Personagem John J. Rambo. Imagem do primeiro filme 1982. |
John J. Rambo, O Personagem
William Mendes
REFEIÇÃO CULTURAL – SOMOS O QUE
SOMOS
10/01/13
INTRODUÇÃO
CONTRA ESTEREÓTIPOS
Começo este
texto explicitando que eu detesto estereótipos e desde que adquiri um pouco
mais de conhecimento com a idade adulta, passei a me vigiar para não me pegar
utilizando de estereótipos para desqualificar pessoas e/ou coisas e reduzir
e/ou eliminar um bom debate com uma saída clássica de utilizar uma imagem ou
conceito estereotipado. Via de regra, isso é feito com frequência por pessoas
que se consideram melhores que as outras.
Feito esse
alerta, comento com tranquilidade o personagem Rambo. Como estou em férias,
estou assistindo e lendo tudo quanto é coisa. Muitas dessas coisas vêm ao sabor do dia.
Ou porque fucei na estante, ou porque reli meu blog ou porque deu vontade de
ver, ler, ouvir algo ao olhar para o horizonte a partir da janela de meu
apartamento.
A vista de meu horizonte, a partir da sacada de meu apartamento. |
Certos
livros, personagens e coisas dos anos setenta e oitenta poderiam ser
consideradas vulgares e fúteis hoje pela geração anos noventa e dois mil. Só tem
um problema: nada mudou em relação aos enlatados do mundo do entretenimento
nessas décadas todas.
Os “Conan”,
“Rocky”, “Rambo”, “Braddock” de ontem são os “Van Diesel”, “Jason Stathan”, os
“Marvel” de hoje, que sozinhos salvam o mundo; os livros do Stephen King, do
Morris West e outros do tipo “Best Sellers” são os livros de vampiros de hoje
que vendem milhões para os atuais “jovens” até 35 anos; aliás, os vampiros só
fizeram piorar, pois eles não morrem com luz, dão beijo na boca e se apaixonam;
quem pode falar mal dos romances “Sabrina” que as meninas liam nos oitenta?
Qual a diferença daqueles para todos os “tons” que vendem agora?
Vamos fazer
uns comentários sobre o personagem John Rambo e os quatro filmes da série. Os
três primeiros filmes relembram a minha adolescência e os tempos duros da gente
de quarenta e cinquenta anos que precisava trabalhar desde os dez ou onze anos
para comer e ter alguma coisa em casa.
Hoje as
crianças brasileiras perdem os amigos vizinhos porque a família comprou o
segundo apartamento ou casa ou então comprou uma residência maior e melhor.
(Que bom!)
Nos anos
oitenta e noventa a gente mudava todo ano porque o aluguel ficava impossível de
pagar com o salário baixo e vivíamos pra lá e pra cá. Era uma merda e uma
miséria só. Foi nesse Brasil que eu e milhões de quarentões da classe
trabalhadora crescemos.
Creio que
personagens ficcionais duram décadas porque de alguma forma espelham ou
realidades de pessoas e/ou sociedades, ou porque espelham imaginários populares
ou também de sociedades.
Cartaz do primeiro filme, 1982. |
RAMBO, PROGRAMADO PARA MATAR – 1982 (First Blood)
Este é o
melhor dos filmes da série, na minha opinião. A história tem verossimilhança no
que diz respeito ao tratamento que foi e é dado aos ex-combatentes
norte-americanos.
Os Estados
Unidos insistiram em uma guerra no Vietnã entre os anos sessenta e setenta que só
fez vitimar os povos de lá e os soldados americanos. Foi uma carnificina geral.
Neste
primeiro filme, não tem como não simpatizar e torcer para que Rambo detone os policiais
que o torturaram na cadeia. Infelizmente, essa é a coisa mais comum em qualquer
departamento de polícia do mundo: espancarem cidadãos inocentes ou bandidos.
A fala
final de Rambo é comovente. Na guerra, os soldados lidam com armamentos e
veículos de milhões de dólares e quando voltam a ser civis não lhes dão emprego
nem de guardadores de carros. Sem contar ele descrevendo a cena do aeroporto na
volta do Vietnã, com as pessoas xingando os soldados de assassinos.
É um filme
que aborda a questão dos traumas da guerra e das consequências dela para os
ex-soldados e para o país que não sabe o que fazer com cidadãos que foram
transformados em pessoas treinadas para matar outras pessoas.
Cartaz do 2º filme, 1985. |
RAMBO II, A
MISSÃO - 1985 (Rambo: First Blood part II)
Nesta
sequência da série, o ex-boina verde Rambo parte em uma missão ao Vietnã, para
procurar prisioneiros de guerra americanos ainda em poder dos vietnamitas.
A ação da
estória também se passa em 1985 e o filme conta com toda aquela construção
ideológica americana de que os inimigos são do mal e fazem barbaridades e eles
americanos são os melhores sujeitos do Planeta.
Eu era um
trabalhador braçal adolescente quando o filme foi feito e lançado. Revendo-o
nos dias atuais, fico imaginando o que Mikhail Gorbachev e os soviéticos
acharam da sacanagem de um filme de guerra norte-americano colocar os russos ao
lado dos vietnamitas em plena era da Glasnost e Perestroika, torturando soldado
americano com choque elétrico, facas incandescentes etc. Deve ter sido uma
ofensa à inteligência da pequena parcela melhor informada de telespectadores e
cinéfilos.
O TRAUMA DOS PRISIONEIROS DE GUERRA
AMERICANOS
Eu não
sabia disso. Pesquisando um pouco na Wikipedia sobre a história do conflito e a
questão dos prisioneiros de guerra norte-americanos (Vietnam War POWS/MIA
issue, ou seja, prisioners of war e missing in action), foi possível entender o
rebuliço que o filme Rambo II causou nos Estados Unidos.
O povo
americano tem ainda hoje um verdadeiro trauma e toda uma cultura alimentada
pelas famílias de mais de mil soldados que foram considerados mortos ou
desaparecidos na guerra sem os corpos retornarem. Houve até comissões
investigando o caso. Uma grande parte dos desaparecidos seria da brigada de
paraquedistas e não se sabe se morreram em combate ou aos montes ao saltarem
dos aviões.
(Interessante, porque até isso acontece com Rambo quando tenta saltar a baixa altitude do avião no filme...)
Só nos anos
noventa é que Estados Unidos e Vietnã finalizaram os acordos sobre a questão
dos prisioneiros.
Julia Nickson no filme Rambo II, 1985. |
MELHORES
MOMENTOS: Finalizando o comentário sobre o filme, uma das melhores partes é
durante a presença da bela Julia Nickson que interpreta a agente vietnamita Co
Bao.
Também é o
maior barato quando o soldado sacaneado Rambo (sob tortura) fala pelo rádio com
o marechal Murdock (que o deixou lá) com toda a raiva do mundo dizendo: “Murdock,
Murdock, estou indo pegá-lo!”.
Cartaz do 3º filme, 1988. |
RAMBO III – 1988 (Rambo III)
Se já era
um absurdo colocar os soviéticos como maníacos sanguinários em 1985 no segundo
filme da série, imaginem neste em 1988.
Pesquisando
um pouco sobre a invasão soviética no Afeganistão, entre 1979 e 1989, foi
possível ver que realmente as maldades e massacres de civis ocorreram, como
usam ocorrer em qualquer porcaria de guerra.
Como os
soviéticos tinham muita dificuldade para enfrentar em solo e nas cavernas do
deserto os afegãos guerrilheiros mujahedin, a maneira de obter vantagem
momentânea durante a década de guerra era bombardear as cidades e os
acampamentos afegãos.
OBSERVAÇÃO: Fui
adolescente durante a década de oitenta, período final da chamada guerra fria
entre o lado capitalista do mundo e o lado comunista. Tenho vagas lembranças do
período.
Comparando
o filme do Rambo III nos anos oitenta em missão “humanitária” no Oriente e um filme
atual como “Mercenários” (2010), ainda prefiro o dos anos oitenta.
É isso.
DETALHE:
Assisti aos três filmes do Rambo em videocassete com fitas VHS gravadas há mais
de dez anos. É mole como sou antiquado? Como costumo dizer, as fitas serviram
para aquilo que são. Vi os filmes normalmente.
Cartaz do 4º filme, 2008. |
RAMBO IV – 2008 (John Rambo)
Quando
assisti a esse filme no ano do lançamento, foi mais porque havia visto antes o
bom fechamento que Stallone deu à série Rocky, em 2006.
Uma coisa
no filme Rambo IV me chamou a atenção: o quanto aumentou o poder letal das armas de
guerra manuseadas pelos exércitos, paraexércitos, mercenários e bandidos em
geral.
Diferente
do esforço do Rambo III, que buscou dar verossimilhança ao enredo sobre a
invasão soviética no Afeganistão, não encontrei nada sobre massacres parecidos
ao que o filme retrata naquele país, atual República da União de Myanmar. Não
estou dizendo com isso que não possa ter ocorrido. Eu não encontrei informação a
respeito. Deve ser só ficção do enredo mesmo.
Era uma
ditadura de fato que governava Myanmar na época em que o filme foi rodado, mas
aparentemente com o mesmo grau repulsivo de violência que toda ditadura tem.
Aliás, violência muito semelhante à praticada pelos americanos nos países onde
eles invadem.
REFLEXÕES FINAIS
COMO PROTEGER E SALVAR AS VIDAS
HUMANAS? COM PRECE? NA BALA? NA DIPLOMACIA?
Chamou
minha atenção no quarto filme (2008) o debate entre Rambo e os missionários quando eles foram
contratá-lo para levá-los pelo Rio Salween até as aldeias que estavam sofrendo massacres.
Rambo pergunta com que armamento os transmissores da palavra de deus estão indo
para a região que sofre genocídio e execuções em massa. Eles dizem que são
contra armas e contra violência.
Fala sério!
Tá na cara que quem pratica atrocidades está pouco se lixando para palavra de
deuses ou pacifistas. Ontem e hoje, matar pessoas e tirar a vida humana se
tornou algo tão banal que não sabemos onde vamos parar. Os valores das
sociedades capitalistas e do dinheiro e das coisas materiais chegou num ponto
que será preciso uma grande inversão de valores para a vida em sociedade continuar no
planeta. Aliás, o pouco valor da vida foi o mesmo nas ditaduras de Stalin e outras por aí. (o lugar-comum é só falar das ditaduras de direita e fascistas como as de Hitler e Mussolini)
O pior de
tudo é que não estou vendo nos jovens com suas caras enfiadas nas redes e nos
jogos, com seus fones de ouvido, uma chama de mudança voltando a dar valor à
vida humana. Parece que a vida humana é igual às vidas nos videogames.
A foice e o martelo. Símbolo de revoluções proletárias no mundo. |
OS TRABALHADORES TERIAM ARMAMENTO
PARA A REVOLUÇÃO?
Nos anos
oitenta, eu era adolescente e o mundo era completamente diferente do que é hoje
nos anos dois mil do século XXI. Hoje sou sindicalista, eleito pelos
trabalhadores e tenho muito mais consciência política do que nos anos oitenta.
Lembro-me
de um debate que travei com um companheiro do PSTU em uma assembleia dos
bancários em 2008 ou 2009. Falávamos sobre as possibilidades reais de
revoluções socialistas como foram aquelas na Rússia, na China e em Cuba nas
décadas primeiras do século XX.
Na minha
tese, que fica mais evidente à medida que vejo o quanto avança o poder de morte
e destruição das armas em poder dos capitalistas, seria muito difícil a tomada
de poder da classe trabalhadora através de revolução armada.
Cada dia
que passa, fica mais desproporcional o poder de fogo e destruição de quem é
financiado pelo capital e de quem quer se insurgir contra os exércitos do
capital. Hoje, os Estados Unidos vivem em função dessas empresas de guerra.
A hora que
eles virarem suas miras contra nós latino-americanos, por exemplo, fodeu!
Não
há exército nenhum aqui para proteger nossas águas, terras, petróleo, nações e povos contra invasões dos americanos imperialistas.
De que valem
organizações como ONU, OEA, OTAM, OIT etc? Nada!
O MUNDO E OS GRUPOS PRECISAM DE
PESSOAS COM ALGO A MAIS
Na verdade,
apesar da história das sociedades e das mudanças sociais passarem por grandes
eventos a envolverem as massas e grandes contingentes humanos, as decisões e os
rumos dos acontecimentos partiram e partem de pessoas ou pequenos grupos.
É aí que
fazem diferença aqueles que têm um algo a mais, seja para a direita, seja para
a esquerda, seja a favor do status quo,
seja contrário a ele.
Olhemos para
trás e olhemos ao nosso redor. Quando um lado da batalha entre campos
ideológicos antagônicos está melhor, faltam lideranças e pessoas com algo a
mais do outro lado. E quando a coisa se inverte, idem.
Segue sendo
uma missão de qualquer grupo, identificar e preparar pessoas para serem grandes
líderes e terem algo a mais que possa fazer a diferença nos momentos mais
decisivos da vida e da história. É preciso dar base sólida a grandes homens e
mulheres. É preciso que se tenham princípios sólidos que não caiam com a dor e o
risco de morte.
Nós da
esquerda estamos fazendo isso para mudar e salvar o mundo da destruição total
em andamento através do capitalismo voraz e do fetiche da matéria e consumismo?
Creio que
não. Faltam muitos líderes como... (eu ia citar alguns líderes, mas deixo por conta de cada um
elencar os seus).
É isso. Já
refleti bastante pra mim mesmo em meu blog após assistir aos quatro filmes sobre
o personagem John J. Rambo.
Valeu a diversão e as pesquisas que fiz...
William Mendes
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