domingo, 22 de maio de 2016

O sentido ou não sentido das coisas



Seriam as flores, os filhotes, as aves e os cristais
pontes entre nossa dureza cotidiana e uma
essência divina fora desta materialidade?

Refeição Cultural

Domingo em Brasília. 11º dia vivendo sob estado de exceção em nosso país, que teve um Golpe de Estado consumado na noite de 11 de maio. As medidas já tomadas contra os direitos sociais por usurpadores provisórios são escabrosas, afetam dezenas de milhões de pessoas que mais precisam do Estado. 

Por outro lado, não vi milhões de vítimas nas ruas tomando de volta as instituições usurpadas e as políticas públicas que lhes beneficiam, não vi trazerem de volta o governo legitimamente eleito, por mais críticas que tenhamos a ele por pusilanimidade nas ações. Vi alguns milhares de pessoas de segmentos de jovens, artistas e intelectuais e mulheres no enfrentamento ao golpe. É bonito, mas muito pouco para recuperar a democracia roubada.

Abri a janela e fiquei alguns minutos observando as árvores e a natureza. Contei vários pássaros diferentes em minutos: joões de barro, mariquitas, bem-te-vis, anus, periquitinhos ou maritacas, beija-flores, pombas, sabiás laranjeira e um belo pica-pau. Em Brasília não é difícil ver a diversidade de aves, flores e plantas do cerrado. Basta olhar com atenção e ver.


As coisas teriam um sentido, um propósito?

Quedei pensando nesta semana no sentido ou não sentido da vida, da existência e das coisas. Essa questão do sentido cutuca o ser humano há milhares de anos. A partir da linha escolhida, ter sentido ou não as coisas, abre-se margem para várias outras consequências.

Se as coisas tiverem sentido, não seria por acaso eu ganhar um livro de presente do amigo Jacy Afonso que aborda o tema ao encontrá-lo no meio de semana em um evento de organização e luta em defesa das empresas públicas e estatais. O livro de Eckhart Tolle - Um Novo Mundo - aborda o tema do autoconhecimento. Estudei isso duas décadas atrás e agora sou presenteado com livro semelhante.


Iluminação e despertar que as flores nos trazem.

O livro em seu início fala de algo que me chamou a atenção. Fala a respeito das flores, dos cristais e pedras preciosas, das aves e dos filhotes de animais, inclusive os humanos, como sendo algo que traz uma ponte com nossa essência por carregar uma inocência ou uma luz que não seria deste mundo material. Eu confesso que passei a observar novamente, faz uns dois anos, de forma mais atenciosa as flores e os pássaros, talvez como um escape ao tipo de vida extenuante que tenho levado.


O documentário me deixou catártico, sem reação, ao me
ligar aos olhares e depoimentos de seres humanos nas
diversas condições e nos variados cantos do mundo.

Ainda no campo dos sentidos, assisti ontem com minha esposa ao documentário Human, um fotógrafo e cinegrafista que correu 65 países e ouviu mais de duas mil pessoas para captar e deixar que o espectador reflita sobre a aventura humana, o que somos, e porque fazemos o que fazemos conosco e com o mundo.

Eu fiquei catártico, parado, deprê, sem ação ao assistir ao documentário. Como aumentou minha reflexão a respeito de ter ou não sentido o que estou, o que estamos fazendo aqui neste mundo.


Filme muito bom deste ator argentino diferenciado.

Por fim, na grande questão de ter ou não sentido a vida e as coisas da vida, assisti ao ótimo filme com Ricardo Darín - Um conto chinês (2011).

De uma forma absurda, um chinês vai parar na Argentina e por puro acaso (ou já havia um sentido nisso) esbarra com o cidadão Roberto, ex combatente da Guerra das Malvinas e que se tornou uma pessoa isolada do mundo e da sociedade. A sequência de eventos do filme e o final é para aumentar mais ainda o nosso dilema se há algum sentido nas coisas ou não, como acreditava o argentino, que colecionava notícias de jornais com fatos inusitados "provando" a ele que nada na vida tinha sentido.

Eu não sei se algum dia vou chegar a uma conclusão se há um sentido nas coisas ou não. Eu não sei se há sentido em eu ter ido parar onde estou hoje, fazendo o que estou fazendo e tendo como consequência tudo o que já houve na minha vida nos últimos dois anos.

Mas sei que independente de haver ou não um sentido na vida ou as coisas serem uma sequência de acasos nas veredas diárias da vida, sei que estou ontem, hoje e amanhã procurando dar o melhor de mim naquilo que me peguei fazendo neste instante.

Bom domingo a tod@s os meus pares da classe trabalhadora.

William

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