, o que afirmo é que ainda vou tentar ver os filmes dele que não conheço e rever os filmes que já vi, pois são muito bons.
No link aqui é possível ler uma das postagens anteriores sobre os filmes de Almodóvar. Nela se vai aos outros textos.
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FILMES
Pepi, Luci, Bom e outras garotas de montão (1980) - Direção e roteiro: Pedro Almodóvar. Com: Carmen Maura, Eva Siva e Olvido Gara.
SINOPSE (MUBI):
Na Madri contracultural dos anos 1980, três mulheres embarcam em loucas desventuras. Pepi (Carmen Maura), uma preguiçosa, torna-se um sucesso da noite para o dia no mundo da publicidade. Luci (Eva Siva), uma dona de casa, descobre seu lado masoquista oculto. Bom (Olvido Gara) é a lésbica punk que ensina Luci a encontrar prazer na dor.
COMENTÁRIO:
Achei o filme interessante. Compreende-se melhor as obras do diretor espanhol Pedro Almodóvar ao conhecermos o contexto no qual ele iniciou seus trabalhos autorais de longa-metragem, a Movida Madrileña, e sua proposta de subversão e contestação da antiga ordem estabelecida: o franquismo mancomunado com a igreja católica. Achei o filme divertido. Muito legal ver Carmen Maura no início de sua carreira de atriz.
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Ata-me (1990) - Direção: Pedro Almodóvar. Com Victoria Abril, Antonio Banderas, Julieta Serrano, Rossy de Palma...
SINOPSE (MUBI):
Recém-saído de um hospital psiquiátrico, Ricky tenta seduzir o amor de sua vida: Marina, uma atriz de filmes B. Diante da amnésia dela, Ricky toma medidas extremas e a ata para retomar o romance do passado. Ele está convencido de que é só uma questão de tempo até que sua amada retribua seu afeto.
COMENTÁRIO:
Outro grande filme de Almodóvar, na minha opinião. À medida em que vamos conhecendo a poética do diretor espanhol, vamos compreendendo melhor as estórias que seus filmes contam. Falo a respeito da "poética" de Almodóvar porque sim, as fotografias e cenários de seus filmes são obras de arte.
Nesta estória, Almodóvar nos apresenta um órfão em busca de uma família (como veremos depois em Carne Trêmula, 1997) e uma mulher que ainda não encontrou um porto seguro para ancorar, e vemos personagens que buscam a redenção.
O final surpreende o espectador, como surpreende Carne Trêmula, em relação à questão da redenção.
Gostei! Almodóvar nos faz querer conhecer toda a sua obra! Sigamos na jornada!
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Mães Paralelas (2021) - Direção: Pedro Almodóvar Com: Penélope Cruz, Milena Smit, Israel Elejalde, Rossy de Palma, Julieta Serrano...
SINOPSE (NETFLIX):
Pedro Almodóvar levou duas décadas para criar este drama emocionante, que combina um dilema moral, a solidão da maternidade e o passado sombrio de um país.
COMENTÁRIO:
O enredo do filme tem como pano de fundo as consequências da trágica Guerra Civil Espanhola. Janis Martinez (Penélope Cruz) procura ajuda para encontrar os restos mortais de seu bisavô, morto pelos falangistas de Franco. As feridas da guerra estão presentes até hoje na sociedade espanhola.
Janis conhece na maternidade Ana Manso Ferreras (Milena Smit), uma adolescente que divide o quarto com ela. Ambas têm as filhas no mesmo dia e após a saída do hospital acabam se tornando próximas uma da outra. A partir daí se desenvolve os dramas e dilemas que veremos na estória.
Eu já me tornei um fã dos filmes de Pedro Almodóvar, o cara é muito bom! A história de Janis e Ana é comovente, nos faz pensar e nos coloca no lugar delas em diversos momentos: o que faríamos se fôssemos Janis ou Ana?
As cenas finais do filme deixam a gente arrepiado por minutos...
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Estranha forma de vida (2023) - Direção: Pedro Almodóvar. Com Ethan Hawke e Pedro Pascal.
SINOPSE (MUBI):
Após 25 anos separados, o fazendeiro Silva (Pedro Pascal) atravessa o deserto a cavalo para visitar uma antiga paixão, o xerife Jake (Ethan Hawke). Mas após uma noite de intimidade, recordações e reconciliação, a revelação de que ambos estão ligados a um crime local sugere que o reencontro não foi apenas para matar a saudade.
COMENTÁRIO:
O cenário do filme é espetacular! E adivinhem... Almodóvar rodou o faroeste no famoso Deserto de Tabernas, na Espanha. O local já foi cenário de grandes clássicos do faroeste de Sergio Leone e também é o local onde foi rodado Lawrence da Arábia (1962), Cleópatra (1963) e Conan, o bárbaro (1982). Essas informações são da Wikipedia.
Entre o primeiro filme de Almodóvar que vi, de 1980, e este são 43 anos de evolução na arte da direção por parte do cineasta espanhol. Ao maratonar mais de uma dúzia de filmes de Almodóvar, aprendi a gostar de sua técnica e sua poética.
O diretor nos apresenta personagens e situações que, em geral, incomodam as sociedades estabelecidas e predominantes. Seus personagens são as maiorias tornadas minorias na questão dos direitos, as pessoas situadas fora da padronização estabelecida pelos donos dos poderes constituídos.
Viva Almodóvar, seus filmes e seus personagens!
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O quarto ao lado (2024) - Direção: Pedro Almodóvar - Elenco: Tilda Swinton, Julianne Moore, John Turturro.
SINOPSE (NETFLIX):
O diretor Pedro Almodóvar traz seu estilo sensível e único a esta história repleta de camadas sobre amizade, lembranças e mortalidade.
COMENTÁRIO:
Os filmes de Pedro Almodóvar se tornaram para mim filmes que me fazem refletir sobre as estórias que ele nos conta. Este não foi diferente. Fiquei pensando nas personagens Martha (Swinton) e Ingrid (Moore). Dois grandes seres humanos.
Enquanto refletia, fiquei tentando me colocar no lugar de Martha e depois no lugar de Ingrid. Difícil decidir o que fazer no lugar das duas. São mulheres de muita coragem, de muita ética e com uma cumplicidade com a outra pessoa fora de moda no mundo atual.
Martha se encontra em tratamento de câncer. Foi uma jornalista de sucesso, trabalhou na cobertura de guerras, repórter da linha de frente, do front onde a morte não permite poesia. Agora experimenta a solidão da doença e do rompimento com sua filha, Michelle.
Ingrid é escritora de sucesso. Trabalhou com Martha em uma revista no passado. É público que ela morre de medo da morte, já escreveu sobre isso. Soube durante o lançamento de seu livro que Martha está com câncer e vai rever a amiga depois de muito tempo sem se verem.
Do reencontro entre elas, vai se desenvolver o enredo do filme.
Almodóvar mostrou mais uma vez seu talento em costurar histórias de pessoas comuns de uma forma única. Estou até agora pensando se teria a coragem de fazer o que Martha planeja; se teria a coragem de ser tão amigo de alguém num momento difícil como fez Ingrid. Que mulheres incríveis!
Martha gosta de James Joyce. Ela cita passagens do conto "Os mortos" e isso foi emocionante. Ela fala da neve caindo no cemitério. Eu me lembro da estória, pois já li várias vezes os contos de "Dublinenses" (1914).
Valeu, Pedro Almodóvar! Valeu Tilda Swinton e Julianne Moore!
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COMENTÁRIO FINAL
Sigamos vendo bons filmes e comentando algo que me tenha chamado a atenção ou me feito refletir.
A postagem anterior desta série pode ser lida aqui.
William Mendes
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