Estige, o rio do ódio. Desenho de Gustave Doré, 1861. |
Refeição Cultural
O Brasil e o povo brasileiro sempre foram conhecidos por sua hospitalidade e cordialidade em relação aos demais povos e culturas do mundo. Sempre fomos reconhecidos como um povo pacífico. Até nossa Constituição Federal fala da "solução pacífica das controvérsias".
Não vou fazer floreios com os vários períodos de nossa história onde a violência foi a regra entre Casa Grande e Senzala, entre colonizadores e colonizados, senhores e escravos, burguesia branca (com ou sem o apoio dos milicos) versos classe trabalhadora. Essa violência sempre existiu por aqui e continua.
Mas o brasileiro era um povo mais solidário, bom de coração, humilde e menos arrogante. O povo em geral sempre me pareceu tolerante para com os outros.
O ovo da serpente
Fico observando as pessoas ao meu redor e vejo o quanto isso mudou. Eu penso que dois fatores aceleraram essa mudança. Um deles foi o estímulo ao preconceito e ódio ao diferente, catalisado na última campanha presidencial em 2010 por parte de José Serra, principal candidatura opositora à Dilma Rousseff. O outro fator é consequência do advento e rápida expansão da rede mundial e das redes sociais como o facebook.
Após a campanha presidencial de 2010, onde o principal partido de oposição ao Partido dos Trabalhadores abriu a Caixa de Pandora catalisando preconceitos de origem (nordestinos, imigrantes), grupo social (sindicalistas, partidários do PT), orientação sexual (LGBT), direitos sobre o próprio corpo (aborto), preconceitos contra a crença alheia (ateus, evangélicos x umbanda) e criminalização dos movimentos sociais, o Brasil começou a mudar.
O impacto desse estímulo ao fascismo e o ataque aberto ao diferente, essa intolerância e construção de ódio, teve um crescimento exponencial após 2010 e sua expansão foi catapultada pelas facilidades da rede mundial, com sua característica de ser instantânea e "anonymous", pois qualquer pessoa cria um fake e sai dizendo o que pensa e acredita, sem freio algum, o que raramente ocorria nos seios das famílias e nos espaços sociais.
Pior que isso, nossos conhecidos - parentes, amigos, colegas de trabalho - postam, curtem e compartilham o ódio estimulado ao outro. Eu fico horrorizado de ver parentes meus, muitos vieram da miséria, outros têm mais de 60 anos, escrevendo e replicando cada coisa nojenta contra o ex-presidente Lula, um dos maiores estadistas da história mundial, ou coisas chulas contra a presidenta do Brasil. No nível em que estão alimentando o ódio é provável que estas pessoas de aparência muitas vezes meiga se peguem qualquer hora ajudando a linchar um petista em praça pública, um gay, um garoto de rua que virou vítima do crack... Estamos criando monstros e eles estão ao nosso lado...
Sabemos aonde o ódio fascista leva as nações
Hitler conseguiu atingir com eficiência plena sua estratégia de levar a nação alemã a ter ódio mortal aos judeus, pessoas "feias", com algum tipo de deficiência, com gostos "errados" (não nazistas), origens não aceitas pelo Nazismo etc.
Os EUA conseguiram através dos meios de comunicação de massa, em curto espaço de tempo, fazer uma nação que não tinha a menor intenção de voltar ao palco da guerra na Europa (após baixas da 1ª GM) a lutar contra o Nazismo e Fascismo que iam vencendo tudo e todos até meados de 1942.
Nas décadas seguintes, o mesmo EUA conseguiram estabelecer uma cultura em seu povo de ódio aos vermelhos, aos comunistas, através do Macarthismo e da Guerra Fria. Convenceram seu povo a fazer guerra e invadir o mundo todo para lutar pela "liberdade" dos mercados, mãe do capitalismo liberal.
Será que a oposição ao PT achou o caminho?
Talvez a direita brasileira (pequena elite detentora do capital que vive às custas do aparelho do Estado) tenha encontrado o caminho para voltar ao passado iníquo em que o povo viveu por séculos.
Aparentemente, a oposição aos governos Lula da Silva do PT (2003-10) e Dilma Rousseff do PT (2010-2013) encontraram o caminho para interromper os avanços desta década no Brasil em relação a melhorar o país em TODOS os quesitos possíveis.
O Brasil deu um salto de qualidade para o povo brasileiro com mais distribuição de renda, ascensão social, geração de emprego, ressurgimento do aparelho público destruído durante os anos noventa, multiplicação histórica e exponencial do volume de oportunidades de educação pública em todos os níveis com a participação das classes menos favorecidas (pelo regime de cotas, Enem e Prouni) e virou liderança e referência internacional num período de grave crise capitalista mundial.
O que está em andamento no Brasil em 2013 (na verdade começou desde a eleição de Lula e após a chamada crise do "mensalão"), é um Macarthismo e criminalização violenta contra o Partido dos Trabalhadores, contra o movimento sindical e os direitos do trabalho regular, contra os programas sociais que foram fundamentais para o crescimento do emprego e da distribuição da renda, pois o Bolsa Família diminuiu em 30 milhões o exército de reserva de miseráveis tão importante ao capitalismo, fazendo crescer o salário mínimo e os salários das categorias profissionais.
Não sei como essa construção do ódio de classe, ódio ao outro (la otredad), ao diferente vai acabar. Eu tenho pensado que nada será como antes.
Se for possível, vamos fazer política com "P" maiúsculo. Vamos conversar com as pessoas e pedir que façam o debate e respeitem o outro ou ao menos tolerem sem agressão e desejo de morte e extermínio ao outro. Hitler foi parado a tempo, mas quase conseguiu alcançar êxito.
William Mendes
Um cidadão que defende a paz
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