Pôster do filme. |
Refeição Cultural
Qual história você prefere?
Uma família de um dono de um zoológico localizado em Pondicherry, na Índia, decide se mudar para o Canadá, viajando a bordo de um imenso cargueiro. Quando o navio naufraga, Pi consegue sobreviver em um barco salva-vidas. Perdido em meio ao oceano Pacífico, ele precisa dividir o pouco espaço disponível com uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre de bengala chamado Richard Parker. (filme dirigido por Ang Lee, baseado em livro de Yann Martel)
(Aviso: o
texto todo revela partes do filme)
Sinopse (Wikipedia)
Uma família de um dono de um zoológico localizado em Pondicherry, na Índia, decide se mudar para o Canadá, viajando a bordo de um imenso cargueiro. Quando o navio naufraga, Pi consegue sobreviver em um barco salva-vidas. Perdido em meio ao oceano Pacífico, ele precisa dividir o pouco espaço disponível com uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre de bengala chamado Richard Parker. (filme dirigido por Ang Lee, baseado em livro de Yann Martel)
Introdução
A vida de Pi (acho mais apropriado o nome
português que o brasileiro) é um filme com belas imagens, belíssimas para ser
sincero.
Eu achei o
filme cansativo. Acredito que possa ser uma sensação psicológica relacionada ao
enredo, haja vista que o telespectador acaba se envolvendo com a história e,
francamente, passar quase um ano perdido no meio do oceano cansaria qualquer
um.
Feita a
observação sobre a beleza e o cansaço, vamos ao meu comentário e à minha
resposta sobre qual história eu prefiro como pergunta Pi ao entrevistador ao
final do filme.
Busca por respostas no sagrado
Assim como
Pi, passei boa parte da minha vida buscando respostas nas religiões e na fé
para o sentido da vida humana e das coisas em si.
Minha curiosidade
filosófica me fez crescer católico por influência dos pais, depois ir buscar
respostas no espiritismo, na umbanda, na gnose e nos livros em geral – na leitura.
O garoto Pi conciliou em sua busca o hinduísmo, o cristianismo e o islamismo. O
mundo poderia ter centenas de deuses, poderia ter tido o próprio filho de um
único Deus, que poderia inclusive ser chamado de vários nomes como, por
exemplo, Alá.
Quando cheguei
perto dos trinta anos, eu havia me tornado um ateu e não vi mais sentido algum
em respostas esotéricas e metafísicas. Passei a viver em um mundo com visão
completamente materialista e baseada nesta única e exclusiva existência minha e
de todas as coisas no universo. Claro que eu e tudo permanecemos aqui, vamos e
voltamos na forma de átomos.
O entrevistador
de Pi lhe diz que o procurou para ouvir sua história e para que Pi o fizesse
acreditar em Deus.
As duas histórias a escolher
1- O navio
naufraga, sobram em um bote o garoto, o cozinheiro que destratou a família dele
por eles serem vegetarianos, a mãe do garoto e o marinheiro asiático bonzinho
que comia arroz com molho.
O cozinheiro
mata primeiro o marinheiro com a perna ferida, usa ele como isca de peixe e pratica
canibalismo. De forma horrenda, mata a mãe do garoto.
O garoto, de
forma heroica e com uma fúria animal, consegue matar o cozinheiro. Daí adiante,
ele fica por sua conta em alto mar por muitos meses.
2- O navio
naufraga, sobram em um bote o garoto, um tigre de bengala, uma hiena, um
orangotango e uma zebra.
A hiena
mata primeiro a zebra com a perna ferida; depois mata o orangotango com uma
mordida fatal no pescoço. O garoto que ia pendurado mais pra fora que pra
dentro do bote seria a próxima refeição da hiena. Aparece então o tigre de
bengala, escondido no bote e mata a hiena.
A partir
daí, garoto e tigre (de nome Richard Parker) passam meses perdidos no mar, duelam entre si na disputa pela
sobrevivência, um tentando estabelecer o seu território em relação ao outro. Nos
momentos de quase morte, homem e fera se compadecem juntos. O homem passa a
alimentar a fera, por entender que dependia dela para sobreviver...
A história que escolhi
Ao final,
Pi pergunta ao entrevistador qual história ele escolheria. O filme inteiro
mostra a história do tigre de bengala. A outra versão, mais humana e mais sanguinária,
foi contada rapidamente após a primeira. O entrevistador escolheu a história do
tigre de bengala e Pi lhe mostra que com Deus é a mesma coisa.
Na minha leitura,
Pi utiliza a questão da fé e das religiões de forma brilhante para conformar a
sua história trágica.
A religião
e a fé são criações do homem para dar uma conformação à natureza trágica da
vida no mundo. O homem é o único animal que pensa e que sabe sobre a morte,
sobre a solidão e sobre a sua fraqueza e insignificância perante o universo e a
própria vida no planeta Terra com quase cinco bilhões de anos.
Para sobreviver
e estar ali, Pi precisou domar a sua natureza humana animal, matar, comer
animais mortos, e fazer tudo que qualquer animal faz instintivamente para
sobreviver.
O filme dá
várias dicas sobre isso. Vou ficar somente com as metáforas do tigre.
O tigre não
é amigo do homem. Ao olhar para o tigre, o garoto só veria um reflexo de si
mesmo. Mas não olhe muito e se arrisque tanto porque você pode ver o tigre que
existe em você.
O cozinheiro
despertou o tigre que existia no garoto. Ele libertou a fera. Na verdade, já na
água garoto e tigre são um só. Após matar o cozinheiro, outros desafios viriam.
Aquele garoto jamais sobreviveria se não permitisse a sua natureza de tigre. Matar e
comer carne era preciso. A cena do peixe morto a pancadas e o choro do garoto é
um grande momento. Era preciso alimentar o seu tigre para sobreviver. Depois foi
preciso domar seu tigre para acompanhá-lo na empreitada pela vida.
Ao final, a
cena mais comovente do filme: em terra, quase morto de fome, o tigre vai embora
sem olhar para trás. Justo agora que o garoto poderia se “despedir” de seu tigre e
recuperar parte de sua natureza anterior...
Mas não existe despedida ou aceno final para a fera que existe dentro de nós. Somos animais. Por isso,
o tigre de bengala não olha para trás. O tigre está lá ainda, dentro de Pi.
Deus, segue sendo a melhor conformação do mundo e explicação para as coisas da existência
trágica, como também da perfeição das coisas da existência do universo.
Comentário final
O filme me
valeu ao menos para essas várias horas de reflexão sobre fé, religião, coisas
da vida material, escolhas, idas e vindas, das feras que habitam em nós.
Como diz
o ditado: todo burrinho pedrês tem um corcel, um cavalo selvagem dentro de si.
É isso!
William
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Post Scriptum (26/5/16, quinta-feira de feriado):
Revi o filme na virada da madrugada. Havia acabado de chegar de uma viagem a trabalho de três dias em Curitiba, Paraná.
Nosso país vive, faz alguns dias, um Golpe de Estado. Afastaram a presidenta Dilma Rousseff e assumiu um bando de corruptos e canalhas. Em menos de duas semanas, estão destruindo quase três décadas de conquistas sociais do povo brasileiro.
Ao ver o filme e reler minhas reflexões nesta postagem, fiquei pensando novamente em nossa fera interior, para nos dar o instinto de sobrevivência nos tempos e condições de calamidade.
A minha fera está comigo, nunca me abandonou.
---
Post Scriptum (26/5/16, quinta-feira de feriado):
Revi o filme na virada da madrugada. Havia acabado de chegar de uma viagem a trabalho de três dias em Curitiba, Paraná.
Nosso país vive, faz alguns dias, um Golpe de Estado. Afastaram a presidenta Dilma Rousseff e assumiu um bando de corruptos e canalhas. Em menos de duas semanas, estão destruindo quase três décadas de conquistas sociais do povo brasileiro.
Ao ver o filme e reler minhas reflexões nesta postagem, fiquei pensando novamente em nossa fera interior, para nos dar o instinto de sobrevivência nos tempos e condições de calamidade.
A minha fera está comigo, nunca me abandonou.
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4 comentários:
William gostei da sua interpretação e opinião sobre o filme que assistimos. Mas realmente um filme para se refletir muito e tentar decifrar sua mensagem. Muito bom!!!! Bjinhos/Noni.
Lindo texto! Honesto e coerente as palavras descritas pelo autor. Realmente, PI nos deixa refletir por horas...dias...
Parabéns e valeu pelo ditado, que já diz tudo!
Lorena.
Lindo texto! Honesto e coerente as palavras descritas pelo autor. Realmente, PI nos deixa refletir por horas...dias...
Parabéns e valeu pelo ditado que já diz tudo!
Lorena.
Oi Lorena, tudo bem com você? Espero que sim.
Sabe, ao liberar seu comentário, fui reler novamente o texto e acabei chorando...
A metáfora da história nos faz pensar muito na vida e nas dificuldades da vida que temos que enfrentar e vencer todos os dias, às vezes, inclusive, libertando o tigre que há dentro de nós.
Abraços, William
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