sábado, 6 de agosto de 2011

Leituras de economia - Alguns aspectos do conhecimento econômico


"Ler para viver" (Flaubert)
 Rossetti inicia seu livro - Introdução à Economia -, nos anos 90, falando de um binômio "perplexidade-incerteza" relativo a décadas acumuladas de problemas persistentes como, por exemplo, desnível de desenvolvimento econômico entre as nações do Norte e do Sul, tamanho da população mundial, maior atenção em questões ambientais e recursos naturais, fim do bloco soviético e queda do Muro de Berlim.

Também falava em "mudanças promissoras" lá nos anos 90, claramente se referindo à certa vitória do regime capitalista de mercado em relação ao socialista de Estado. Para isso, cita as reformas modernizadoras na China Continental a partir de 1979, cita a abertura liberalizante (glasnost) e a reestruturação econômica (perestroika) da CEI, ex-URSS e o fim da Cortina de Ferro e a queda do Muro de Berlim.

Mais adiante, num item que fala sobre o crescente interesse pela economia, tem uma citação legal de um economista dos anos 70 que diz o seguinte:

"Será que o homem desceu das árvores, aprendeu a andar e a conquistar até o núcleo do átomo, para chegar, afinal, à conclusão de que não é capaz de controlar a estabilidade dos preços?" p.32(Samuelson, Paul Anthony. Introdução à análise econômica. RJ, AGIR, 1975)


A ECONOMIA E O ENFOQUE MULTIDISCIPLINAR

A Economia e a Política: "A organização política e a organização econômica tornam-se interdependentes: a ação econômica subordina-se à estrutura política da sociedade, geralmente determinada por certo grupo de dominação, enquanto a ação do grupo de dominação política se encontra muitas vezes subordinada à estrutura dos centros de disposição do poder econômico" p.39

Outra citação conclui esta ligação: "Também em termos conjunturais, a interligação é bastante clara: em qualquer sociedade, a instabilidade econômica conduz fatalmente à instabilidade das instituições políticas. Reciprocamente, o bom desempenho econômico alinha-se entre os fatores essenciais que condicionam a estabilidade dos centros de disposição do poder político" p.40


A Economia e a Sociologia: "Em seu Cours d'Économie Politique, de 1828, Jean Baptiste Say, um dos mais notáveis teóricos da Economia na França, argumentaria que o desenvolvimento das Ciências Econômicas estaria subordinado à investigação que os economistas deveriam empreender sobre as inter-relações e a coesão existentes entre as várias partes do sistema social. Tal argumentação implicaria a redução das distâncias entre a Sociologia e a Economia" p.40

E conclui: "Os economistas contemporâneos não desconhecem que os móveis psicológicos, de natureza subjetiva, tão importantes como os fatores objetivos condicionantes da atividade econômica, são determinados por vários conjuntos de relações sociais, cuja análise interessa diretamente à Economia, embora constituam o próprio objeto da Sociologia, a ciência particular do social" p.41


A Economia e a História: "Assim, embora não se possa afirmar que a pesquisa histórica seja a principal fonte da Análise Econômica, deve-se reconhecer que a Economia é altamente auxiliada pela História, principalmente porque o economista precisa acompanhar, no dia-a-dia, as rápidas transformações culturais que estão marcando as civilizações do Ocidente e do Oriente. Mais que isto, como bem observa M. Niveau, 'o economista deve apoiar-se na História, não somente para nela descobrir o passado, mas também para melhor compreender o presente e antecipar o futuro" p.42


A Economia e a Geografia: "Devido às vocações naturais e á diversidade tipológica dos recursos das várias regiões, são relativamente poucos, em relação ao conjunto da fenomenologia econômica, os fenômenos que não possuem características regionais, ou, mais precisamente, espaciais. O problema econômico fundamental do homem, que se traduz pela luta contra a escassez, é evidentemente o mesmo tanto nas aldeias primitivas do Sudeste Asiático quanto nas sofisticadas metrópoles da Europa Ocidental" p.43


A Economia e o Direito: poderia resumir com esta parte: "Com a substituição do franco-liberalismo pela ordem econômica orientada ou dirigida pelo setor governamental (após a Grande Depressão dos anos 30 e a Segunda Grande Guerra), ampliou-se a produção legislativa referente às atividades econômicas. E isto fez com que o conhecimento econômico e o conhecimento jurídico abandonassem as velhas concepções que os mantinham afastados, para então estreitarem as relações de interdependência que atualmente os caracterizam" p.44

COMENTÁRIO:
É LÓGICO QUE, APÓS O LIVRO AFIRMAR ISSO (MAIOR REGULAÇÃO DO ESTADO DE 30 A 80), NO INÍCIO DOS ANOS 90 NÓS TERÍAMOS UM APROFUNDAMENTO DAS DESREGULAMENTAÇÕES DO ESTADO EM RELAÇÃO À ECONOMIA E À CIRANDA FINANCEIRA COM BUSH PAI, BILL CLINTON, BUSH FILHO, O NEOLIBERALISMO PÓS-COLLOR E FHC NO BRASIL ETC. ESSA TRAGÉDIA TODA FOI MONTADA NOS ANOS 90 E 2000 E ESTOUROU EM CRISE MUNDIAL EM 2008 E HÁ PREVISÕES DE QUE A CRISE VINDOURA SERÁ MUITO MAIOR E COM CONSEQUÊNCIAS TERRÍVEIS PARA O PLANETA.


It's the economy, stupid!

O autor conclui o capítulo assim:

"Em síntese, pode-se inferir que as interfaces da economia com outros ramos das ciências sociais decorrem de que as relações humanas e os problemas nelas implícitos ou delas decorrentes não são facilmente separáveis segundo níveis de referência rigorosamente pré-classificados. O referencial econômico deve ser visto apenas como uma abstração útil, para que se analisem aspectos específicos da luta humana pela sobrevivência, prosperidade, bem-estar individual e bem-comum. Ocorre, todavia, que essa mesma luta não se esgota no nível do que se convencionou chamar de relações econômicas. Vai muito além, abrangendo aspectos que dizem respeito à postura ético-religiosa, às formas de organização política, aos modos de relacionamento social, à estruturação da ordem jurídica, aos padrões das conquistas tecnológicas, às limitações impostas pelas condições do meio ambiente e, mais abrangentemente, à formação cultural da sociedade"

Bibliografia:
ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 16a edição, Editora Atlas SA, 1994.

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