domingo, 21 de agosto de 2011

Romaria 2011 - Uberlândia a Água Suja (MG)


"Caminante, no hay camino. Se hace camino al andar" (António Machado)
Minha querida mãezinha Dirce.
Cheguei a Uberlândia MG na quinta-feira 11, a casa de meus queridos pais, para me preparar para a caminhada de uns 75 km até a cidade de Romaria ou Água Suja, no Triângulo Mineiro.
Como ocorre todos os anos, estava bem ansioso para pegar a estrada e cismar sobre várias coisas durante um dia todo enquanto caminhava e recalibrava meus limites físicos e psicológicos.
Preparação para a 
longa caminhada.
Uma das etapas fundamentais antes de sair para caminhadas de dezenas de quilômetros é preparar os pés e acertar o calçado e meia. Neste ano usei o mesmo tênis do ano anterior, pois ele é muito leve, macio e com bom encaixe no formato de meu pé. Um dos segredos mais importantes é preparar os pés com ataduras ou esparadrapos onde você já prevê a ocorrência de bolhas.

Neste ano, saí para a Romaria cerca de 3 horas da tarde de sexta-feira, dia 12. Calculei que andaria umas 20 horas, ou seja, umas 12 noturnas e umas 8 com sol, e que o melhor seria pegar o sol mais fraco, depois das 3 da tarde, e na manhã seguinte, até umas 11 horas.
Sabiam que a mamona 
tem florzinhas vermelhas?
Ipês amarelos 
embelezaram-me o caminho
Mais uma vez, fui sozinho, apesar de haver muita gente na estrada de fora a fora. A paisagem tem belas surpresas como ipês, pássaros vários, cerrado retorcido, misto de verde e marrom. Flores no meio do nada.
Descida para o rio Araguari 
sob o luar que inicia.

Há muitos anos não havia uma lua tão clara como desta vez em que peguei a lua cheia em seu primeiro dia. A noite toda, das 6 da tarde às 6 da manhã, foi como uma tarde. Também foi a primeira vez que a estrada e o acostamento estavam bons – um tapete. Com a lua, reluziam. Não precisei tirar a lanterna da mochila.


Na barraca da Antena, 
3h da manhã.
Havia muitas barracas de ajuda aos romeiros. Acho até que aceitei coisas demais pra comer e a mistura me enjoou o estômago na madrugada.
Andei 75 km em 20 horas e meus pés nunca chegaram tão inteiros após uma romaria. Até agora estou impressionado quando olho para eles. Não têm um vermelhinho de carne amassada. Não têm nada! Eu preciso passar minha técnica para os caminhantes e romeiros, pois o que mais atrapalha um caminhante são as bolhas e os problemas nos pés.
Repito: o que aprendi com a barraca do exército, uns 4 anos atrás, foi que devemos colocar esparadrapos nos locais onde sabemos que aparecem bolhas como os calcanhares e as laterais dos pés, assim como nas plantas dos pés, que cozinham com o calor do asfalto. Acho que, com o passar dos anos, nós também aprendemos a pisar melhor – pelo menos aqueles que são atentos a si mesmos.


Luar sobre o rio Araguari, 18:20h
Até as 3 da manhã, caminhei com muita facilidade. Depois desse horário, bateu um sono terrível e eu penei bastante até umas 7 horas da manhã. Mesmo ouvindo boa música para não ter sonolência (rock), me deu muito frio no fim da madrugada e não conseguia comer nada. Precisei deitar meia hora em uma barraca.


E então... amanheceu!
Nessa fase da caminhada, depois de uns 40 km, é que começamos a buscar energia e superação. É preciso muita força de vontade pra ficar acordado, e com dor no corpo todo pra piorar, para superar o desejo de deitar em algum lugar e dormir.

E vamos seguindo caminhando, caminhando até chegar onde se deve chegar: quando se saí da cidade, se quer chegar ao rio Araguari (15km), depois se quer chegar à barraca de ajuda no fim da subida (26,5km), depois se quer chegar ao posto N. Sra. da Guia (36km), depois à barraca da Antena (47km), depois ao posto Sta. Fé (59,5km), depois ao Atalho (66km), depois à cidade e ao fim da romaria (74km).

São 9h e o Atalho marca a última fase. 
São mais 8km até a cidade.

O tempo vai passando. Se, por um lado, a nossa energia já não é mais a mesma que na juventude, por outro, aprendemos a lidar conosco melhor do que antes.

Córrego que marca a última etapa de verdade. 
Agora faltam 3km e uma subida sem fim.

Houve um momento, depois que cheguei e estava esperando um ônibus para voltar para Uberlândia, que passei mal – acho que por ficar umas 30 horas sem dormir e por falta de glicose no sangue -. Fiz um esforço tremendo para não desmaiar. Quando escureceu a vista e eu senti que ia apagar, fiz um esforço tremendo para voltar e ficar consciente. Funcionou.

O objetivo de todos: 
cada um, um motivo.
Apesar de ser uma caminhada cansativa, consegui bater algumas fotos da paisagem da estrada como vocês puderam ver neste post – sequidão e flores.
Mais um ano, mais um teste de perseverança e de renovação de energia.
Seguimos caminhando...

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