quarta-feira, 24 de julho de 2013

LTI - A Linguagem do Terceiro Reich (excertos)



Victor Klemperer (1952). 
Wikipedia
Seguindo na leitura do livro do filólogo judeu alemão Victor Klemperer, publicado em 1947, fico impressionado com o quanto são atuais seus estudos sobre como o nazismo se estabeleceu entre o povo alemão.

CAPÍTULO 1 - LTI

"praças Hitler" e "ruas Göring"

"Os criminosos de guerra estão sendo julgados, os pequenos Pgs (membros menos relevantes do Partido Nazista - Victor observa: linguagem do Quarto Reich!) são afastados de cargos, livros nacional-socialistas estão sendo retirados de circulação, as 'praças Hitler' e as 'ruas Göring' vêm sendo renomeadas. Mas a linguagem do Terceiro Reich sobrevive em muitas expressões típicas, a tal ponto impregnadas que parecem ter-se tornado permanentes na língua alemã". (p. 54)

COMENTÁRIO

No entanto, aqui em São Paulo, Capital e Estado, os logradouros - ruas, praças, pontes - todos ostentam os nomes dos torturadores da ditadura militar brasileira como "Delegado Fleury" torturador e assassino, assassinos "bandeirantes" de índios e negros como "Borba Gato", donos de impérios midiáticos como "Otávio Frias" etc. É impressionante essa cultura paulista de cultuar o que é merda!


Doutrinar via repetição. Evitar a reflexão

"Não, o efeito mais forte não foi provocado por discursos isolados, nem por artigos ou panfletos, cartazes ou bandeiras. O efeito não foi obtido por meio de nada que se tenha sido forçado a registrar com o pensamento ou a percepção conscientes.

O nazismo se embrenhou na carne e no sangue das massas por meio de palavras, expressões e frases impostas pela repetição, milhares de vezes, e aceitas inconsciente e mecanicamente. Costuma-se considerar como meramente estética e inofensiva a citação de Schiller sobre von der gebildeten Sprache, die für dich dichtet und denkt [a língua culta, que poetiza e pensa por ti]. Um verso bem redigido, em uma 'língua culta', não pode ser aceito como prova suficiente da força poética do autor. Em uma língua assim, não é difícil adotar uma aura de poeta ou de pensador". (p. 55)

COMENTÁRIO

Nesta estratégia de doutrinar pela repetição e evitar a reflexão, é inevitável não pensarmos aqui no Brasil da era pós eleição de Lula da Silva (PT) na criação ideológica de frases e expressões usadas ad nauseam pela oposição, pelos adversários do PT e pelos veículos totalitários de comunicação de massa (P.I.G.).

Exemplos claros: "mensalão", "Petismo" mudando o sentido que a palavra tinha nos anos 80 e 90 (de algo positivo para algo negativo), "PeTralhas", dentre outras.


CAPÍTULO 3 - CARACTERÍSTICA PRINCIPAL: POBREZA

Estilo obrigatório na linguagem nazista: vociferar

"O domínio absoluto que esse pequeno grupo - ou melhor, que esse homem - exerceu na normatização da linguagem se estendia por todo o âmbito da língua alemã, levando-se em conta que a LTI não fazia distinção entre linguagem oral e escrita. Para ela, tudo era discurso, arenga, alocução, invocação, incitamento. O estilo do ministro da Propaganda não distinguia a linguagem do discurso e a linguagem dos textos, razão pela qual era tão fácil declamá-los. Deklamieren [declamar] significa literalmente falar alto sem prestar atenção ao que se diz. Vociferar. O estilo obrigatório para todos era berrar como um agitador berra na multidão". (p. 65)


LTI = Invocação

"Se puder se expressar com liberdade, qualquer língua consegue dar conta de todos os anseios humanos. Elas se prestam à razão e ao sentimento, são comunicação, diálogo e monólogo, oração e súplica, ordem e invocação. A LTI só se prestava à invocação". (p. 65)


A ideia da linguagem e pensamentos únicos

"Seria também enganoso se eu dissesse que, em todos os setores, a LTI dirige-se exclusivamente à vontade. Pois quem apela para a vontade, apela sempre para o indivíduo, mesmo que se dirija a uma coletividade, a um público. A LTI pretende privar cada pessoa da sua individualidade, anestesiando as personalidades, fazendo do indivíduo peça de um rebanho conduzido em determinada direção, sem vontade e sem ideias próprias, tornando-o um átomo de uma enorme pedra rolante. A LTI é a linguagem do fanatismo de massas. Dirige-se ao indivíduo - não somente à sua vontade, mas também ao seu pensamento -, é doutrina, ensina os meios de fanatizar e as técnicas de sugestionar as massas". (p. 66)

COMENTÁRIO

Pensando as manifestações de junho de 2013 no Brasil e a frase "fazendo do indivíduo peça de um rebanho conduzido em determinada direção" é evidente que eu me lembro na hora da mídia golpista da elite (P.I.G.) pautando a massa nas ruas. 

Que diabos foi aquilo da "PEC 37" em dezenas de cartazes nas mãos de jovens pelo país afora? Massas reivindicando algo que não tinham a mínima ideia do que era... E deu certo, heim?!

"Uma língua que poetiza e pensa por ti..."


Bibliografia:
KLEMPERER, Victor. LTI - A Linguagem do Terceiro Reich. Editora: Contraponto. 1ª edição, 2009.

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